Cinema
Conheça três filmes de amor para aprender sobre esse sentimento
Publicado
3 anos atrásem
Por
Felipe Novoa
Filmes de amor… Estamos todos buscando ativamente uma forma de nos aquecer enquanto sobrevivemos a esse inverno e ao distanciamento social. Muitos estão longe dos seus benquistos, bem-amados e caras metades, muitos não podem ver ou abraçar suas famílias, muitos estão presos em terras distantes sem perspectiva de um retorno. Com um tempo permanentemente fechado e soturno é difícil ver a primavera que tarda mas há de chegar. A crise vai passar, vamos voltar aos braços dos que amamos e nossas vidas vão retornar aos trilhos. Nesse momento é interessante analisar três filmes recentes que tratam sobre três amores em três eras e universos diferentes. Além disso, três visões íntimas e profundamente tocantes sobre como o amor afeta as nossas vidas das maneiras mais acentuadas e tocantes.
O começo de um amor é sempre incerto e temeroso, um relacionamento pode começar tanto gradualmente quanto como um raio traçando o céu. Talvez seja essa a beleza máxima do amor, a sua imprevisibilidade, a sua mutabilidade, a sua capacidade de nos trazer aos prantos e joelhos, revelando que até a pessoa mais impávida pode ser tocada. Também é interessante notar que o amor não necessariamente significa puramente a paixão romântica, mas também a afeição e cuidado intensos que sentimos por aqueles aos quais somos família, amigos, pais, filhos. O amor é uma força arrebatadora, podendo nos levar aos cantos mais escuros que a alma humana pode ter. Inclusive, liberta as emoções mais enrustidas que teimamos em ocultar e nos levando a atos insanos, nos desacanhando de todo tabu em nome de proteger aqueles que amamos.
Três das melhores obras do cinema contemporâneo ocidental
Pode parecer que eu ainda não tenha dito uma palavra sobre cinema, mas falei sobre os temas principais de três das melhores obras do cinema contemporâneo ocidental já vistas na última década. História de um Casamento, Trama Fantasma e Retrato de Uma Jovem em Chamas são os longas que escolhi por serem claros em sua missão: retratar o amor, entretanto eles o fazem como eu jamais vi antes. A realidade das situações, as conversas pessoais, os exemplos de domesticidade, tudo foi ponderado profundamente, tendo em vista a demonstração clara e inequívoca de como duas almas se amalgamam em uma durante o amor.
História de um Casamento
História de um Casamento (2019), do diretor estadunidense Noah Baumbach, trata ironicamente de um divórcio. O fim de um relacionamento longo, com prole, entre um diretor de teatro e a sua musa. Essa fissão é dolorosa, com baixas nos dois lados, mas essencialmente dolorosa. É quase possível afirmar que História de um Casamento é sobre a dor: a dor profunda de ver que a pessoa que você amava não te ama mais como te amou dias atrás, a dor de ver algo construído se desmoronar, a dor das traições, a dor que o medo do futuro trás. Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson) estão tentando lidar com essa separação da melhor forma possível enquanto cuidam das suas vidas e de uma mudança para o outro lado dos Estados Unidos.
Esse território novo que ambos têm de desbravar sozinhos é mais perigoso ainda agora que ambos parecem estar jogando em times inimigos. Mas mesmo assim a beleza desse filme é visível, seja na formalidade desconfortável que eles usam para se tratar onde houve outrora um amor e na melancolia em que se observam após o divórcio. Num pequeno adendo, só quero lembrar que a performance da Laura Dern como a advogada Nora Fanshaw foi absurda e positivamente merecedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
Trama Fantasma
Paul Thomas Anderson dirigiu Trama Fantasma (2017), tratando sobre o amor entre o difícil porém genial costureiro inglês Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) e Alma (Vicky Krieps), sua modelo e amante. Esse longa metragem de época se passa na Londres dos anos 1950. O filme mostra o desenvolvimento de uma paixão entre uma ex-garçonete e um designer de moda requisitadíssimo de Londres. Reynolds se apaixona à primeira vista por Alma, ela se muda para morar com Reynolds e gradualmente eles se aproximam apesar dos caprichos dele que a ofendem.
O sagrado trabalho de Reynolds é mantido intocado pela tutela de sua irmã Cyril (Lesley Manville) que é tão severa quanto ao irmão. Ambos parecem funcionar exclusivamente em prol dos belíssimos vestidos produzidos pela House of Woodcock que deleitam a alta classe britânica e europeia. A chegada de Alma parece trazer uma perturbação a casa/estúdio de Reynolds, mas essa perturbação é positiva, ela instiga nosso galante protagonista a reavaliar suas ações e como ele vê e trata aquela a seu lado. Isso é quase perturbador de tão absurda essa situação. Contudo, ela revela um comprometimento e amor tão profundo e estranho que é difícil não comparar a Síndrome de Munchausen ou algum nível de BDSM ultra doméstico. Seja lá o que isso for é belo além do normal.
Retrato de Uma Jovem em Chamas
Retrato de Uma Jovem em Chamas (2019), da diretora francesa Céline Sciamma, é um daqueles filmes difíceis de descrever pela pura beleza que demonstra. Não me sinto merecedor de julgar ou descrever essa obra sublime, entretanto farei esse sacrifício pelo benefício do meu leitor. A pintora Marianne (Noémie Merlant) é contratada para fazer o retrato da ex-freira Héloïse (Adèle Haenel). A dificuldade dessa tarefa está em Héloïse se negar em ser pintada, dessa forma nega o seu casamento, Marianne deve fingir ser uma dama de companhia durante caminhadas pela praia para poder observá-la e depois pintá-la no retorno ao seu lar.
Com o passar dos dias a presença de uma donzela com a outra cria uma aura de paz e amizade que permite com que elas se tornem mais próximas do que companhia/retratista e retratada. Essa intimidade acaba trazendo um conflito moral a Marianne, estar contrariando a vontade de Héloïse e estar pintando às escondidas.
O relacionamento entre elas evolui quando Héloïse vê o retrato e francamente diz que não concorda com a forma como foi retratada. Inesperadamente Héloïse concorda em ser pintada. A partir disso, o espaço que existia entre ela e Marianne se dissolve lentamente. Isso acaba trazendo à tona um amor belíssimo que retrata a situação das mulheres no século XVIII. Retrato de Uma Jovem em Chamas ganhou diversos prêmios ao redor do mundo, entre eles a Palma Queer e Melhor Roteiro em Cannes. Claramente fortalece a presença e alcance de toda uma geração de filmes que retratam as vivências LGBTQ+ que estão por vir.
Três histórias de artistas e suas musas, que nos mostram o mundo atemporal em que nos encontramos suspensos quando amamos, longe da presença dos outros, onde apenas duas essências existem e se unem.
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Crítico/fotógrafo. Atualmente focando na graduação em jornalismo e escrevendo muito.

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Cinema
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‘Meu Vizinho Adolf’ aborda as consequências do nazismo em uma dramédia tocante.
Publicado
4 dias atrásem
25 de maio de 2023Por
Rodrigo Adami
Após a Segunda Guerra Mundial muitos nazistas se refugiaram na América do Sul, algo que já foi abordado das mais diversas formas no cinema. Meu Vizinho Adolf, traz o tema novamente agora colocando um suposto Hitler como vizinho de um judeu que sofreu com o Holocausto. Um tema delicado que o diretor Leon Prudovsky consegue tratar bem e com um tom de humor mais discreto.
Mr. Polsky (David Hayman) perdeu toda sua amada família e decidiu viver isolado em uma velha casa na Argentina. Sua paz termina quando Mr. Herzog (Udo Kier), um alemão irritadiço, se muda para a casa ao lado. A aparência e o comportamento dele fazem com que Polsky desconfie que seja Adolf Hitler disfarçado.
Um clima triste mas que ainda nos faz rir
O personagem de Hayman passou anos evitando contato humano, sequer aprendeu espanhol, ele carrega uma dor que aperta o coração desde o início. Ainda, assim ele é um velho teimoso e também ranzinza do tipo que nos faz rir. Ao colocar na cabeça que seu vizinho é o próprio Führer, ele tenta alertar as autoridades sem sucesso.
Com isso Polsky começa a estudar a figura funesta para poder provar sua teoria. Todas as brigas e tentativas de invasão e espionagem são divertidas, não é aquele humor de fazer gargalhar e provavelmente não era essa a intenção do diretor. Conforme o filme avança, ambos vão criando uma amizade que obviamente é extremamente incômoda para Polsky. Mas ele começa a achar que estava errado até encontrar provas um pouco mais substanciais.
Um filme simples mas bem feito
Meu Vizinho Adolf não é um longa que exige cenários grandiosos, é tudo muito simples, são poucas locações. O foco são as atuações de David Hayman e Udo Kier que consegue cativar. Ambos os personagens carregam um passado cruel e toda a dor que eles sentem é revivida com força no final. A comédia fica um pouco de lado para falar de algo sério de forma acertada. Ao final temos um bom filme que consegue mostrar a crueldade do nazismo sem ter que colocar nenhuma cena pesada demais.
Estreando hoje nos cinemas brasileiros, Meu Vizinho Adolf é uma boa opção para quem quer fugir dos pipocões. Fique com o trailer:
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