Neste dia 30 de maio, estreia “A filha do palhaço”. Filme dirigido por Pedro Diógenes, é um drama que conta uma história de reaproximação entre uma filha adolescente e um pai ausente, que ganha a vida como uma drag queen que faz comédia stand-up.
Renato (Démick Lopes) é um ator que vem dedicando-se nos últimos anos a atuar como humorista em bares de Fortaleza. Seu diferencial de outros humoristas é a personagem que ele encarna em suas apresentações: Silvanelly. Sua filha Joana (Lis Sutter) deseja se aproximar dele, pois a relação deles é bem distante e fazia. Renato a visita muito raramente.
As chances que a vida nos dá
Renato percebe que essa aproximação de Joana pode ser uma chance que a vida está lhe dando. Uma chance para que ele tente ser o pai que ele, até então, não tinha conseguido ser. O diretor constrói muito bem uma Mise en Scène onde pouca coisa acontece, mas ao mesmo tempo muito se sucede, de forma implícita. No que é dito pelo não dito e como os personagens reagem à esses momentos taciturnos.
Por mais que exista uma boa vontade de ambas as partes em estreitar os laços entre pai e filha, os contatos iniciais são bem contidos. Renato mostra que não sabe de nada da vida de Joana, que por sua vez não parece muito entusiasmada em compartilhar de certas informações mais particulares.
Nesse sentido, o filme consegue passar de um modo bem direto como essa angústia dessa reaproximação que não avança vai sufocando a ambos. Ou seja, sentimos como cada um dos dois parece estar sempre esperando que o outro tome a iniciativa de dizer ou fazer algo. A transição que vai mostrando essa reconciliação é tão bem feito que quando ela chega, nos sentimos realizados.
A sina do palhaço
O cinema já explorou diversas vezes com o palhaço pode ser ao mesmo tempo um personagem que faz muita gente feliz, mas não consegue fazer o mesmo por si. O personagem de Renato reflete isso. Embora seja bem enérgico e humorado em seu show, na vida real ele parece estar sempre triste, sempre em busca da bebida como um conforto fugaz.
Além de ter abandonado sua filha, Renato também abandonou, em certo ponto, sua carreira como ator. Embora ele consiga fazer um bom dinheiro com suas apresentações, ele sente como se sua essência já tivesse se perdido há tempos. O encontro ocasional com uma dupla de atores andarilhos (Jesuíta Barbosa e Jupyra Carvalho) desperta algo nele. Um sentimento ou uma urgência de viver (ou de reviver?).
A persona de Silvanelly é uma homenagem do diretor a seu primo, o ator e humorista Paulo Diógenes, que vivia a personagem Raimundinha de forma bem semelhante a Renato. Paulo faleceu em fevereiro de 2024 devido à complicações pulmonares.
A filha do palhaço
A dupla de protagonistas está afiadíssima com uma química impressionante. O grande destaque vai para a estreia de Lis Sutter, em seu primeiro papel no cinema. Ela encarna de forma segura e vigorosa Joana. Uma adolescente que tenta apresentar uma maturidade e segurança que vão muito além da sua real fragilidade. Démick Lopes também está ótimo ao representar a dualidade conflitante presente em Renato.
O filme traz uma visão crítica da sociedade em relação à preconceito e tolerância. Renato faz as pessoas rirem, mas ao mesmo tempo é visto com frieza e ressalvas. A vida árdua dele é bem sintetizada no fato de que os poucos momentos de humor são os de seu show. Além disso, até quando seu show é em um ambiente diferente do seu habitual, ele percebe a antipatia gerada pela intolerância.
Outro tema abordado é o do abandono paterno, realidade extremamente infeliz do Brasil, com números alarmantes. O assunto é trazido de forma sensível, sem romantização ou dramaticidade exagerada. Não há uma resolução instantânea para a reconciliação, mas sim um exemplo que alguns simples gestos podem gerar uma fagulha que pode mostrar o começo de um processo de redenção. Em suma, basta ter boa vontade.
Onde assistir
O filme passou com sucesso por diversos festivais desde 2022. Segundo, o diretor, esse é o caminho para assegurar uma rede de exibições nos cinemas. Chegou, então, esse momento! Aproveite essa primeira semana. Afinal, ela é sempre crucial para filmes nacionais poderem garantir mais tempo em cartaz.
O filme é uma produção da Marrevolto Filmes, em associação com a Pique-Bandeira Filmes, e distribuição da Embaúba Filmes. Então, consulte a rede de cinemas de sua cidade para encontrar sessões disponíveis para “A filha do palhaço”. Não perca!
Um dos filmes mais lindos que assisti esse ano. Cinema brasileiro é bom demais!
Bem verdade! E sua opinião é sempre relevante, sendo assim, já fiquei curioso para ver o filme.