Dirigido por Eryk Rocha, A Queda do Céu estreia na COP30 com um retrato profundo dos Yanomami e um alerta sobre a devastação ambiental.
Desde o dia 10 de novembro, Belém recebe a COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, principal fórum global em que quase 200 países se reúnem para negociar medidas de combate ao aquecimento do planeta. Realizada pela primeira vez no Brasil, a conferência discute metas de redução de emissões, transição energética, preservação de florestas, financiamento climático e mecanismos de adaptação a eventos extremos, tornando-se o cenário ideal para a pré-estreia nacional do documentário A Queda do Céu, um retrato lento e grandioso sobre os ritos e tradições do povo Yanomami.
“É emocionante ver o filme chegar aos cinemas no Brasil depois da belíssima trajetória realizada no mundo. A imagem da queda do céu, trazida pelos Yanomami e por Davi Kopenawa, é uma síntese precisa das questões mais urgentes do nosso tempo e do nosso país. O Brasil não se sustenta sem a escuta profunda dos povos indígenas, e o filme é um convite para essa escuta”, comenta o diretor Eryk Rocha.

Cena de A Queda do Céu- Divulgação
Baseado no livro homônimo escrito pelo xamã Davi Kopenawa e pelo antropólogo francês Bruce Albert, A Queda do Céu teve sua estreia mundial no Festival de Cannes e acompanha o líder Yanomami, juntamente com sua comunidade de Watorik? ao longo do importante ritual Reahu, conhecido como o ritual para “segurar o céu”.
Ao longo de uma hora e quarenta minutos, seguimos as etapas desse rito e compreendemos tanto sua potência simbólica quanto o impacto devastador que os invasores tiveram, e ainda têm, sobre a vida Yanomami. Missionários, exploradores, garimpeiros e o “homem branco” em geral aparecem como forças externas que trazem doenças, sofrimento e destruição, num movimento que ecoa o alerta constante de Kopenawa, afinal, seu apelo não é apenas pela sobrevivência de seu povo, mas pela saúde do planeta, que perde suas florestas justamente onde os guardiões originais lutam para preservá-las.
A premissa de A Queda do Céu é, por si só, valiosa e urgente. Enquanto documento antropológico, o filme consegue revelar a beleza da cosmologia Yanomami, a presença dos espíritos xapiri e a força geopolítica que esse conhecimento ancestral carrega, contudo, seu retrato lento e profundamente contemplativo situa a obra mais no território artístico e sensorial do que no cinematográfico tradicional.
Apresenta um ritmo pausado, aliado a longos planos estáticos, como o plano de abertura, que dura quase dez minutos e mostra um grupo Yanomami aproximando-se lentamente da câmera, pode afastar grande parte do público mais tradicional. Essa construção se repete ao longo da produção, privilegiando imagens grandiosas e observacionais que transmitem toda a grandiosidade Yanomami, embora algumas sequências pudessem ter sido melhor lapidadas para oferecer fluidez sem perder densidade poética.

Cena de A Queda do Céu- Divulgação
Eryk Rocha concede a um povo historicamente apagado, menosprezado e visto como inferior, o tempo e o espaço necessários para que a audiência mergulhe em sua realidade, se utilizando da língua tradicional do povo e nos conduzindo desde momentos íntimos, familiares e cotidianos até grandes eventos coletivos do ritual Reahu, criando uma sensação de unidade, resistência e força espiritual, lançando também um alerta destinado àqueles que detêm poder, líderes, cientistas e ambientalistas, que comparecem à COP30.
Mesmo com um ritmo cansativo, a produção se destaca como retrato de uma vida mais simples e ligada a ritos tradicionais, em mundo que frequentemente sacrifica tradições e vidas em nome do lucro, assim, a presença de A Queda do Céu na conferência reforça a urgência de ouvir os povos originários, reconhecer seu papel fundamental na proteção da Terra, e as decisões que devemos tomar pelo bem do planeta, antes que seja tarde demais.
Distribuído pela Gullane +, A Queda do Céu estreia nos cinemas no dia 20 de Novembro.
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