Crítica | Manifesto Transpofágico

Manifesto Transpofágico é uma peça pontual cujo foco principal é a transfobia. É extremamente pedagógica num diálogo profundo sobre identidade. Estive na estreia dessa obra que conta com dramaturgia e interpretação de Renata Carvalho sob direção de Luiz Fernando Marques (Lubi). A montagem mostra o crescimento, a jornada e as agruras de uma travesti. Desde uma não aceitação da família até a sociedade que não compreende, todos esses assuntos são abordados com eficiência.

Aliás, temas bastante polêmicos como o uso de hormônios e do silicone industrial estão em pauta. Assim como o estereótipo da prostituição. Os sofrimentos advindos da ditadura e a popularização a partir de Roberta Close também aparecem nesse resumo da história trans brasileira, assim como o pesado estigma da AIDS.

A iluminação do espetáculo é um show especial. A união de Wagner Antônio na luz, da video art de Cecília Lucchesi e da operação e adaptação de luz com Juliana Augusta deixam o palco perfeito para Renata brilhar som seu carisma e eloquência.

Plot Twist

A saber, Renata Carvalho se coloca como transpóloga, ou seja, estuda a construção social, midiática, patológica, religiosa, criminal e hipersexualizante do senso comum sobre pessoas trans/travestis. A partir disso, acontece um certo plot twist na peça. Esperamos algo que não acontece e a interação com a plateia atinge um outro patamar. É aqui que a pedagogia entra com outra força e também a capacidade de condução de Renata. Dúvidas, preconceitos e questionamentos são pescados na plateia e geram respostas espontâneas e relevantes.

O espetáculo usa ainda o auxílio de filmagens dos anos 80 e 90, e manchetes de jornais diversos numa busca por elucidar as narrativas estereotipadas e a transfobia no país que mais mata travestis, em especial, negras.

Afinal, Manifesto Transpofágico estreou em São Paulo em 2019, e posteriormente, a partir de 2021, seguiu com uma temporada de sucesso pela Europa em países como Itália, França, Espanha, Irlanda e Holanda. Além disso, passou também por Uruguai, Chile e Estados Unidos. Fica em cartaz até 30 de maio no Teatro Sesi Firjan, no centro do Rio de Janeiro.