A cultura latina, esquina do mundo, era louvada por esse artista. Dizia que as árvores têm raízes permanentes, mas que nós, seres humanos, não precisamos disso.
Segundo Belchior, a cidade individualiza e proporciona a solidão. Essas e outras falas, versos e canções da filosofia de vida deste rapaz latino-americano vindo do interior estão nessa peça.
Assisti o espetáculo musical Belchior – Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro enquanto ocorria o jogo Brasil e Peru, final da Copa América. Logicamente – e tristemente – o teatro João Caetano não estava cheio como deveria. Mas ali a vitória era brasileira de verdade. Vitória da arte genuína.
Os músicos são a maior parte do cenário simples, cuja iluminação varia entre o verde, azul e lilás, além do foco amarelado em cima dos cantores e atores em suas falas. Ao fundo a face de Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes. Ele mesmo brincava que era um dos maiores nomes da música popular brasileira. Foi cantor, compositor e professor.
Ao longo de uma hora e quinze minutos, acompanhamos um pouco da trajetória desse brasileiro, cidadão do mundo vivido em cena pelo ator/cantor Pablo Paleologo, e também pelo Cidadão Comum, personagem de suas canções, interpretado pelo ator Bruno Suzano. Este último é uma alegoria em cima do sujeito que deve se submeter aos padrões impostos pela sociedade.
A crítica ao formato em que vivemos é pontual. A satisfação desse cidadão comum é a segurança e o “vencer” na vida Como se a felicidade fosse a posse de objetos e badulaques. A peça, assim como a obra de Belchior, tem essa virtude, de procurar fazer refletir, apresentando a arte como instrumento de conquista de si mesmo.
Muito do texto foi retirado de trechos de entrevistas do Belchior, através do trabalho da pesquisadora Cláudia Pinto e do diretor, Pedro Cadore. A apresentação foge um pouco do que outros musicais tem feito, quando focam na biografia do artista. Este busca mais passar a filosofia de Belchior, que era cercado de mistérios e prezava por sua privacidade, pois, afirmava que o trabalho do artista importa mais que o próprio.
Algumas historietas da vida dele, como sua passagem por um mosteiro, são intercaladas por 15 músicas interpretadas por uma banda formada pelos músicos Cacá Franklin (percussão), Dudu Dias (baixo), Emília B. Rodrigues (bateria), Mônica Ávila (sax/flauta), Nelsinho Freitas (teclado), Rico Farias (violão/guitarra), liderados pelo diretor musical Pedro Nego.
A produção geral, assessoria de imprensa e marketing são comandadas por João Luiz Azevedo e a produtora Boca Fechada Promoções e Produções Artísticas e Culturais.
Belchior – Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro traz a utopia da liberdade cantada por um sujeito de sorte, que acreditava no sonhar, como parte do verdadeiro viver. Afinal, tem perigo na esquina, mas amar e mudar as coisas interessa mais do que ser mais um ser ordinário.
Ficha técnica
Até 14 de julho no Teatro João Caetano (Praça Tiradentes)
Organização de Textos: Cláudia Pinto e Pedro Cadore
Direção: Pedro Cadore
Elenco: Bruno Suzano e Pablo Paleologo
Músicos: Cacá Franklin (percussão), Dudu Dias (baixo), Emília B. Rodrigues (bateria), Mônica Ávila (sax/flauta), Nelsinho Freitas (teclado), Rico Farias (violão/guitarra)
Direção Musical: Pedro Nego
Diretor de Arte e Cenografia: José Dias
Iluminação: Rodrigo Belay
Produção Geral, Assessoria de Imprensa e Marketing: João Luiz Azevedo
Produção: Boca Fechada Produções Artísticas