A tão esperada sequência do clássico do cinema brasileiro, O Auto da Compadecida 2, estreia nas telonas nesta quarta-feira (25) e já bate recordes, consagrando-se como a maior pré-venda do ano entre filmes nacionais na Ingresso.com. Segundo a plataforma de venda online de ingressos e automação de bilheterias, as novas aventuras de João Grilo e Chicó já superaram a marca de 30 mil ingressos vendidos, reforçando o entusiasmo do público por essa continuação.
A expectativa em relação a uma sequência de um clássico como O Auto da Compadecida é inevitavelmente elevada. O primeiro filme não apenas conquistou o coração do público brasileiro, mas também se tornou um marco cultural, repleto de ensinamentos sobre a vida, a morte e a condição humana, tudo embrulhado em uma narrativa leve e cativante. Ao anunciar uma continuação, os cineastas enfrentam o desafio de agradar tanto os novos espectadores quanto os fãs ardorosos da obra original.
A sequência, apesar de sua proposta de revisitar o universo criado por Ariano Suassuna, levanta questões sobre a necessidade de continuar histórias que já alcançaram um fechamento satisfatório. O primeiro “Auto da Compadecida” é uma obra-prima que combina humor, crítica social e uma profundidade emocional notável.
Um dos pontos positivos de O Auto da Compadecida 2 é o elenco. Selton Mello e Matheus Nachtergaele trazem uma química palpável e um carisma que ilumina as cenas em que estão presentes.
Luis Miranda também se destaca como “o tapia” Antônio do Amor, cúmplice dos golpes de João Grilo. No entanto, mesmo essas performances excepcionais não conseguem salvar o filme de um roteiro que se revela previsível e sem ousadia. O espectador logo percebe que as reviravoltas esperadas não trazem o impacto desejado, fazendo com que a narrativa se torne uma repetição de fórmulas conhecidas, sem surpresas ou inovações.

Os diálogos em O Auto da Compadecida 2 muitas vezes carecem de profundidade e nuance, fazendo com que até mesmo as cenas mais emocionais pareçam superficiais. O espectador pode sentir que os personagens estão presos em uma caricatura de si mesmos, sem a evolução esperada que poderia resultar de suas experiências.
A direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda é digna de nota, especialmente pela forma como conseguem criar cenários que evocam a atmosfera do Nordeste brasileiro e respeitam o estilo visual do original. Contudo, essa habilidade estética não é suficiente para compensar as falhas narrativas. A montagem frenética de Fábio Jordão pode ter sido uma tentativa de manter a energia do filme alta, mas resulta em uma experiência descompensada. Em vez de fluir suavemente entre as cenas, o ritmo acelerado de O Auto da Compadecida 2 pode causar desorientação, fazendo com que o público perca momentos importantes de conexão emocional.
Além disso, o humor embora presente e divertido em várias partes, muitas vezes parece forçado ou repetitivo. O timing cômico em O Auto da Compadecida 2, que foi um dos grandes trunfos do primeiro filme, parece não ter sido explorado da mesma forma nesta sequência. Isso leva à sensação de que os diálogos e situações humorísticas são mais sobre agradar os fãs do original do que realmente avançar a história ou desenvolver os personagens.
Outro ponto importante a ser considerado é como O Auto da Compadecida 2 lida com o legado cultural do original.
O primeiro filme não só fez sucesso nas bilheteiras como também deixou um impacto duradouro na cultura popular brasileira. Referências ao filme são comuns em conversas cotidianas e sua influência pode ser vista em várias outras obras artísticas. A sequência, ao não conseguir captar essa mesma magia ou relevância cultural, pode ser vista como uma tentativa frustrada de reviver algo que deveria ter ficado intocado.
Finalmente, é essencial considerar o papel do humor na obra. O humor característico do primeiro filme era inteligente e muitas vezes carregava críticas sociais sutis que faziam rir e pensar ao mesmo tempo. Na sequência, embora haja tentativas de humor cativante e divertido, ele frequentemente parece deslocado ou repetitivo. Isso pode levar à frustração por parte do público que esperava um novo frescor nas piadas e situações cômicas.
Em última análise, O Auto da Compadecida 2 se torna um exercício de nostalgia sem a profundidade necessária para ser uma continuação significativa. Ele entretém e provoca risadas, mas deixa um gosto amargo ao lembrar do quão brilhante poderia ter sido se tivesse ousado mais na construção da narrativa. O filme serve como um lembrete de que nem toda história precisa ser recontada; algumas devem permanecer como estão — eternas e imortais em sua primeira encarnação.
O Auto da Compadecida 2 apresenta-se como um filme que tenta capturar a essência de um clássico amado, mas falha em trazer inovação ou profundidade à narrativa. Embora tenha seus momentos divertidos e um elenco talentoso, ele acaba se tornando mais uma lembrança nostálgica do que uma obra digna por si só.
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