Aves De Rapina – Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (Birds or Prey) tem um início maravilhoso que remete às origens da protagonista, Arlequina. E isso de várias formas, ou seja, tanto a infância da personagem no universo cinematográfico quanto o fato de ter sido criada por Bruce Timm e Paul Dini para Batman: The Animated Series (1992-1995). Essa foi uma das melhores animações produzidas pela Warner/DC, cujo estilo influenciou a criação dos excelentes desenhos da Liga da Justiça (2001) que fizeram bastante sucesso nos últimos anos. Esse jornalista aqui assistia e lembra bem da docemente insana Arlequina galgando cada vez mais espaço nos desenhos. Admito, apesar do distanciamento jornalístico, certa alegria nerd ao ver o crescimento dela, que surgiu pela primeira vez no episódio 22, intitulado “Joker’s Favor” (“Um Favor para o Coringa”), em 1992. A saber, a ideia original foi que Arlequina aparecesse somente naquele episódio…
O longa-metragem começa com uma animação estilosa que remete a esse clássico dos anos 90. Um ótimo e divertido início para um filme que preza exatamente pela… diversão. O filme é despretensioso, mas talvez pudesse se levar ainda menos a sério, permitindo outras ousadias. Afinal, são (quase) todos personagens de “segundo escalão” da DC, o que possibilita inovações. Contudo, com uma direção extremamente dinâmica de Cathy Yan (“Dead Pig”) a partir do roteiro razoável de Christina Hodson (“Bumblebee”), as cenas de ação estão ágeis e bem conduzidas, e tem algumas sequências realmente boas, utilizando com maestria a câmera lenta e sabendo focar na capacidade de atuação da Margot Robbie. Além disso, as risadas são garantidas – em especial com as gargalhadas sinistramente contagiantes da Arlequina.
Trilha Sonora + Ação
Margot Robbie (“Eu, Tonya”) dá seu show de praxe, com toda sua expressividade e carisma, a qual tanto se sobressaiu no fraco “Esquadrão Suicida”, que acabou resultando nesse Aves de Rapina. Aliás, esse filme é muito superior ao decepcionante Esquadrão, apesar de beber na mesma fonte com relação ao quesito trilha sonora + cenas de ação. Inclusive, a trilha é bastante coerente, com 15 músicas, onde se destacam “Diamonds”, parceria de Megan Thee Stallion com Normani, ex-Fifth Harmony; “Invisible Chains”, single inédito de Lauren Jauregui, que também fez parte da girlband ao lado de Normani; e “Experiment on Me”, interpretada pela Halsey. Além do mais, “It’s A Man’s Man’s Man’s World”, pela Canário Negro exalta a mensagem que o filme passa.
A fotografia namora com o sombrio, o que tem tudo a ver com a raiz da cidade de Gotham, ao mesmo tempo que dá o tom colorido necessário para a emancipação de Harley. O diretor de fotografia Matthew Libatique (“Nasce Uma Estrela”, “Venom”) usa bem a paleta de cores, em especial em uma das melhores sequências, que é a luta de Harley na delegacia. No geral, com relação aos últimos da DC, a película só fica atrás de Shazam.

Elenco de apoio para a estrela
O elenco segue com Mary Elizabeth Winstead (“10 Cloverfield Lane”, “Fargo”) como Caçadora, a qual consegue alguns bons momentos; Jurnee Smollett-Bell (série da HBO “True Blood”) como Canário Negro, mostra que tem algum magnetismo; Rosie Perez (“Fearless”, “A Escolha Perfeita 2”) como Renee Montoya, está correta; Chris Messina (“Argo”, série de TV “Objetos Cortantes”) como Victor Zsasz se destaca com sua psicopatia; e Ewan McGregor (“Doutor Sono” e filmes da franquia “Trainspotting”) como Roman Sionis faz sua parte demonstrando a afetação que o personagem pede. A novata Ella Jay Basco vive Cassandra “Cass” Cain em seu primeiro filme, se não empolga, tampouco frustra.
Engraçado e anarquista, o filme das Aves de Rapina alcança o objetivo de entreter, apesar de algumas quebras de ritmo que o tornam até chato em alguns momentos. Está acelerado e legal, quando, de repente, vem um flashback para explicar alguma origem. Todavia, em verdade, o elenco todo de Aves De Rapina – Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa é somente base de apoio para o brilho de Margot Robbie, a grande estrela e protagonista. A atriz não perde mais essa chance de demonstrar todo seu talento, capacidade e altivez – e carrega o filme na pochete colorida.
O longa-metragem traz a mensagem do empoderamento feminino sem forçar, ironizando o machismo e a subestimação. Harley passa um tempo no Heartbreak Hotel, o lar das decepções, e ganha força a partir delas para se emancipar, entrando cada vez mais no rol dos personagens inesquecíveis do cinema de entretenimento e do universo DC. Saída do desenho animado, como uma auxiliar do Coringa, Arlequina foi para os quadrinhos e agora é estrela de cinema. Quer emancipação maior que essa?