Como toda videografia, não é prudente assistir “A era de ouro” acreditando que todos os eventos retratados aconteceram de fato. No caso do longa, é mais difícil ainda pensar que irá contar a história de Neil Bogart de forma imparcial. Por quê? Pelo fato de o diretor e roteirista, Timothy Scott Bogart, ser filho do biografado. Portanto, é óbvio que ele vai dar uma passada de pano para o pai. Apesar de deixar bem explícito que o homem não foi nem um pouco agradável com a esposa, que o abandonou depois de anos de traição. Mas, ainda assim, rola um certo endeusamento da figura do pai e uma desviada de olhar pro boy lixo que foi.
Timothy escolhe focar no que seu pai tinha de positivo e deixa claro, nos créditos finais, que é uma homenagem ao lado profissional do pai. E uma coisa não podemos negar, se formos acreditar nos fatos mostrados no filme: Neil Bogart era um homem obstinado. Sabia muito bem o que queria e o que ele queria era transformar o mundo de alguma forma. O mundo da música, pelo menos, ele conseguiu.
Antes de continuar, fique com o trailer:
Toque de Midas musical
A sinopse diz: o filme retrata a vida e carreira de Neil Bogart, cofundador da Casablanca Records, gravadora responsável por lançar Donna Summer, Kiss, Village People e Bill Whiters. Situado nos anos 1970, mescla drama com apresentações musicais. Conta a história de Neil Bogart desde sua criação humilde no Brooklyn até sua ascensão no meio musical. Neil Bogart é interpretado por Jeremy Jordan, de Flash e Supergirl.
O mais interessante de “A era de ouro” é acompanhar o nascimento das lendas musicais citadas. É um filme sobre Neil Bogart sim, mas é, principalmente, um filme sobre música. E deve tocar mais os que são apaixonados por ela. Os que respiram música. Os que não vivem sem ela. Ver surgir nas telas, mesmo que de faz-de-conta, grandes astros que só conhecemos quando já eram muito famosos – ou já estavam mortos – é a grande sensação do longa. Conhecer um pouco mais a fundo a história desses artistas, a história verdadeira (ou tão verdadeiro quanto um filme consegue ser), é o seu ponto forte.
Atores cantores
Com performances dignas de grandes musicais, os atores escolhidos para interpretar esses ídolos dão um show à parte (perdoem o trocadilho). Em uma cena específica, é impossível não ser tragado pela tela quando Jason Derulo canta It’s you thing. Ele interpreta Ron Isley, um dos Isley Brothers. Derulo já é conhecido pelo público brasileiro, mas o filme vai apresentar “cantatores” incríveis ao espectador. Uma delas é Ledisi, intérprete de Gladys Knight. Seu dueto de “Midnight train to Georgia” com o protagonista é de arrebatar corações.
A atriz que interpreta Donna Summer, contudo, pode parecer uma novata. O espectador vai assistir o filme e pensar que não a conhece. Porém, que for amante de musicais já a viu antes. Só que ela era apenas uma criança. Taylor Parx esteve no elenco do famoso Hairspray, com John Travolta. Ela era a Little Inez, filha mais nova de Queen Latifah, que era cheia de atitude. Tá passada? Pois eu fiquei! Ela arrasa tanto em “A era de ouro” quanto arrasava no musical de 2007. Completam o time de atores que também (ou cantores que também atuam) Casey Likes (intérprete de Gene Simmons, do Kiss), Alex Gaskarth (Peter Criss, do Kiss), Pink Sweats (Bill Whithers) e Wiz Khalifa (George Clinton). E também, claro, o próprio Jeremy Jordan, que arrasa na voz e no carisma.
Mas os que não são fãs do gênero musical, acalmem-se: não é um musical clássico. Porém, como conta a história de uma gravadora, não tem como não haver cenas com músicas. E é isso que o espectador vai encontrar: grandes artistas cantando suas músicas. Quer dizer, grandes artistas interpretando músicas de outros grandes artistas.
Grandiosidade
Para vocês não dizerem que enganei vocês, preciso dizer que há duas cenas que são como de musicais clássicos sim. Mas são, somente, ade abertura e a última cena do filme. Portanto, nada que fará o não afeito por musicais torcer o rosto. Uma coisa, porém, “A era de ouro” tem em comum com o gênero. E eu já disse lá em cima: é um filme grandioso. Ou seja, ele tem a estética de um musical, porém sem os tradicionais “diálogos” cantados do gênero. Fica muito claro que Timothy Scott Bogart Não poupou recursos para produzir esse filme. De conhecidos nomes contratados, como Jason Isaacs, que interpreta o pai de Neil, a figurinos espalhafatosos e cenários cheio de detalhes, tudo é grande em “A era de ouro”.
Talvez seja a única maneira de retratar uma época tão musicalmente rica como a do filme. Talvez seja porque não tem outro jeito de fazer jus a nomes como Donna Summer, Gladys Knight e The Isley Brothers. Mas a justificativa mais provável de tudo ser tão grandioso nesse filme talvez seja mesmo o amor de Timothy pelo pai. Nos Estados Unidos, esse domingo não é dia dos pais (a data é comemorada no terceiro domingo de junho por lá), mas que seria um belo presente póstumo de dia dos pais, seria. Por aqui, ficamos com um filme com roteiro conciso, imagens bonitas e que entretém bastante.
Onde assistir “A era de ouro”
Com distribuição da Paris Filmes, o longa estreia nos cinemas no dia 10 de agosto, próxima 5a feira. “Spinning gold” (no original) tem duração de 2 horas e 17 minutos, mas nem dá pra sentir o tempo passar. Muito porque o espectador se vê totalmente transportado para aquela época. A produção da trilha sonora é de E. Kidd Bogart, um dos filhos de Neil Bogart. Uma curiosidade, pra fechar: E. Kidd Bogart recebeu um Grammy por Halo, música de Beyoncé. Ele é o compositor da canção.
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Que legal! Fiquei interessada.
Beijos! ??
Leda Bueno