Em Bela Vingança (Promising Young Woman), Cassandra Thomas é uma jovem mulher por volta dos 30 anos que virou uma espécie de justiceira. A protagonista ganha vida através de Carey Mulligan, indicada ao Oscar. Sem dúvidas, a atuação dela é realmente um dos maiores destaques do filme. Cassandra é uma ex-aluna de medicina, mas agora é atendente de uma cafeteria e estagnou. É loira, bonita, inteligente, sagaz e mortal. Passa as noites em busca de vingança devido a um trauma.
O lugar de fala do filme é feminino, logicamente. A película já começa ridicularizando os homens e critica o tempo todo o sistema patriarcal e opressor. Cassie segue seus dias fazendo e servindo café, com sua chefe, Gail (a divertida Laverne Cox). Seus pais (os ótimos Jennifer Coolidge e Clancy Brown) vivem preocupados com a filha que ainda mora com eles e não demonstra querer evoluir.
Nossa protagonista segue um mesmo ritual toda noite. Vai a bares e clubes sozinha, finge estar bêbada ou drogada, impotente, e aguarda o “predador”. O roteiro é redondo, nada de genial, mas eficiente no que quer apresentar, em suas críticas e capítulos.
Coringa
Além disso, acaba viajando por gêneros. Não é um filme de terror, mas, às vezes, parece. Entretanto, em outros momentos brota uma comédia romântica, como no decorrer da relação dela com o cirurgião pediátrico Ryan (Bo Burnham). Em seguida, vem drama. Também fiquei muitas vezes imaginando que de repente viraria Kill Bill, de Tarantino (até pela divisão em capítulos). Essa é uma das virtudes do filme, e da direção de Emerald Fennell, viajar por gêneros, e aí também chama atenção as diferentes personas que Cassie assume, com a ajuda de um bom trabalho de maquiagem e figurino. O “Coringa” aparece na cena em que ela vê um tutorial de maquiagem.
É indispensável destacar a trilha sonora – dominada por mulheres, claro. “Boys”, da Charli XCX; “It’s Raining Men” com DeathbyRomy. Uma das sequências mais engraçadas do filme traz Paris Hilton com “Stars Are Blind”. Posteriormente, num dos momentos mais importantes – clímax – surge uma sinistra e bela versão instrumental de “Toxic”, da Britney Spears, em sons cortantes de violino. Aliás, é a única música da trilha feita por um homem. É quando aparece Cassie num misto de “Chucky” com Harlequina.
A metalinguagem final consegue dar um fechamento aceitável para a jornada de Cassandra. Mas deixa claro que as mulheres seguem sufocadas pelo sistema vigente.
Escrito, produzido e dirigido por Emerald Fennell, Bela Vingança tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros a partir de 13 de maio e sessões antecipadas a partir de 06 de maio.