“Canola”, a história do reencontro entre avó e neta depois de 12 anos separadas. A princípio, esse drama coreano pode parecer só mais uma história que pretende arrancar lágrimas com um melodrama barato. Entretanto, o roteiro é mais complexo do que apenas essa separação. Plots secundários aparecem e se desenvolvem de forma consistente, mas sem roubar a atenção do foco de “Canola”: a reaproximação entre a avó Gye-choon (Yuh-Jung Youn) e sua neta Hye-Ji (Kim-Go Eun).
Narrativa e ritmo
Ainda que a história seja simples, a sua apresentação é caricata em mais momentos do que parece necessário. O humor exagerado e Trapalhonesco dos momentos pré separação se encaixam bem no tom leve e infantil dessa parte do filme. Infelizmente, essa narrativa cômica, exagerada pelo personagem de Kim Hee-won, acaba infectando momentos mais sérios da trama de forma que a carga emocional se perde por conta de uma gracinha ou trapalhada barata. Diversas cenas acabam se tornando emocionalmente pobres por conta disso, um exemplo seria o reencontro entre as duas personagens principais.
Agora, esse problema de ritmo pode ser uma diferença cultural de timming entre as sensibilidades ocidentais e coreanas, o que torna esse “problema” uma diferença ferrenhamente cultural, e dessa forma impossível de julgar sem ser culturalmente insensível. Por conta disso, resta comentar que essa mudança abrupta de humores no meio da cena não funciona em terras tupiniquins.
Personagens
Assim, passemos ao ponto mais importante num filme dramático: a atuação. A jovem desaparecida, Hye-Ji é mais do um objeto que serve para continuar a história, mas um fio condutor que amarra todas as tramas secundárias ao tronco narrativo principal. Mesmo com toda essa responsabilidade, Kim-Go não deixa a peteca cair, e apresenta uma personagem problemática, complexa e coerente segundo a sua história. Ainda que essa personagem seja quase monocórdia durante a maior parte do filme, essa escolha é feita de forma deliberada, e respeita toda a trama enquanto dá espaço para um florescimento emocional no terceiro ato do filme.
Por outro lado, Yuh-Jung Youn, atriz responsável pelo papel da “dona” Gye-choon dá um show de expressividade. Vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo seu papel em “Minari”, a senhora Youn fica longe de prestar uma atuação mediana em “Canola”. Mesmo nos momentos mais complexos, íntimos e pesados, Youn apresenta uma palheta extensa de emoções sem nunca pesar a mão. A sua dor é clara e indiscutível durante a perda e os anos subsequentes. A sua alegria é radiante, beirando uma embriaguez sóbria de serotonina. Se “Canola” tem uma estrela é a vovó Gye-choon, tanto pela sua importância na trama quanto pelo seu trabalho sublime de atriz.
Retornando à trama, apesar de ser bem balanceada, algo está levemente fora dos conformes. Seja um pouco mais de edição no roteiro, ou um cuidado maior em explicar a história de forma coerente, mas algo não se encaixa. No final, a sensação é de ter visto um belo filme com uma reviravolta que não é realmente inteligente. A explicação dada sobre a mudança de Hye-Ji é digna de novela das 6.
Concluindo
Por conta disso tudo, acaba que “Canola” é um filme difícil. São duas atrizes muito boas liderando um elenco meio cartunesco e um roteiro que não faz justiça ao que foi desenvolvido até a metade do filme. Falta mais polimento e uma visão mais global de consistência em termos de trama. Fora isso, “Canola” é um filme emocional que pode agradar à uma plateia menos exigente, ainda que não seja particularmente brilhante.
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