Dirigido por Tomás Corredor, Novembro retrata a invasão do Palácio da Justiça colombiano como retrato honesto e pesado de violência e desumanização provocada pela guerra
Como um último grito de desespero, após mais de 24 horas presos em uma situação tensa e claustrofóbica, a guerrilheira Monita, implora ao seu companheiro que interrompa aquela loucura e permita que todos saiam com vida. O pedido, porém, é interrompido por mais uma explosão provocada pelo exército. Ao final, resta apenas o vazio, a destruição e o silêncio das vidas perdidas e dos ideais esmagados pela força militar. Isso é Novembro.
Ao longo de pouco mais de uma hora, acompanhamos um grupo de pessoas, guerrilheiros, políticos e reféns, confinados em um banheiro durante a invasão do Palácio da Justiça, ocorrida no dia 6 de novembro de 1985. Tomás Corredor intercala momentos ficcionais com imagens documentais de jornais da época, sendo essas as únicas representações externas ao edifício.

Cena de Novembro- Divulgação Vulcana Cinema
Segundo o diretor: “Novembro é exatamente isso: uma reflexão sobre o que acontece conosco quando tudo se rompe. Não há heróis ou vilões, apenas pessoas diante de uma realidade que as esmaga. E essa realidade não pertence apenas ao passado — pode acontecer de novo, em qualquer país, a qualquer momento.”
Com uma proporção de tela próxima ao formato 4:3, a fotografia privilegia dois tipos principais de composição: planos fechados e planos com ampla profundidade de campo, reforçando a sensação de confinamento. A trilha sonora é quase inexistente, dando lugar ao silêncio e aos ruídos do ambiente, que compõem uma mise-en-scène sufocante, colocando o espectador diretamente na linha de fogo, compartilhando da dor e da agonia dos personagens.
Embora Monita seja o foco narrativo, a produção se constrói como um retrato coletivo, mais interessado na experiência comum do grupo do que em uma jornada individual clássica, torando Novembro uma tentativa de olhar para a história a fim de que ela não se repita: um cinema que busca lembrar para refletir, e não para entreter.
Sem o glamour ou o ritmo de produções como La Casa de Papel (2017, Álex Pina), Novembro é sujo, tenso e claustrofóbico, erguendo uma atmosfera marcada por explosões, sangue, mortes e desespero, não temendo confrontar o espectador com a brutalidade dos acontecimentos e encerrando com uma homenagem às vítimas do ataque. A frase dita pelos guerrilheiros para uma mãe preocupada com os filhos: “Estamos fazendo isso por vocês”, soa ainda mais trágica quando lembramos que aquelas pessoas não tiveram escolha alguma e jamais voltaram para suas famílias.

Cena de Novembro- Divulgação Vulcana Cinema
Apesar da curta duração, pouco mais de 70 minutos, a obra se arrasta em certos momentos, repetindo situações e interações para enfatizar o sofrimento e a violência. Essa escolha reforça a sensação de exaustão, mas também distancia o espectador que busca um arco narrativo mais tradicional.
Cru, duro e profundamente humano, Novembro é um filme que se recusa a oferecer conforto, se interessando mais no retrato do colapso moral e emocional diante da guerra, do que por explicar seus motivos. Assim como Tempo de Guerra (2025, Alex Garland, Ray Mendoza), o longa é uma reflexão amarga sobre o que resta quando o diálogo e a paz já não são possíveis, e só resta o silêncio e a destruição.
Tendo passado na 49ª Mostra Internacional de Cinema de SP, Novembro é uma coprodução internacional Brasil, México, Noruega e Colômbia, juntamente com a produtora Gaúcha Vulcana e estreia no dia 30 de Outubro nos cinemas.
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