Dirigido por Hallie Meyers-Shyer, Pai do Ano é um filme que não promete revoluções, mas oferece um abraço caloroso
Entre tantos filmes confortáveis que marcaram as décadas de 1980 e 1990, há um que sempre me vem à mente: Melhor É Impossível (1997, James L. Brooks). Além de apresentar uma das melhores performances da carreira de Jack Nicholson, o longa traz uma versão belíssima de Always Look On The Bright Side Of Life (1979, Monty Python), interpretada por Art Garfunkel. Canção, originalmente irônica em A Vida de Brian (1980), ganha em Brooks uma dimensão quase espiritual, resumindo a jornada de um homem que aprende a se abrir para o mundo, e ao terminar Pai do Ano, essa lembrança me veio imediatamente, e eu sorri.
Pai do Ano traz Michael Keaton no papel de Andy Goodrich, um curador de galeria de arte que vive para o trabalho e pouco se envolve com a família. Sua vida muda abruptamente quando sua esposa é internada em uma clínica de reabilitação, deixando-o responsável pelos filhos gêmeos. Desesperado, pede ajuda à filha mais velha, Grace, Mila Kunis, com quem mantém uma relação fria e distante. Essa convivência forçada se torna o catalisador de um reencontro emocional entre os dois, revelando mágoas antigas e abrindo espaço para o crescimento mútuo.
O roteiro é ágil e direto. Logo no início, vemos Andy tropeçar em suas novas responsabilidades, tentando esconder das crianças a internação da mãe e inventando desculpas desajeitadas. O arco do personagem é construído com delicadeza: um homem que sempre viveu em seu próprio mundo, lentamente, entende o valor da presença, da escuta e do amor.

Jacob Kopera, Michael Keaton e Vivien Lyra Blair em cena de “Pai do Ano”- Divulgação Diamond Pictures BR
Pai do Ano carrega o ritmo das comédias dramáticas dos anos 1990, equilibrando absurdos cotidianos e momentos de emoção genuína. Não há vilões ou grandes antagonistas, apenas pessoas tentando se entender, até situações potencialmente tensas, como o beijo inesperado de Terry, pai de um amigo de Billie, em Andy, são tratadas com leveza e humor, sem moralismos.
Filha de Nancy Meyers, responsável por comédias românticas marcantes como O Amor Não Tira Férias (2006), Hallie Meyers-Shyer imprime sua própria assinatura com um roteiro que se alonga um pouco ao focar na jornada externa de Goodrich, porém, compensa ao lançar pequenas pistas que ganham força no desfecho.
A aparição breve, mas marcante, de Ann (primeira esposa de Andy e mãe de Grace) sintetiza a transformação do protagonista. Quando ela pergunta, de forma quase casual, “agora você faz mercado?”, percebemos o quanto ele realmente mudou, e o quanto demorou para isso acontecer.
O centro emocional do filme está na relação entre pai e filha. Em uma das cenas mais intensas, Grace, grávida de oito meses, grita: “Eu sou a única que te ama tanto quanto você se ama”, sendo um dos momentos mais fortes da produção, uma ferida aberta que reverbera até o fim, e ao invés de explodir diversas vezes, somente ecoa ao final. A resposta vem de maneira sutil na sequência final, quando Andy, ao ouvir o genro Pete (James Norton) descrever com humor e carinho o futuro da família, finalmente se permite chorar. Antes de se despedir, olha para Grace e diz que ela é sua alma gêmea, uma declaração que resume todo o seu arco na produção.

Michael Keaton e Mila Kunis em cena de “Pai do Ano”- Divulgação Diamond Pictures BR
Visualmente, Pai do Ano adota uma fotografia levemente sombria, deixando os personagens no escuro, o que contrasta com o tom acolhedor do enredo. Ainda assim, há momentos de iluminação belíssima, especialmente na festa de despedida da galeria de Andy, quando o brilho das luzes e a sutileza dos enquadramentos traduzem o sentimento de renascimento, enquanto uma leve trilha sonora, contida e elegante, acompanha esse movimento sem recorrer à manipulação emocional.
No fim, Pai do Ano é um filme pequeno, independente e cheio de verdade, não reinventando o gênero, mas lembrando o espectador da beleza simples de recomeços. Hallie Meyers-Shyer oferece um retrato humano sobre o perdão e reconstrução familiar, que faltou ao seu final somente uma música como a de Garfunkel para se tornar realmente apoteótico.
Distribuido pela Diamond Pictures BR, Pai do Ano estreia no dia 18 de Outubro.
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