Dirigido por Eduardo Boccaletti, 3 atos de Moisés acompanha a jornada do músico Moisés Mattos da infância humilde ao sonho de estudar música na Alemanha, destacando desafios e conquistas.
Em termos de narrativa, um documentário e uma produção de ficção apresentam diversas semelhanças em construção de sua estrutura: a introdução do personagem principal, seus conflitos centrais que precisam ser superados e a clássica jornada do herói que envolve aliados, inimigos, traumas e que é construída sempre de maneira a despertar empatia na audiência. Mesmo sem conhecer profundamente este protagonista, a audiência é convidada a simpatizar com suas lutas e anseios, desejando que ele supere todos os desafios, algo que 3 Atos de Moisés trabalha de forma sutil até demais.
O filme conta a história de Moisés Mattos, um músico de origens humildes que para perseguir seus sonhos, deixa Juiz de Fora para estudar em uma renomada faculdade na Alemanha. A produção organiza-se em três atos que dissecam essa trajetória, se apoiando majoritariamente na própria narração de Moisés, que atua como entrevistado e objeto, relatando como nasceu seu amor pela música, demonstrando seus primeiros contatos com o piano, e focando na determinação que o conduziu até ali, elementos reforçados pelos depoimentos de professores, patrocinadores e apoiadores.

Moisés Mattos em cena de “3 Atos de Moisés”- Divulgação
Embora o lado profissional de Moisés seja amplamente validado ao longo dos três atos, seu lado pessoal permanece menos explorado. Vemos sua conexão com a mãe e sua relação com a igreja, mas faltam depoimentos familiares que criem mais camadas para esse personagem, na medida que a produção opta por se basear quase exclusivamente no ponto de vista do próprio Moisés ou de pessoas que o observam profissionalmente, enfatizando suas habilidades, mas deixando de lado aspectos íntimos que poderiam torná-lo ainda mais complexo e humano.
Entre desabafos sobre sua jornada, registros de aulas e reflexões sobre sonhos, a produção segue um caminho simples e objetivo, sem grandes inovações estéticas ou visuais, atuando como um retrato documental fiel de seu objeto, que ao final resulta em uma certa falta de catarse, elemento essencial em qualquer obra audiovisual, seja ficcional ou documental, e que caso bem utilizada, poderia gerar maior engajamento do público. Com mais de uma hora de duração e alguns momentos de evidente barriga e redundância, fica a reflexão sobre como esses três atos talvez funcionassem melhor dentro de um curta-metragem mais concentrado.
A produção é um grito e um suspiro para aqueles que sonham alto, transmitindo a mensagem de que é preciso trabalho duro e perseverança para alcançar aquilo que mais se deseja. É uma mensagem bonita, até utópica, mas que, paradoxalmente, não encontra total correspondência na maneira como a jornada de Moisés é apresentada.
Mesmo diante dos desafios enfrentados, sua trajetória parece pequena e simples, em parte porque o documentário não confere o peso dramático que ela poderia ter. Um contexto prévio mais robusto sobre sua vida em Juiz de Fora, seja por meio de fotos, vídeos de arquivo ou depoimentos mais íntimos, ajudaria a enriquecer a narrativa e ampliar a compreensão do espectador sobre a dimensão de sua conquista, ao invés de já acompanharmos a sua jornada na Europa, deveríamos ter focado mais em quem era Moisés antes de tudo isso, potencializando a empatia do espectador.

Cartaz Oficial de “3 Atos de Moisés”- Divulgação
Produzido pela É Pra Ontem Filmes e distribuído pela Pipa Pictures, 3 Atos de Moisés estreia nos cinemas no dia 4 de dezembro.
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