Dirigido por Gustav Möller, Filhos mantém a audiência refém de uma tensão constante e testa a empatia do espectador ao acompanharmos a dor de uma mãe
No momento que assistimos a uma produção do conforto do nosso lar, ou em um cinema fechado, comendo pipoca, é muito fácil julgar as ações de uma personagem, nos irritamos com decisões vistas como “estúpidas”, acreditando que nós jamais faríamos algo igual, trazendo muita diversão e conversas de bar, porém, nós não podemos saber como atuaríamos na situação representada na ficção, no momento de tensão, podemos não saber como agir, e talvez façamos algo até pior do que a situação que nos gerou tanta graça ou repulsa. Esta é uma das reflexões que Filhos ocasionou em mim.
A produção de Gustav Möller acompanha Eva, uma agente penitenciária idealista que reavalia seu código de ética quando um problemático jovem, Mikkel, é transferido para a prisão onde trabalha. Demonstrando um genuíno carinho e apreço pelos presidiários, Eva sente um rancor por este misterioso prisioneiro, desencadeando mudanças em sua moral e comportamento, até somente sobrar vingança e dor.
FIlhos mantém uma angustiante tensão, auxiliada principalmente pela meticulosa fotografia em proporção 1:1, ocasionando uma proximidade e uma claustrofobia na medida que acompanhamos Eva, uma protagonista que dita o tom do filme com um simples olhar.

Sidse Babett Knudsen em cena de Filhos- Divulgação Nordisk Film
Ao presenciarmos a decadência de uma carinhosa agente penitenciária, nos questionamos o que este jovem tem de tão importante, quando finalmente descobrimos, o público fica na beira da cadeira e podemos nos questionar se faríamos as mesmas ações que Eva ou não, não sendo a missão de Filhos responder, mas, nos instigar a refletir sobre as nossas próprias dores e cicatrizes, e o modo como lidamos com os acontecimentos que a vida joga em cima de nós.
Filhos apresenta um design de produção digno de destaque, principalmente no contraste entre as áreas da prisão: o branco e calor do bloco inicial de Eva, com o frio e claustrofóbico do Centro Zero, o local de detenção para os piores prisioneiros do local. Esta dualidade de cenário traz um desconforto dentro de um ambiente tão denso, e que somente piora em uma composição sonora que valoriza muito o silêncio.
Filhos apresenta em sua narrativa aquilo que chamamos de “Arenque Vermelho”, que seriam pistas e informações falsas para enganar o espectador. Aprendemos uma coisa sobre Eva, para em seguida vermos que aquilo é mentira, esperando a todo momento que ela faça algo radical e violento, ocasionando uma raiva e desconforto intencional que somente cresce, até seu clímax.
Na medida que Eva se aproxima de Mikkel, inicialmente ainda vemos uma luz nela, um resquício de uma pureza e de uma busca pelo bem, que se perde na medida que o jovem a irrita, chantageia, e perturba, incomodando não somente a ela, mas também o espectador, o que é terrível dentro de um filme imersivo, que se inicia com um plano de Eva se aproximando da câmera, e se encerra com ela se afastando, nos permitindo entrar em seu mundo e presenciarmos em primeira mãe toda aquela jornada de emoções, como se estivéssemos no ponto de vista de Eva a todo momento.

Sebastian Bull Sarning, Sidse Babett Knudsen em cena de Filhos- Divulgação Les Films du Losange
Não existe nada mais dolorido para uma mãe do que presenciar a morte prematura de um filho. Esta dor traz um sentimento de culpa e ressentimento que somente leva à dor. Filhos captura este sentimento aos poucos, nos levando em uma angustiante montanha russa que somente ansiamos descer, porém, nos mantém reféns, e nos quebra aos poucos, do mesmo modo que sua protagonista, que ao final nos abandona sem conforto ou carinho, e nos faz refletir para a próxima conversa de bar: “se você encontrar o assassino de seu filho, o que faria?”.
Filhos estreia exclusivamente nos cinemas brasileiros no dia 31 de julho, com distribuição da Mares Filmes.
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