E triste pensar que um filme com uma temática tão importante não funciona. Nem para crianças. Porque as crianças e adolescentes de hoje em dia não aceitam mais qualquer tipo de obra audiovisual. Elas cresceram acostumadas a assistir produções feitas exclusivamente para elas, então há um maior senso crítico. principalmente adolescentes e pré-adolescentes. Portanto, Chama a Bebel deixa bastante a desejar. É triste porque, como dito antes, o tema é muito importante. Fala sobre meio ambiente, sustentabilidade e acessibilidade. Há também uma importante e essencial representação de duas pessoas cadeirantes como personagens principais do filme. Uma sendo a própria Bebel do título, e a outra o professor da escola onde Bebel estuda, que é o fio condutor para toda a história do filme. Porém, é possível que o público-alvo do longa não se empolgue muito com ele. E, portanto, a mensagem não seja passada.
Contudo, antes de entrar em mais detalhes, vamos à sinopse:
Chama a Bebel acompanha a jornada de Maria Isabel, ou Bebel, uma brilhante garota que se muda do interior para a cidade grande. A personagem enfrenta as adversidades de um ambiente desconhecido, desafia estudantes populares do colégio e até um inimigo poderoso – um empresário da cidade que faz testes laboratoriais em animais – para defender suas causas. Mudar hábitos e comportamentos é sua meta e a sustentabilidade é seu princípio orientador.
Para exemplificar, fique com o trailer:
Roteiro fraco com atuações boas
Com direção e roteiro de Paulo Nacimento, o longa é protagonizado por Giulia Benite (a Mônica dos filmes da Turma da Mônica). Além disso, também conta com Rafa Muller, Pedro Motta, Sofia Cordeiro, Antônio Zeni, Gustavo Coelho, Flor Gil, Bele Rezzadori, Laura Souza e Luisa Sayuri. Tem as participações de Flávia Garrafa, Marcos Breda, Larissa Maciel, Evandro Soldatelli e José Rubens Chachá.
E são os atores que, em muitas cenas, salvam o filme. Porque o roteiro é bem fraco. Está claro que o intuito do filme é ensinar ao espectador sobre sustentabilidade. Porém, ele faz isso de uma forma didática demais, que deixa o enredo e principalmente os diálogos muito forçados e duros. É possível passar informação sem ser demasiadamente professoral. Afinal, é muito importante, sim, que o audiovisual faça a função de ensinar e usar a imensa plataforma que tem para passar assuntos sérios a quem vai assistir. Contudo, é importante deixar esses momentos de “ensinamento” mais fluidos, e não é o caso neste filme.
Todavia, as cenas em que Bebel interage com a tia, que como disse a própria intérprete, Flavia Garrafa, é o contraponto a Bebel, ou seja, totalmente politicamente incorreta, são de cortar o coração. E nelas é possível ver a maturidade dramática de Giulia Benite, que, junto com Flávia, carrega o filme nas costas. E não somente por ser a protagonista, mas por deixar muito claro, até nas cenas em que os diálogos não são lá muito bons, que já é uma grande atriz, mesmo com a tenra idade de 15 anos.
Representação
Apesar do roteiro fraco, o filme tem seus pontos positivos. Ele consegue passar com clareza as informações sobre sustentabilidade que quer passar. Óbvio que é somente um começo, porque não é possível um filme de 90 minutos ensinar tudo que há para saber sobre sustentabilidade. Porém, pode dar um pontapé inicial para o espectador se interessar pelo assunto e buscar mais informações. E se atentar que a preocupação com o meio ambiente não é modinha e é algo para ser feito agora, e não daqui a uns anos.
Outro ponto positivo é o fato já mencionado anteriormente sobre acessibilidade. Haver uma protagonista cadeirante e essa não ser a principal característica dela, e, além disso, não ser algo comentado toda hora, já é um grande avanço. Acredito que muitas crianças PCD (sigla que significa “pessoa com deficiência”) poderão, finalmente, se enxergar na tela do cinema, e em papel de destaque. Além disso, há uma segunda pessoa cadeirante, o professor Denis, interpretado por Rafa Muller. Em coletiva de imprensa, inclusive, o ator expressou o quanto foi importante para ele ver duas cadeiras em cena. “Me sinto representando e representado. O filme lembra o que a gente é capaz de fazer.”, concluiu.
Sustentabilidade dentro e fora de cena
É importante dizer que Chama a Bebel não fala sobre sustentabilidade “da boca pra fora”. Toda a produção do filme foi feita a partir desse conceito. Por exemplo, as mochilas e os uniformes dos personagens foram feitos de material reciclado. Além disso, verificando problemas de locomoção para Rafa Muller no estúdio, a produção percebeu vários aspectos sobre acessibilidade que colocaram em prática já nessa filmagem e colocarão em prática nas próximas produções.
Por fim, um recado de Giulia Benite, que também é produtora associada de Chama a Bebel:
“Queremos fazer as pessoas refletirem, principalmente. Que o filme consiga influenciar as pessoas para termos mais Bebels no futuro.”
Chama a Bebel estreou esta qunta-feira, dia 11 de janeiro, nas salas cinema de várias cidades do Brasil.

Ademais, o diretor Paulo Nascimento aproveitou a coletiva para convidar a todos para o lançamento do livro Chama a Bebel. Adaptação do roteiro do longa, o livro será publicado pelo selo Lucens Editorial, da Citadel Grupo Editorial. O evento ocorrerá no sábado, dia 13 de janeiro, às 11h, na Drummond Livraria (Av. Paulista, 2.073, loja 153), em São Paulo.
Ficha técnica
CHAMA A BEBEL
Brasil | 2024 | 1h30min. | Aventura, Família
Direção e roteiro: Paulo Nascimento
Caracterização: Val Oliveira
Direção de Fotografia: Renato Falcão
Figurino: Carol Scortegagna
Direção de Arte: Eduardo Antunes e Cristobal Alvarez (assistente)
Edição de Som: Marcelo Armani, Walther Neto
Montagem: Marcio Papel
Produção Executiva: Marilaine Castro da Costa, Flavio Barboza
Produtores Associados: Giulia Benite
Distribuição: Paris Filmes
Produção: Accorde Filmes
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