Convenção das Bruxas completou 30 anos de lançamento em 25 de maio deste ano e ganhou um remake pela Warner Bros. Tornando-se um clássico cult, trouxe uma Anjelica Huston apavorante na pele da Grande Rainha Bruxa, que pairou no imaginário de muitos hoje adultos.
Assim, baseada no livro As Bruxas (The Witches, 1983), de Roald Dahl, a trama conta a história de Luke e sua avó, que estão hospedados no mesmo hotel que um grupo de bruxas que planeja transformar todas as crianças em ratos. Pego espionando a convenção de bruxas e sendo transformado em rato, Luke tenta impedir os planos delas, junto de sua avó e de seus amigos ratos. O longa conta com a direção de Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro, Forrest Gump) e coprodução dos consagrados Alfonso Cuarón e Guillermo del Toro. No Brasil, o filme estreia dia 19 de novembro.
Representatividade é o diferencial
O remake, que ambiciona conquistar novos fãs do clássico cult, vem repaginado com efeitos especiais e com uma leve crítica à discriminação socioeconômica e racial e traz o recado de que todos merecem ser amados, independente de como são ou do que têm. Com isso, torna-se este o diferencial comparado ao Convenção das Bruxas dos anos 90 no qual não havia um pingo de representatividade. Neste, temos bruxas negras e brancas e contamos com o núcleo da família West composto por personagens negros. A maravilhosa Octavia Spencer encarna a dócil, porém enérgica avó, o cativante Luke é interpretado pelo ator mirim Jahzir Bruno e Chris Rock empresta sua voz ao ratinho Luke.
A cidade em que se passa a trama não é escolhida à toa. Alabama tem em sua história episódios repugnantes de racismo escancarado, como o de Rosa Parks – mulher negra que se recusou a ceder seu lugar a um homem branco no ônibus – e lutas pelo fim da segregação racial, como a marcha pacífica encabeçada por Martin Luther King. A saber, o filme se passa em 1968, no auge da segregação racial no estado, enquanto que no filme original, passava-se na Inglaterra.
Caracterização polêmica
As bruxas são caracterizadas com pés sem dedos e mãos com dedos ausentes, semelhantes à ectrodactilia, o que gerou uma reativa na comunidade de pessoas com membros com má formação. Ter personagens assustadores com a deficiência poderia gerar estigmatização e rejeição de pessoas com essa condição física, segundo a comunidade. Anne Hathaway usou o Instagram da Lucky Fin Project, ONG americana, para se desculpar com todos aqueles que se sentiram atingidos pelo filme:
“Eu descobri recentemente que muitas pessoas com diferenças de dedos, especialmente crianças, estão sofrendo por causa da representação da minha personagem em ‘Convenção das Bruxas’. Deixe-me começar dizendo que faço o meu melhor para ser sensível aos sentimentos e experiências dos outros, não por causa de algum medo, mas porque não machucar os outros parece um nível básico de decência pelo qual todos deveríamos nos esforçar.”
A Warner emitiu comunicado aos espectadores alegando que a intenção era trazer outra roupagem às bruxas e não ferir a imagem de pessoas com deficiência:
“Estamos profundamente tristes ao saber que nossa representação dos personagens fictícios em ‘Convenção das Bruxas’ pode ter incomodado pessoas com deficiência. Ao adaptar a história original, trabalhamos com designers e artistas para chegar a uma nova interpretação das garras felinas que são descritas no livro. Nunca foi nossa intenção que os espectadores sentissem que as criaturas fantásticas e não humanas deveriam representá-los. Este filme é sobre o poder da bondade e da amizade. Além disso, é nossa esperança que famílias e crianças possam desfrutar do filme e abraçar este tema empoderador e cheio de amor”
Diferenças estilísticas
Na refilmagem, quem encarna o papel da Grande Rainha Bruxa é Anne Hathaway. É inevitável que os fãs do filme original não façam comparações entre as atrizes. Anne recriou a personagem tornando a bruxa teatralizada, exagerada, histérica e com um sotaque caricato. Anjelica era mais soturna, clássica e soberana.
No antecessor, as bruxas tinham uma aparência estilística mais discreta e a forma real da Grande Rainha Bruxa era mais para asquerosa que assustadora, preservando o clichê do narigão e a corcunda de bruxa. Contudo, no remake, temos bruxas chamativas e coloridas. Anne disse em uma entrevista que se inspirou no reality show RuPaul Drag´s Race para compor a extravagância da personagem. O toque pitoresco das feições reais da vilã fica por conta de sua bocarra assustadora à la shinigami Ryuk. Deve garantir pesadelos aos pequenos.
Somado a isso, os efeitos especiais dominam a representação dos animais em cena – gatos, ratos e ratazanas. Inclusive, as aventuras dos ratinhos lembram um tanto o famigerado Stuart Little com pitadas de Ratatouille. Como ver a cena da cozinha e não lembrar dele?
Por fim, revisitar um clássico infantil com um olhar um tanto atravessado acaba sendo uma covardia com o público infantil e infanto-juvenil. No geral, o filme entretém, mas talvez não alcance a consagração de seu homônimo.