“O arteiro experimenta, é desafiador, danado, está ali sempre questionando. Ele é quem vive a arte e quem promove a arte. Eu fui explorando porque é isso que um arteiro faz, né?”. O rapper Ramonzin chega mais uma vez surpreendendo com o seu novo álbum “ARTEIRO”, lançado nesta sexta, 23. Em uma coletiva de imprensa descontraída, ele conta sobre o trabalho que traz 11 faixas. Aliás, são 8 inéditas, com participações de grandes artistas como: BK’, Malía, Djonga, Luedji Luna e L7NNON.
ARTEIRO
“ARTEIRO” apresenta uma pluralidade de sons que vai além do rap. Afinal, isso diz muito sobre o artista que bebe de várias fontes e tem um carinho especial pela mpb. Nas composições feitas em parceria com produtor Rafael Tudesco, ele vem com a simplicidade do subúrbio carioca e fala sobre o cotidiano da rua, sobre as vivências e pessoas.
Crítico, forte e certeiro, Ramonzin aborda questões sociais, questões de classe, liberdade de corpos, sexualidade, amor e família através das suas letras e ritmos periféricos que ora traz um trap, ora funk ou uma levada de samba.
“Eu vivo de fases, sou uma esponja no sentido de criação. Tem fase que estou no jazz, tem fase que estou no popular, não tenho um parâmetro específico. Claro, eu vim do rap né?! Ele é a minha ferramenta principal, é o que eu tenho mais liberdade para falar. Mas tenho um carinho pela música brasileira, o meu som é muito brasileiro”, afirma.
Feat com Malía e BK’
O rapper também lança nesta sexta, 23, o videoclipe de “Carnaval Eterno”, feat com a cantora Malía. Amantes do maior espetáculo da terra, eles gravaram na Cidade do Samba sob a direção de Isabelle Lopes que já havia realizado um ótimo trabalho dirigindo o videoclipe “Vivência”, feat com BK’, indicado na categoria “Best Brazilian Music Video” do LAMV – Los Angeles International Music Video Festival 2020.
Malía apontou a ansiedade pelo lançamento e a alegria de ter sido convidada para participar desse álbum: “Estou muito feliz de estar nesse álbum e ansiosa para o Ramonzin lançar. Acho maravilhoso e o cenário está precisando ouvir, principalmente de um cara que tem uma história e está galgando um espaço que vem de muito tempo. Isso é crucial nesse momento.”
BK’, que também estava presente na coletiva, disse que fazer o clipe “Vivência” foi uma experiência muito diferente. A gravação foi feita no início da quarentena e não havia muitos esclarecimentos sobre o que estava acontecendo, mesmo assim ficou excelente e mereceu a indicação ao prêmio internacional.
“Gravamos no começo da pandemia e ainda era um período de muito medo, a gente não sabia como poderia se locomover para fazer as coisas acontecerem. O mais maneiro de ter sido indicado é isso, foi só um mano fazer a minha filmagem e a dele. Juntaram as imagens, o trabalho ficou perfeito e o desdobramento do trabalho ter sido perfeito é essa indicação”, declarou o autor de “O Líder em Movimento”.
Criatividade na pandemia
Malía conta que não ficou parada durante o período da quarentena e afirma que está sempre desenvolvendo algumo diferente. Já BK’, associou a escrita a uma forma de fuga e diz que conseguiu reverter o período difícil em novidades para o seu trabalho.
“Escrever um rap ou uma letra pra mim traz várias sensações, inclusive a de fuga. No começo da pandemia o que eu mais queria era fugir da realidade do mundo e do universo todo, acho que nunca escrevi tanto quanto nesse período de pandemia. É uma forma de me expor em outro lugar e da minha mente ir para outro lugar enquanto escrevo, eu queria sair dali e coloquei tudo isso na caneta. Infelizmente foi um dos meus momentos mais criativos. Foi legal porque fiz muita coisa aqui no estúdio e chato porque o mundo está do jeito que está”, contou o rapper.
caminhos
Ramonzin gostou de ouvir sobre a produtividade dos amigos e disse que passou por caminhos diferentes durante os últimos meses. No início da pandemia ele diz ter se isolado e se cobrado muito por não conseguir criar e desde então passou a cuidar de plantas e do seu gato, o que fez ficar melhor nesse tempo.
“Comecei a pensar: Pô cara, isso aí é uma circunstância mundial que não depende de você e essa história de que você tem que produzir… você não tem que produzir porra nenhuma. É uma situação, uma fatalidade que está acontecendo e está todo mundo passando por isso. Óbvio que eu gostaria de ter criado, gostaria de ter escrito um livro, ter feito 10 discos, mas não consegui. E que bacana, acho maneiro que a galera conseguiu se adaptar, arranjar um jeito de se inspirar e conseguir fazer outras coisas. Eu não criei questões tão profundas com relação a isso e estou muito bem”, disse.
Ramonzin comemora 20 anos de carreira
Comemorando 20 anos de carreira, Ramonzin começou na década de 90, passou pelo freestyle, participou de batalhas, levou prêmios e viu toda essa movimentação do rap acontecer. Desde 2015 esse é o gênero mais escutado no mundo, mas a realidade era um pouco diferente no passado e ele tem muito orgulho da sua formação.
“O rap mudou muito e eu sempre fui um cara camaleão, me adaptando a outros terrenos e circunstâncias. Acredito que a minha formação é rapper, mc, mas entendia que deveria aprender novas habilidades. Eu trampo no funk, no trap, no rap tradicional, para mim não importa. Mas, isso não exime a dificuldade, foi difícil pra mim. Sou da escola do MC Marechal, Shawlin que veio do início dos anos 2000. Acompanhamos as mudanças juntos e tenho certeza que tive uma das melhores escolas que pude ter aqui no berço do hip-hop carioca. A gente fez uma história muito bonita”, conta ao lembrar da sua trajetória.
O rapper não esconde o nervosismo de colocar mais um filho no mundo e está com grandes expectativas: “Eu já morri e estou aqui de novo. Estou bem nervoso, mas acho que esse frio na barriga é algo extremamente natural e humano. Estou seguro porque sei que será bem lançado”, conclui.
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