Arremesso Final (The Last Dance), mais um baile, uma última dança. Eu era criança. Na rede Bandeirantes de televisão passava o basquete. Vez ou outra, levado por aquele hype, eu via o time histórico do Chicago Bulls. Nunca fui um grande fã de basquete, mas aquele time era realmente algo diferente, pela união de forças e personalidades. Sempre tive a tendência a não idolatrar o protagonista, nesse caso, o Pelé do basquete, Michael Jordan, então, dizia que meu preferido era Scottie Pippen. Lembro de ter uma pequena redinha de basquete que prendia na porta do quarto, com uma mini-bola e ficava lá fingindo que era o Pippen. Às vezes, chamava uns amigos e fazíamos umas disputas. Um dia um deles pulou e segurou no mini-aro fingindo que estava dando uma enterrada. O negócio entortou completamente, claro. E nunca mais foi o mesmo.
Scottie Pippen
Eu não tinha nada do Chicago Bulls. Tinha um boné verde do Charlotte Hornets, um outro time de basquete que mal conhecia, mas as cores me agradavam e havia uma abelha engraçada. Meu pai me comprou num camelô do bairro de Madureira, no Rio de Janeiro, onde morava na época. Era muito grande para minha cabeça, contudo, não importava. Começava a ver aquele cara levitar e fazer jogadas impressionantes. Eu estava nascendo quando ele começava a ganhar fama como melhor revelação da NBA, liga estadunidense de basquete. O primeiro episódio foca nele e já conquista. Logo depois, no segundo, conheço um pouco mais daquele que eu imitava. Scottie Pippen. “O melhor parceiro de quadra que tive”, diz Michael Jordan. Scottie é o cara mais discreto, humilde, e tão genial quanto Michael. A série documental viaja entre o início de Jordan e os títulos inesquecíveis dos anos 90.
Ainda por cima, descubro que Michael se machucou. Ficou irritadiço, não podia fazer nada, logo em seu segundo ano na NBA. Lembrei das lesões que tive jogando futebol, e uma específica fazendo capoeira, que me rendeu uma operação. Alguns meses deitado. Quando a gente levanta, está mais fraco, até ficar mais forte do que nunca. Foi fácil me identificar com aquele homem ali. Um ser humano, afinal, Michael era humano e a série mostra isso, passando pela pressão surreal que sofria diariamente, a competitividade e os vícios. Todavia, não foca nisso, são só obstáculos para os “heróis”.
Storytelling
No terceiro episódio, a figuraça do time, o homem dos rebotes, o rebelde Dennis Rodman. Em seguida, o treinador, Phil Jackson. Assim, ano após ano, uma equipe vencedora vai se formando. Um trabalho longo e árduo. Ver os bastidores das campanhas, as “batalhas” entre os times, a mídia, é deveras interessante. Em especial, a série é boa em algo específico que se chama storytelling. Ou seja, a arte de contar uma estória utilizando com eficiência os recursos audiovisuais e um enredo envolvente numa narrativa que mantém o interesse. Arremesso Final consegue isso e é uma série documental que atinge o público, mesmo que não goste de esportes, pela forma como discorre, falando dos personagens e tendo como estrela maior um astro, Michael Jordan.
Não é fácil ser vitorioso, e essa é a mensagem que fica na minha mente. Requer empenho, esforço e um grande número de fatores incontroláveis. O episódio acaba e você quer ver o próximo. Quer estar com aquele equipe numa última dança e lançar a bola: cesta! O sabor da vitória.