O longa, com um humor tipicamente argentino que provoca risos de nervoso com as ironias da vida enquanto desenvolve críticas sociais tem o roteiro e o ritmo de direção prontos para deixar o público em suspensão (enquanto o faz rir de si mesmo).
As críticas ao sistema de trabalho são fortes. O longa começa apresentando a enfadonha vida de um homem que trabalha no banco, faz as mesmas atividades mecânicas por anos e acompanha esse personagem até que ele decide roubar um cofre. Diferente de um filme clássico de roubo, com planos de fuga, máfia e contas bancárias no exterior, o protagonista simplesmente se entrega para a polícia. Isso porque ele decide envolver um de seus colegas bancários pedindo para que ele guarde o dinheiro até sua saída da prisão.
O debate que o roteiro propõe é: se o modelo de trabalho já é uma prisão, pelo menos na cadeia demoraria menos para ficar com um dinheiro equivalente à aposentadoria.
A premissa já traz uma fácil identificação com esses protagonistas. Pessoas comuns que simplesmente decidem pensar fora da caixa num ato desesperado de revolta contra o sistema. Claro que a escolha por cometer um crime, as dificuldades que aparecem na cadeia e alguns desenvolvimentos amorosos despertam o distanciamento necessário para boas risadas (de nervoso).
Os nomes dos colegas de trabalhos envolvidos no roubo são “Morán” e “Román”, detalhes brilhantes para movimentar o sentimento de que, o crime poderia ser cometido por qualquer um. O assaltante é só um sujeito comum em uma tarde em que decide roubar um banco. Somos, inclusive, alertados nos primeiros minutos de filme que confusões como essas são coincidências da vida e cutucadas do roteiro. Uma cena mostra os funcionários do banco descobrindo que dois de seus clientes tem assinaturas idênticas, sem que eles se conheçam ou que tenham nomes iguais.
Outro ponto interessante do filme são as provocações que desembocam na complexidade da sociedade atual. A cadeia de informações e a ameaça de descredibilização do banco do dia para a noite, por exemplo, são elementos que mudam a perspectiva sobre a forma de lidar com o assalto e reforçam a sociedade do trabalho.
Por fim, ‘Os delinquentes’ escrito e dirigido por Rodrigo Moreno é um excelente filme abordando um roubo à um banco de uma forma bem sul-americana que esbanja humor, ironia e catarse. O longa, que marcou presença no Festival do Rio, conta com um elenco talentoso e sagaz. É imperdível!