Dirigido por Marcelo Botta, Betânia é um filme contemplativo
Ao longo da produção de Marcelo Botta, Betânia apresenta muitos significados, seja o nome de sua protagonista, de um vilarejo ou uma lagoa com pequenas flores amarelas, isto já é um indicio do quão amplo é a produção. Apresentando diversos direcionamentos distintos, surge um problema para Botta e equipe, afinal, ao longo da produção, os momentos aparentam estar isolados, sem um fio narrativo condutor, assim, com a presença de diversos personagens que ao final não lembramos os nomes, e de uma estonteante Diana Mattos como Betânia que apresenta pouco para fazer em duas horas de filme, além de observar os acontecimentos se desenrolarem na sua frente, e dar um belo discurso sobre união ao final, o que sobra do filme?
Gravado inteiramente nos lençóis maranhenses e arredores, Betânia conta a história da personagem homônima, uma senhora de 60 anos que mora isolada nos lençóis maranhenses, ignorando os pedidos da família para ir morar na cidade. Após uma tragédia, ela finalmente aceita a proposta, iniciando uma jornada que mistura o moderno com o tradicional, em sua reconexão com suas próprias raizes que foram abandonadas em pró da solidão.
Utilizando de uma mistura de atores e não atores, a produção não apresenta uma jornada narrativa clássica, apesar de ter beats claros como a casa de Betânia pegando fogo, ao invés disso, sendo composta por eventos isolados que auxiliam na jornada da protagonista, porém, que poderiam mudar de ordem sem problema nenhum, e não afetaria a narrativa em si, afinal, algo que prejudica a compreensão da narrativa, tornando Betânia muito mais um filme contemplativo e experimental, do que clássico.
Somado à esta jornada de Betânia, a produção não esconde a homenagem às belezas naturais do Maranhão, não a toa a produção teve apoio da prefeitura do estado. Existem diversos planos contemplativos ao longo do filme em que não vemos nada além de areia, atuando quase como um comercial de turismo dos lençóis maranhenses, com direito à diversas cenas de drone, e cenas isoladas e lúdicas em que Betânia aparenta perdida nesta imensidão de seu próprio mundo, porém, apesar de belo e imponente, pouco avançam a narrativa em si, seja de sua protagonista ou qualquer um de seus outros personagens.

Nádia D’Cassia, Diana Mattos e Ulysses Azevedo- Crédito Felipe Larozza
A produção demonstra seus problemas técnicos quando analisamos os modos como lida com os conflitos. Na medida que apresentamos um universo tão amplo, o roteiro de Marcelo Botta tenta abordar o maior número possível de causas e acontecimentos, sem dar o tempo necessário para o público digerir a situação ou os acontecimentos, a vivência LGBT+ em comunidades isoladas, os impactos da solidão, a importância da família, o olhar do estrangeiro perante a cultura brasileira, entre outras questões que permeiam o filme e acabam sendo jogadas, sem o devido aprofundamento, dificultando a empatia, na medida que parecem esquetes fracas ao invés de partes subsequentes de uma narrativa coesa.
Betânia apresenta o seu próprio tempo, sem acelerar em nenhum momento, ela dá função narrativa até mesmo para o silêncio, em contrapartida para as cenas de festas e maior sonoridade, como a festividade do Bumba meu Boi, que é lindamente gravada, porém, vazia de conteúdo além do estético, algo constante na produção, a estética em pró da narrativa, que se soma à edição sem coesão, e leva a um filme que ocasiona um efeito sonífero em parte da audiência.
Betânia é um lindo filme e regionalista de uma maneira que dá orgulho de ser brasileiro, porém, ao falhar em questões básicas de narrativa, e tentar abordar muitas coisas de uma vez só, falha em seu potencial como um filme intimista sobre uma mulher que abandona a solidão em pró de um retorno com suas raízes, algo que se perde dentro de tantos outros núcleos.
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