Existe um famoso filme da nova onda de cinema checo chamado As Pequenas Margaridas (1966, Chytilová). A produção ganhou a atenção do mundo em uma época que o movimento da contracultura estava em ascensão, e até hoje referenciado como um filme dadaísta, por conta de sua quebra com a narrativa clássica, inspirando cineastas até os dias de hoje, e provavelmente Albertina Carri ao fazer o seu Caiam as Rosas Brancas.
Da mesma forma que o filme de Chytilová, não adianta muito analisarmos a narrativa de Caiam as Rosas Brancas, pois, como verbalizado pelas próprias personagens, nem mesmo elas a entendem. Acompanhamos a viagem de 4 mulheres, sendo Violeta, uma diretora pornô em crise criativa, a principal delas. Ao longo de duas horas, somos levados em uma road trip que vai de nada a lugar nenhum, sem um objetivo muito claro e terminando em um final abrupto, isto não seria um problema, caso houvesse uma ligação entre diversas cenas soltas, porém, percebemos que nem isso ocorre.
Confira abaixo o trailer de Caiam as Rosas Brancas e continue lendo a crítica
Caiam as Rosas Brancas é recheado de desconfortos e bizarrices, geralmente relacionados com uma relação de BDSM persistente na produção do começo ao fim, ou olhos verdes que aparecem do nada e nunca recebem uma explicação. Albertina Carri aparenta estar usando a produção como um modo de criticar a norma e o sistema clássico, na medida que a arte como um todo deve subverter este sentimento, uma mensagem importante, porém, na medida que somente a própria diretora entende os próprios simbolismos, impedindo o público de entrar neste mundo, não fazendo questão de nem mesmo construir uma relação orgânica entre suas protagonistas, por que o deveríamos nos importar com um filme tão pessoal e de arte?

Cena de Caiam as Rosas Brancas- Divulgação oficial Vitrine Filmes
Caiam as Rosas Brancas é definitivamente uma experiência, por conta disso, não deixo de pensar que teria funcionado muito melhor como parte de uma exposição interativa, do que como um longa metragem de duas horas. Recheado de cenas desconexas e situações absurdas como o encontro com a mecânica, os motoqueiros jamais vistos, a “morte” de uma das mulheres do grupo, para em seguida ela aparecer viva e bem, a produção não se preocupa nem um pouco com uma fluidez narrativa, ou na jornada de suas protagonistas, Caiam as Rosas Brancas se preocupa com emoções transmitidas.
Caso busquemos em sua ficha técnica, Caiam as Rosas Brancas é definido como um drama erótico. Um filme erótico, geralmente explora questões como sexualidade, amor e desejo, de uma maneira que não apresenta tabus em tocar na ferida em certos assuntos. A produção de Carri apresenta tudo isso, porém, na medida que os acontecimentos somente são jogados, sem um fio lógico ou coeso, em construções nem mesmo divertidas, sendo filmadas de modo vazio e com uma paleta extremamente sem vida de tonalidades pastel, a produção acaba sem alma, algo fatal em uma produção vendida como erótica.
O filme é contido em diversos sentidos, e liberal demais em outros, afinal, nada é mostrado e tudo fica na iminência, nunca chegando realmente no clímax, enquanto na cena seguinte, sem contexto inicial, é mostrado uma pilha de mulheres semi nuas, porém, mesmo em tal cena, tudo é morno e sem alma, necessitando de uma justificativa para ela sequer existir na produção.

Cena de Caiam as Rosas Brancas- Divulgação oficial Vitrine Filmes
Caiam as Rosas Brancas é um filme de arte e de autor, uma produção tão pessoal de Albertina Carri, que se torna hermética demais para o grande público, da mesma forma que sua protagonista, a diretora aparenta buscar uma razão para filmar, assim, produz um filme que necessita de explicação atrás de explicação, para conseguirmos entender todas as camadas de simbolismos que acabam vazios ao final, uma pena, pois na superfície, ele parecia um filme bem mais interessante.
Caiam as Rosas Brancas é uma distribuição Boulevard Filmes, em co-distribuição com a Vitrine Filmes e estreia nos cinemas de todo o país no dia 15 de Maio.
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