O Grito. Nos últimos anos os grandes estúdios de Hollywood estão sempre atrás de grandes filões para emplacar sagas que sejam sucesso de bilheteria garantido. Seja comprando os direitos de alguma saga de livros adolescente, de um universo de história em quadrinhos, de livros escritos em forma de trilogia… Além disso, também vão realizando refilmagens, sequências tardias e remakes de filmes de terror japoneses.
Este último nicho iniciou-se de forma incerta no filme de Gore Verbinski, “O Chamado” de 2002. A partir daí passou-se a investir a fundo nas versões americanas do terror japonês. Inclusive, através da importação de diretores japonese como Takashi Shimizu que dirigiu a versão original japonesa e a primeira refilmagem de O Grito. Agora em 2020, depois de uma trilogia, é lançado um reboot baseado na trama do primeiro filme. O longa acompanha a história de uma policial e seu filho que estão de mudança após a morte por câncer de seu marido.
Excesso de jump scares e pouca ambientação
O diretor segue fielmente a cartilha do cinema de terror. Ou seja, uma família protagonista que enfrentou um trauma recente, um caso misterioso que levou a morte ou loucura quase todos envolvidos, uma criança estranha e jump scares. Muitos jump scares.
O problema é que apenas seguir a receita da execução a risca não da consistência a forma. O diretor não desenvolve nenhum clima nem ambientação nas diversas cenas ao longo do filme. Todo o terror é apoiado apenas nos jump scares o que não ajuda a sustentar o clima do filme, que fica com uma aparência de apenas um trem-fantasma de 1 hora e meia.
Este reboot vai contra tudo que o terror japonês criou em seu universo de filmes: sustos óbvios, excessivos e muitas vezes sem importância alguma para a trama.
Muitos plots mas nenhum aprofundamento
O diretor também assina o roteiro e busca dar dramaticidade aos personagens e realismo a história ao colocar problemas reais e graves que os personagens da trama enfrentam. Temas delicados como suicídio assistido, aborto, doença genética e condições manicomiais são abordados, porém de forma superficial. Nenhuma trama é realmente aprofundada ou desenvolvida.
Talvez por uma exigência de limite de duração do filme, a trama tenha sido acelerada demais o que resulta em um filme que explica pouco ou quase nada. Se pensarmos pelo lado de que isso seja positivo pois não subestimar a inteligência do espectador, na verdade logo fica evidente que é mais pelo lado negativo por falta de consistência, diversos furos e incongruências no roteiro.
Promete um clímax que não se cumpre
Quem assiste ao trailer de O Grito espera por um filme de terror extremamente aterrorizante. Já o começo do filme e o potencial que a trama apresentada apresenta também promete uma grande tensão que fica sempre no quase e na fragilidade dos frequentes sustos que acabam sendo o ponto alto do filme, pois quando o clímax chega é tão morno que o filme acaba de repente de forma totalmente fraca e pouco convincente.
Entre os poucos pontos positivos do filme podemos destacar as atuações que são bem convincentes e corretas. O pouco que funciona do clima de terror e ambientação é graças aos atores que conseguem nos transmitir um medo bem realista. Infelizmente nada mais no filme dá sustento a essas atuações.
Talvez o filme agrade os fãs da série, mas é bem provável que valha mais a pena ver a trilogia iniciada no primeiro remake americano. O Grito é um filme de terror que busca fazer tudo segundo o manual, mas não coloca consistência e resulta em algo feito às pressas apenas para faturar em cima de um filão.