Dirigido por Mara Mourão, Muito Além do Lucro é um documentário denso e exaustivo sobre o capitalismo consciente e seus impactos no segundo setor da economia.
Em determinado momento do documentário, Muito Além do Lucro discute como a atual geração será responsável por criar novos modelos de convivência global, já que não existe mais um inimigo externo, como o “fantasma vermelho” da Guerra Fria, que legitimava o capitalismo como sistema hegemônico, e a soberania dos EUA como símbolo de um livre mercado que acreditava-se ser o melhor modelo econômico.
Hoje, com maior consciência dos efeitos nocivos de um modelo que coloca o lucro acima de vidas humanas e do próprio bem estar do planeta, as novas gerações assumem a responsabilidade de “salvar o mundo”. Esse é o principal objetivo de Mourão: aproximar conceitos técnicos, exemplificar as principais ideais do sistema capitalista clássico, como livre mercado, a mão invisível de Adam Smith, para enfim chegar em uma nova espécie de modelo econômico que é o “capitalismo consciente”, transmitindo este conceito para uma audiência que necessita refletir sobre alternativas econômicas e colocá-las em prática não somente em seu local de trabalho, mas também em seu dia a dia.

Cena de Muito Além do Lucro- Crédito Mamo Filmes
O documentário reúne entrevistas com 29 líderes e pensadores, entre políticos e executivos de grandes corporações, para explorar visões de negócios mais empáticas e humanistas, que busquem conciliar lucro e regeneração. Como afirma a diretora: “O filme nasceu do desejo de mostrar que outra economia é possível, uma economia que alia retorno e regeneração”, sendo uma proposta reforçada pela montagem paralela que mostra a rotina de um trabalhador do setor terciário que entrega comida por toda SP, enquanto observa em primeira mão estes mundos tão díspares economicamente.
A obra intercala informações densas sobre a contemporaneidade com imagens alegóricas, desde trechos de filmes de Charlie Chaplin e O Encouraçado Potemkin (1925, Serguei Eisenstein), até metáforas visuais como plantas carnívoras que representam o sistema capitalista. Este recurso de analogias, e inevitável humor, alivia momentaneamente o peso das reflexões, mas o tom permanece exigente e, por vezes, desgastante para o espectador médio. Neste sentido, Muito Além do Lucro enfrenta um problema semelhante à Picasso – Um Rebelde em Paris (2025, Simona Risa), também da Autoral Filmes: a densidade excessiva compromete a fruição da obra.
O maior mérito de Muito Além do Lucro está na habilidade de traduzir visualmente conceitos complexos sem perder ritmo, graças à montagem ágil de Marco Korodi, que alterna momentos de humor e experimentações estéticas, como o stop motion na abertura, com informações e dados que exigem atenção do espectador e leva a um sentimento que ao mesmo tempo reconforta e assusta ao enxergarmos o futuro. No entanto, a repetição de argumentos, com entrevistados que ora defendem, ora rejeitam a ideia de um “setor econômico 2.5”, entre outras opiniões que não são unânimes, originam um movimento de vaivém que pode cansar o público.

Cena de Muito Além do Lucro- Crédito Mamo Filmes
Muito Além do Lucro será futuramente adaptado em série por Mara Mourão como uma espécie de versão estendida do longa metragem, ampliando a relevância do debate, e serve também como complemento ao livro homônimo de James Marins, lançado pela Editora Voo durante a pré-estreia em São Paulo, no Cine Marquise, em 25 de setembro.
Distribuído pela Autoral Filmes, o documentário Muito Além do Lucro estreia nos cinemas no dia 2 de outubro.
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