Crítica
Crítica | A Superfantástica História do Balão
Os traumas e o sucesso de um fenômeno dos anos 80
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3 meses atrásem

Dentre os lançamentos do streaming Star + de julho está a série documental “A Superfantástica História do Balão”. A obra apresenta uma narrativa cativante que conta a história do Balão Mágico, um grupo infantil que alcançou um sucesso estrondoso nos anos 80 no Brasil. Além de proporcionar uma visão abrangente desse período, a série também explora com eficiência a criação do grupo e suas dinâmicas internas. Os telespectadores são apresentados aos compositores por trás das músicas, os diretores do programa televisivo e os testemunhos de alguns dos artistas que fizeram participações nos discos e programas.
O Balão Mágico foi um grupo musical infantil brasileiro que alcançou grande popularidade nas décadas de 1980 e 1990. Formado por Simony, Jairzinho, Tob e Mike, o grupo lançou diversos álbuns e conquistou o público com músicas alegres e cativantes.
Com canções como “Superfantástico” e “Se Enamora”, o Balão Mágico animou gerações de crianças, apresentando um repertório divertido e voltado para o público infanto-juvenil, com bastante qualidade musical. Além de suas músicas, o grupo também protagonizou um programa de televisão homônimo, onde interagiam com o público infantil em cenários coloridos e animados. O grupo marcou uma era na música infantil brasileira e na televisão.
Reunião
Na série temos a oportunidade de acompanhar a reunião do Balão Mágico original e ver como as crianças se tornaram grandes celebridades. Uma das facetas mais interessantes é a oportunidade de conhecer as peculiaridades de cada membro da equipe. Tob, com sua timidez e fofura; Simone, com seu carisma e habilidade vocal; Mike, o furacão bagunceiro e extrovertido; e Jairzinho, que se destaca por sua capacidade de encantar e também por representar a comunidade negra, ao ter entrado no terceiro disco do grupo. Aliás, é realmente bonito testemunhar essa representatividade. É onde vemos, por exemplo, a emoção no testemunho de Lázaro Ramos compartilhando como foi ver Jairzinho no Balão Mágico e como isso influenciou sua própria vida. Mesmo como multirartista consagrado, ele relembra o nervosismo que sentiu ao encontrar Jair Oliveira anos depois já adulto.
A obra mostra bem o impacto que o Balão Mágico e sua riqueza musical tiveram sobre diversos artistas e sobre o público brasileiro. A princípio, no primeiro episódio, vemos toda a magia e pioneirismo do grupo. É um início mais leve, nostálgico, mas que termina com um gancho intrigante, criando muitas expectativas para o segundo episódio, que marca uma mudança de empresário e o início de uma nova fase para o grupo, com mais dinheiro envolvido. No entanto, junto com o sucesso financeiro, começam a surgir problemas, afetando alguns membros de forma desigual.
Aliás, veja o trailer de “A Superfantástica História do Balão” em seguida, e siga lendo:
No segundo capítulo, a série mergulha mais profundamente nas dificuldades enfrentadas por aquelas crianças celebridades. Explora-se o aspecto psicológico, incluindo o bullying que algumas delas enfrentaram e a solidão que às vezes surgia como resultado de sua fama. É nesse ponto que percebemos alguns dos traumas únicos pelos quais esses ex-integrantes do Balão Mágico.
Além disso, a série documental tem o mérito de trazer à tona símbolos marcantes daquela época, brincando com elementos como videocassetes, discos de vinil e edições de músicas. Esses detalhes ajudam a recriar o clima da década de 80 e a imergir ainda mais o público na história do Balão.
“A Superfantástica História do Balão” vai num crescente, da nostalgia e leveza até o drama. O terceiro e último episódio mostra o que aconteceu com os integrantes na vida adulta, suas escolhas e caminhos. Maratonei a série e vi todos os episódios de uma vez só, de tanto que conseguiu me prender e entreter.
Em suma, a série do Star + sobre o Balão Mágico é envolvente e proporciona uma perspectiva fascinante dos anos 80 no Brasil. Ao explorar a criação do grupo e os diferentes desafios enfrentados por seus integrantes, ela revela não apenas a magia e o sucesso, mas também as dificuldades e os traumas associados à fama precoce. “A Superfantástica História do Balão” é uma série documental que certamente pode cativar muitos espectadores, principalmente os que acompanharam o fenômeno de alguma forma, mas também quem não viveu, como aprendizado, afinal, traz muitas reflexões sobre uma das mais icônicas experiências musicais da infância de muitos brasileiros.
Jornalista especializado em Jornalismo Cultural pela UERJ.

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Notícias Populares | Série sobre jornal de São Paulo estreia no Canal Brasil
A série Notícias Populares estreia essa sexta-feira, 29 de setembro, no Canal Brasil. Ela mostra o dia a dia da redação do famoso jornal.
Publicado
3 dias atrásem
29 de setembro de 2023Por
Livia Brazil
Já ouviu falar de Notícias Populares? Pois hoje é dia. Da série, não do jornal. Essa série que é baseada no jornal, já que foi criada pelo jornalista André Barcinski, que de fato trabalhou no Notícias Populares por um ano e meio, e pelo cineasta Marcelo Caetano.
André conta que a ideia de fazer algo baseado no “Notícias Populares” já existe há muito tempo. “Vi no jornal uma escola muito grande de jornalismo cultural.”, diz. “É uma história que me fascina.”
Notícias Populares estreia hoje, dia 29 de setembro, às 22:30. Seu lançamento faz parte dos 25 anos do Canal Brasil, onde a série será exibida. Ao todo, serão sete episódios, lançados toda sexta-feira.
Pra entrar no clima, fique com o trailer:
Notícias Populares – O jornal
O “Notícias Populares”, mais conhecido como NP, foi um jornal de São Paulo. Circulou por quase 38 anos, entre outubro de 1963 e janeiro de 2001. Era conhecido por suas matérias sensacionalistas e escandalosas, que deixavam dúvida se eram verdadeiras ou não. Notícias como “Bebê Diabo” e “Gangue dos palhaços” foram temas do NP. Mas ele também foi precursor e avant-garde em algumas áreas. Foi, por exemplo, o segundo meio de comunicação do Brasil a ter uma coluna LGBTQIAP+. E a tratar pessoas dessa comunidade com respeito. Também havia mais profissionais negros e editoras mulheres do que em outros jornais.
Por ser popular, não era muito bem-visto. Era publicado pelo Grupo Folha, mas sua estrutura estava longe de ser a mesma de outros jornais do grupo. Os computadores, por exemplo, eram todos de segunda-mão. Quase tudo por lá era de segunda mão, aliás. O que a “Folha de São Paulo” não queria mais, enviava para o “Notícias Populares”. Portanto, era um ambiente bem desordenado. Por causa da estrutura, mas também pelo tipo de notícia que cobria. E por sempre receber visitas do público na redação.
É esse ambiente de caos que o espectador poderá ver na série.
Notícias Populares – A série
É início dos anos 90. O “Notícias Populares” está em crise. Vem sofrendo muitas críticas exatamente por seu teor sensacionalista. Para colocar ordem (ou tentar) na loucura que é o NP, chega Paloma. Vinda de Paris, onde trabalhou como correspondente de um dos maiores jornais do Brasil. Seu objetivo – e o que lhe foi prometido – é ficar seis meses no Notícias Populares, organizar a bagunça e ir para a Folha. Mas ela vai ver que não vai ser tão simples assim.

A personagem de Paloma, interpretada por Luciana Paes, não existiu. Ela está ali como uma representação do espectador, jogado aos leões, no meio da desordem que é a redação do NP. Paloma, assim como quem assiste, não sabe como aquele jornal funciona. Ela vem de fora, vem da Europa, não está mais acostumada com o Brasil. Muito menos com o Brasil “de verdade”, o Brasil sem frescura que é o NP. Luciana Paes está no ponto na pele da jornalista. Acostumada a fazer comédia e personagens mais escrachados, que externalizam muito no corpo, a forma como Luciana interpreta o jeito comedido de Paloma faz o espectador sentir junto com ela todo seu incômodo.
Cenografia
Apesar de Paloma não ter existido, grande parte do que se vê na tela é real. Ou foi. Não de forma exata. Até porque a intenção dos criadores não era de documentação, e sim de ficção. Mas muito do que ocorreu no Notícias Populares pode ser visto na série. Como as matérias bizarras. A cada episódio, o espectador se depara com uma das notícias que o jornal realmente publicou. O Bebê-diabo está lá. A Gangue dos Palhaços também. E muitas outras esquisitices.
O que também está lá são vários objetos que existiram na redação. Não o mesmo objeto, mas reproduções. A produção da série teve acesso a um documentário feito dentro da redação do jornal, portanto tiveram muita matéria-prima para reproduzir o cenário tal qual era nos anos 1990. Gravada em dos prédios do jornal Folha de São Paulo, o fato também ajudou a levar o clima do NP para as telas.
Estética e clima
Esse vibe meio trash da série permitiu que produção e elenco abusassem dos exageros. Isso ajuda o espectador que nunca teve contato com o Notícias Populares a entender o que era ler o jornal na época. Chegar na banca de jornal e ler reportagens absurdas. Essa era a intenção do diretor com o tom absurdo e excessivo visto na tela.
Assumidamente com referência de Pedro Almodovar, é possível notar a inspiração nas cores utilizadas tanto em figurinos e cenários, quanto na própria fotografia. Bruna Linzmeyer, que interpreta a personagem Rata, que aparece nos últimos episódios, diz que uma de suas referências foi Andrea Cara Cortada, de Kika, longa do diretor. Ana Flávia Cavalcanti, que dá vida à Greta, colunista social do NP, disse ter aproveitado para atuar um tom mais acima do que está acostumada, o que, segunda ela, foi muito divertido de se fazer.

Aliás, os personagens são um caso à parte e cada um deles poderia virar uma matéria no jornal, de tão interessantes e únicos. Do diretor do jornal ao “foca” (jornalista novato), passando pelos personagens das matérias, todos têm características irreverentes que divertem o espectador. Indo quase para um extremo, um absurdo, meio nonsense, mas conseguindo parar bem no momento que seria demais. Bem no clima do jornal mesmo. Essa é uma das características mais fascinantes da série: valorizar o que se considera ridículo em cada pessoa.
Diversidade
Por falar em personagens, uma curiosidade: para Notícias Populares, houve inscrição online para o elenco. O diretor revelou que acha primordial haver sempre renovação de casting, para não se ter sempre as mesmas pessoas nas produções. “É vital para ter novos rostos surgindo e de locais que não são agenciados. É uma função política até”, afirmou. Por conta disso, o elenco é bastante diverso. E com muitos rostos desconhecidos do grande público e que esbanjam talento.
Outro fato interessante é a troca de atores de seus gêneros audiovisuais mais usuais. Como a já mencionada Luciana Paes, que geralmente faz humor, no papel de uma jornalista muito comedida. Ou Ana Flávia, uma mulher séria e ativista, interpretando uma colunista social escrachada. “Quis fazer a troca de atores para ter um estranhamento. Pegar o sério para fazer o engraçado e o engraçado para fazer o sério”, contou. Foi uma boa escolha porque aumenta ainda mais o impacto do espectador para essa redação tão conturbada.

Enredo
O roteiro é de André Barcinski em parceria com o diretor Marcelo Caetano e, também, Anna Carolina Francisco e Ricardo Grynzpan. Os roteiristas conseguiram deixar a série redonda, sem pontas soltas. E com um equilíbrio perfeito entre comédia, suspense e até um pouco de drama. Há temas que são críticas nem um pouco veladas a alguns assuntos. Mesmo trabalhando com notícias surreais, como um jacaré que come crianças e é apelidado de “jacaré-cocô”, o roteiro consegue tocar em temas de forma leve e divertida, mas que geram análise e discussões. “A discussão crítica se mantém. O politicamente incorreto não deve ser celebrado, e, sim, colocado para discussão.”, afirma Marcelo.
Quanto à pesquisa para a escolha das matérias utilizadas, os roteiristas pesquisaram em mais de mil exemplares do jornal. Além disso, a produção também entrevistou profissionais que trabalharam no NP. Segundo André, há material para fazer ainda mais 5 temporadas. Estamos contando com isso, porque é uma série muito diferente e que deixa o espectador ávido por mais!
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