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Maranda revela o seu ‘tudo’, em primeiro disco da carreira, com pitadas de Marina Lima, David Bowie e Joni Mitchel

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Maranda em foto de Bléia Campos

O título da estreia discográfica de Maranda, “Tudo até agora”, resume o largo escopo musical da cantora e compositora carioca. Em nove das dez faixas, a artista apresenta canções autorais que trazem observações aguçadas sobre o vazio existencial, as reflexões e dúvidas da vida adulta e a experiência feminina em uma sociedade marcada pelo machismo. Mas sem jamais perder a ironia, o humor fino e a ternura, acentuados por seu amplo alcance vocal, marcado por um grave ao mesmo tempo cristalino e pungente.

A música de abertura, “Cosmonauta”, mostra um pouco desse “tudo” que a cantora traz ao mundo, como a ficção científica e a sofisticação simples de Joni Mitchell. Com um violão de dedilhado intrincado que ecoa o folk californiano de Laurel Canyon dos anos 1960-70, Maranda se joga na Via Láctea, passa pelas cavernas de marte e, como aponta a letra, “viaja para chegar” a uma canção de amor que parece um filho sonoro entre Judee Sill e o Ziggy Stardust de David Bowie.

Já o leve pop semi-eletrônico “Vendaval”, que não à toa remete ao trabalho de Marina Lima, aponta outra peça desse complexo mosaico musical, mas sem se distanciar dos questionamentos mais profundos, das ambiguidades da experiência humana. Enquanto a narradora “queria querer a brisa tranquila” em meio à tempestade, ela confessa, no final, sobre tambores, que o que ela quer é furacão.

Vendaval

Como explica Maranda, “Vendaval” e a debochada e dançante “Desce daí”, a terceira faixa, “são algo da juventude, das coisas autodestrutivas que a gente faz rindo, mas que vão cobrar um preço nas nossas vidas. Mas tudo bem, a gente quer viver essas coisas”. Tudo isso mantendo o humor autodepreciativo do refrão: “Desce daí, menina / Não tem câmera nem close / Desce daí, menina / Tira esse salto / Pra que fazer pose?”.

Aliás, veja “Vendaval” abaixo, e siga lendo:

A vinheta “Eclipse”, diz a cantora, “é quando a conta chega, onde o vento do vendaval vira mesmo”. “Tudo até agora”, que é para ser ouvido como um LP, fecha o lado A com “Vide bula”, que apresenta o sarcasmo pop de outra influência. Neste caso, Rita Lee. A ironia lírica de versos como “Veja a vida como é / Ou vide bula se quiser” é realçada pela moderna guitarra de Diogo Sili, emulando o timbre e os efeitos de Jr. Tostoi, e pelos teclados e arranjo de Gui Marques, que assina a produção do disco.

O lado B traz quatro afiadas parcerias com a escritora Mari Morsch, amiga de infância de Maranda, assim como a única canção não autoral da coleção, “Busca vida”, de Herbert Vianna, lançado no disco “Nove luas” (1996) dos Paralamas do Sucesso. Na versão minimalista, a recriação harmônica de Marques faz a cama para a cantora deitar a melodia da letra, em perfeita sintonia com as reflexões cósmicas do álbum.

Com Morsch, ela assina quatro faixas: “Trajetória”, “Três da manhã”, “Terra” e o single “Corpo de lata”, de versos como “Quando me mataram / Nasci em metal / E no circuito / Eu recomeço”. “É uma letra que me comoveu muito. Vem de um lugar de raiva e, ao mesmo tempo, aceitação das coisas que somos e também das que jamais seremos. É também sobre a força feminina, porque vivemos no patriarcado e nossos corpos são considerados mais frágeis, como se não aguentássemos. Ela contesta e subverte essa visão através da afirmação de uma perspectiva diferente”, avalia Maranda.

Além disso, olha o clipe de “Corpo de Lata”:

“Tudo até agora” nos deixa espiar pela fresta do caleidoscópio musical da jovem artista, que iniciou a carreira musical aos 16 anos, com a banda Academia Circense, trilha sonora da novela adolescente “Malhação”. Formada em Direito, sem ter exercido a profissão, Maranda fez carreira no mercado editorial e, nos últimos anos, ajudou a fundar o bloco feminino Calcinhas Bélicas e tocou surdo em outros tantos, como Orquestra Voadora, Studio 69 e Surdos e Mundos. Agora, ela lança seu primeiro disco. E deixa nos ouvidos a vontade de escutar seus próximos tudos daqui para a frente.

*Texto por Sérgio Luz, jornalista, crítico musical e mestrando em História do Brasil na Universidade de Lisboa, onde pesquisa música popular

Enfim, se liga no pré-save da música: https://tratore.ffm.to/tudoateagora 

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Música

Bernardo Lobo lança álbum produzido por Marcelo Camelo

O cantor e compositor carioca Bernardo Lobo, lança “Bons Ventos”, o oitavo de sua discografia.

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Bernardo Lobo

Hoje, 3 de outubro, é dia de lançamento! O cantor e compositor carioca Bernardo Lobo, lança “Bons Ventos”, o oitavo de sua discografia. Gravado em Lisboa, o álbum que leva o nome de uma canção inédita no título, marca os 30 anos de carreira. Aliás, também comemora os 50 anos de idade de Bernardo, que fez aniversário no dia 9 de setembro.

O álbum já está disponível em todas as plataformas. Contudo, se estiver curioso para ouvir logo o álbum, é só clicar aqui.

Reencontro em Lisboa

A produção musical é de Marcelo Camelo, que participou da seleção do repertório e toca quase todos os instrumentos no álbum: guitarra, piano, baixo, bem como bateria e percussão.

Apesar de terem morado no mesmo prédio, no bairro do Leblon, Bernardo, todavia, cruzou poucas vezes com Camelo no Rio de Janeiro. Anos depois, mesmo radicados em Lisboa, os dois só vieram a se encontrar quando surgiu a ideia de convidar o vocalista do Los Hermanos para produzir o novo álbum. “Consegui o contato do Camelo, contei a ele sobre o novo projeto e ele topou na hora, disponibilizando o seu estúdio, o Estrela, pra gente gravar”, conta Bernardo.

Na primeira visita ao estúdio, Bernardo Lobo mostrou uma pré-seleção de canções inéditas. “Mostrei 16 músicas para o Camelo escolher oito, e pedi que ele selecionasse as que ele achasse mais comunicativas. Quando ele retornou com a lista dele, era quase igual a minha.”

Composições conjuntas

As oito canções que fazem parte de “Bons Ventos” trazem parcerias de Bernardo com compositores diversos. A faixa que abre o álbum, por exemplo, chamada “Do Rio de Janeiro”, foi composta juntamente com o cantor, compositor e produtor musical Mú Chebabi.

“O Mú é um grande amigo, além de parceiro. Ele passou uma temporada morando comigo, em Lisboa, e a gente compunha todos os dias. Fizemos cerca de 20 músicas nesse período. Essa tem uma história curiosa: o Mú refez a segunda parte da letra, que falava na África, tema que pode ser muito sensível, e eu adorei o resultado. Ela fala do Rio de Janeiro e de Lisboa, as duas cidades que eu amo. Ficou linda”, finaliza Bernardo Lobo.

“Do Rio de Janeiro”, contudo, não é a única música que homenageia a cidade. “No Leblon”, composta com Edu Krieger, parceiro de longa data de Bernardo, leva o nome do bairro em que o cantor residia. Apesar de estar pronta há bastante tempo, o cantor sentiu que agora era hora de gravá-la. Outro parceiro antigo que está presente no álbum é Moyseis Marques. Com ele, Lobo compôs o samba “Arrebentação”.

Parcerias nacionais e internacionais

Tiago Torres da Silva, poeta português que já compôs com Ivan Lins e Francis Hime, aparece em três inéditas. “Postei uma música minha nas redes sociais e o Tiago fez contato pra dizer que a gente tinha que compor em parceria. Passei a mandar melodias pra ele e acabamos fazendo umas 10 músicas juntos”, lembra Bernardo. Uma delas é “Vai e vem”,melodia de Humberto Araújo e Bernardo Lobo, para a qual o português escreveu a letra. Ela faz uma analogia entre o samba e o fado.

“D.R.” é uma parceria bem humorada com Nelson Motta, que fala sobre as discussões que rondam, sobretudo, as relações amorosas: “O Nelsinho eu conheço desde criança. Um belo dia ele me ligou e disse ‘Bena, tá na hora de sermos parceiros’. Em seguida me pediu pra mandar três melodias. Ele escolheria uma para fazer a letra e mandar para a minha mãe, Wanda Sá, que estava gravando um disco à época. O mais engraçado é que eu sempre tenho melodias guardadas, mas quando o Nelsinho falou comigo, eu estava envolvido com outras coisas, não andava compondo muito. Como não poderia deixar de atendê-lo, fui para o violão e fiz três músicas em dois dias! É uma honra ser parceiro do Nelson Motta”, pontua.

Por fim, fique com a música que dá título ao álbum:

Ficha técnica

Bons ventos – Bernardo Lobo

Gravadora: Biscoito Fino

Produção: Marcelo Camelo

Gravado e mixado no estúdio Estrela, em Lisboa, por Ricardo Riquier

Masterizado no estúdio Universo Fantástico, em Nova Iorque, por Alexandre Vaz

Fotos: Arthur Rangel

Designer da capa: Nário Nascimento

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