Dirigido por Juliette Binoche, In-I-Motion se sustenta pela graça natural da atriz e suas reflexões sobre o processo artístico, deixando a narrativa para simplesmente sentir.
Há atores que carregam uma aura única, perceptível por todos ao redor, e Juliette Binoche é uma delas, sendo aclamada na França, na Coreia e principalmente no Brasil. A atriz francesa, conhecida por papéis marcantes que vão de A Liberdade é Azul (1993, Krzysztof Kie?lowski), à O Paciente Inglês (1997, Anthony Minghella), estreia aos 61 anos como diretora. Em vez de escolher uma ficção, Binoche mergulha no documentário, revisitando o espetáculo In-I, montado em 2007 ao lado do dançarino Akram Khan, desta parceria nasceu um acordo de cavalheiros: ele a ajudaria a aprimorar-se como dançarina, e ela o ajudaria a desenvolver-se como ator, e a partir desta troca nasceu In-I-Motion.
Durante sessão realizada durante o 27º Festival de Cinema do Rio, Juliette Binoche enfatizou que foi Robert Redford, recentemente falecido em setembro deste ano, quem teve a ideia de transformar o espetáculo em uma produção cinematográfica, após assistir à performance da atriz, uma informação pequena, mas que trouxe reações audíveis na plateia.

Juliette Binoche em sessão de In-I-Motion- Divulgação Festival do Rio
Binoche defende a obra como “dois filmes em um”: a primeira hora e quarenta dedica-se aos ensaios do espetáculo, e a segunda, à apresentação completa, resultando em um retrato vivo do processo artístico, da concepção e ensaios, até a execução final, mostrando ideias, problemas e descobertas ao longo do caminho. O formato lembra o cinema direto de Primárias (1960, Robert Drew), com uma câmera quase invisível, orgânica, sem intervenções externas da equipe de nenhuma forma, somente deixando seus objetos atuarem e agirem normalmente, mesmo que abracem o ridículo em certos momentos.
Pela própria extensão, In-I-Motion escapa de uma leitura puramente narrativa e se aproxima mais de um making of expandido, um tributo à arte como movimento e resistência, sendo também uma ode à figura do artista que nunca desiste, mesmo diante dos conflitos, como os ocasionais embates entre Binoche e Khan, se desentendo por conta de visões criativas distintas, porém, jamais comprometendo a química entre ambos.

Juliette Binoche em In-I-Motion- Divulgação Festival do Rio
Assistir a uma atriz consagrada como Juliette Binoche sem medo de parecer ridícula, entregando-se como uma criança curiosa e brincalhona, é ver a arte em seu estado mais puro. Os ensaios, que por vezes tomam rumos quase terapêuticos, revelam uma artista em busca de si mesma, e sim, In-I-Motion é longo, e é sentido como tal, tanto que será reduzido antes do lançamento oficial, que será distribuído no Brasil pela Filmes Estação, mas dentro destas quase 3 horas, ele cumpre o que promete: não surpreende pela forma, e sim pela honestidade, sendo a celebração da carreira de uma atriz cuja vitalidade e entrega superam as de muitos artistas com metade de sua idade.
Quando o espetáculo enfim começa, reconhecemos os movimentos trabalhados nos ensaios. Esse “teatro filmado” ganha força com o jogo de luzes e cores e com planos cuidadosamente escolhidos, que aproximam o público da experiência do palco, além de um timing cômico unido ao drama que torna In-I-Motion uma verdadeira experiência cinematográfica, com uma magnética Juliette Binoche que somente com um sorriso e um olhar, consegue cativar e emocionar plateias inteiras.
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