André B. Silva 4Tet tocou na Casa da Música, na última quinta-feira (26/12). O quarteto apresentou mais de uma hora de um show que aqueceu a noite fria do inverno da cidade de Porto, em Portugal. A bela base de André Carvalho no contrabaixo, o qual, dentre os instrumentos da família das cordas na orquestra é o que possui registro mais grave e também o de maior tamanho fez diferença. André abraçava o instrumento como que a um amor, com carinho, afeto – e claras habilidades. Esse trabalho, juntamente com a bateria caprichada e diversificada de Ricardo Coelho, permitia que André B. Silva fizesse sua jornada na guitarra. Da mesma forma que José Soares, que soprava as notas no seu saxofone de olhos bem fechados e coração aberto.
Todos os elementos fluíram com desenvoltura. A saber, André Bastos Silva é um músico português que atualmente vive em Nova Iorque. Criador e guitarrista do grupo The Rite of Trio, reuniu esse quarteto para tocar alguns clássicos do jazz, como a canção “Misterioso” de Thelonius Monk, pianista e compositor de jazz estadunidense, com arranjo do próprio André. Assim como músicas autorais dos integrantes do grupo, entre elas “Dogma Days”, também do B. Silva.
O estilo de André B. Silva ao tocar é deveras curioso, pois seu corpo parece acompanhar o dedilhar da guitarra, enquanto suas caras e bocas deixam óbvia sua imersão na viagem sonora que busca proporcionar e conduzir. Aliás, Leonard Bernstein foi lindamente lembrado com “Some Other Time”, escrita em 1944. Logo em seguida, realizou-se a estreia mundial da criação de André, “Second Star to the Right”, que possui uma aura de viagem através das galáxias.
Bebop galáctico
Em certo momento, um solo do contrabaixista André Carvalho encheu a sala com gravidade rítmica, e qual não foi a alegria do público, quando todos os outros integrantes entraram tocando seus respectivos instrumentos, arrancando palmas reverentes. Carvalho teve um de seus temas tocados, o qual apresentava uma inquietação artística inebriante. A última da noite, parecia uma grande festa instrumental que ia subindo e ganhando tons de bebop.
Por fim, falei rapidamente com André B. Silva. “É estranho, eu não fazia ideia de como esse concerto ia ser. Não fazia. Confesso que estava bastante nervoso, porque a banda nunca tocou muito junta. Muitas das músicas eram novas também. E eu estava verdadeiramente receoso. Mas depois de entrarmos em cima do palco e a conexão, e o pessoal estava a ouvir muito bem, todos muito atentos, e vendo para onde a música ia. Senti que pronto, foi o caminho que encontramos e as pessoas no público sentiram isso e tudo acabou por correr espetacularmente bem. Adorei o concerto, confesso”, afirmou.
Realmente os espectadores foram junto com o som, como se deitados em notas musicais que ninavam seus cérebros e supriam a sede por arte. A noite encerrou-se agradável. A sensação que ficou foi como se o gênero jazz agradecesse. Além disso, a arte musical tem um lar no Porto – e se chama Casa da Música.