Dirigido por Adriano Portela, Recife Assombrado 2: A Maldição de Branca Dias se perde em sua própria narrativa, com tensão inexistente e uma execução irregular.
O folclore regional brasileiro é um terreno fértil para o cinema, repleto de histórias e personagens únicos que variam em cada canto do país, sendo o Nordeste, em especial, uma das regiões mais ricas e pouco exploradas fora de suas fronteiras, com lendas como a da Perna Cabeluda e João das Almas, figuras que carregam um imenso potencial para o audiovisual.
Em Recife Assombrado (2019, Adriano Portela), este universo foi apresentado através da jornada de Hermano, um recifense que retorna à cidade natal após 20 anos. Já Recife Assombrado 2, novamente sob a direção de Portela, tenta expandir esse mundo, mas se perde em sua própria execução.
Desta vez, Hermano assume um papel secundário, tornando-se o financiador de Isabel e seu grupo de jovens investigadores do paranormal. O grupo, composto por cinco integrantes, segue o estilo “caça-fantasmas”, evocando referências diretas a Ghostbusters (1984). A ideia tem potencial, já que o formato permitiria explorar de forma criativa as lendas urbanas recifenses, porém, os personagens são tratados de forma superficial: Isabel é apenas a líder decidida, o único homem do grupo exibe um vago senso de proteção, nunca sendo desenvolvido, enquanto a irmã de Isabel serve mais como instrumento de um evidente queer baiting e alivio cômico, do que como personagem relevante.

Vitória Strada e Márcio Fetcher em cena de Recife Assombrado 2: A Maldição de Branca Dias-Divulgação ViuCine
O grupo é contratado por Hermano para encontrar o tesouro de Branca Dias, figura histórica e lendária apresentada brevemente em um flashback. Seu nome dá subtítulo ao filme, mas sua presença é mínima e sem impacto real. A ameaça principal recai novamente sobre Jair das Almas, interpretado de forma exagerada, sem o magnetismo que o tornava intrigante no primeiro filme.
Enquanto o primeiro Recife Assombrado explorava temas de trauma e reconciliação familiar, o segundo ignora qualquer construção emocional. Os personagens são jogados diretamente na ação, sem que o público tenha tempo de criar empatia, e as lendas, que deveriam ser o coração do filme, como a Bailarina do Teatro Santa Isabel, o Homem sem Cabeça, Jair das Almas e a própria Branca Dias, aparecem de maneira pontual, sem desenvolvimento ou explicação.
O roteiro de Recife Assombrado 2: A Maldição de Branca Dias se apoia em exposições vazias e interações forçadas, introduzindo regras de seu próprio universo apenas quando convenientes, como a inexplicável liberdade de Branca Dias para sair do espelho a qualquer momento, ou o uso de uma “pedra mágica” como um simples artifício de enredo.
Do ponto de vista técnico, os efeitos especiais digitais são inconsistentes e pouco integrados ao cenário. O destaque fica para a maquiagem e os efeitos práticos, que funcionam bem dentro das limitações de produção. E a iluminação é um respiro, especialmente nas cenas da bailarina e na ressurreição de Jair das Almas, revelando um potencial estético que merecia ser mais explorado, ao invés de sequências gravadas sem passar emoção nenhuma e sem sentido, e como cereja do bolo, o terror se resume à sustos fáceis, sons altos e escuridão, sem qualquer construção de atmosfera. Em vez de provocar medo, as reações forçadas dos personagens, gritos e correria, despertam mais risos e cansaço, do que tensão.
O filme tenta emular o horror norte-americano moderno, à custa de um esvaziamento da identidade regional. O resultado é um produto genérico, que desperdiça o que o Recife tem de mais rico: suas lendas, seu imaginário e seu senso de lugar.
Uma boa história de terror não depende apenas de sustos, mas da imersão, e é exatamente isso que Recife Assombrado 2 não consegue oferecer, fazendo com que o espectador não sinta medo, apenas cansaço, percebendo mais o desconforto da cadeira do que o peso da narrativa.

Vitória Strada, Daniel Rocha, Aramis Trindade, Pally Siqueira e Becca Barreto em cena de Recife Assombrado 2: A Maldição de Branca Dias-Divulgação ViuCine
Apesar de suas falhas, é importante reconhecer o mérito de uma produção independente que busca valorizar o cinema nordestino e suas tradições. Recife Assombrado 2 é uma homenagem sincera à cidade e ao seu folclore, mas que carece de coragem para se afastar dos clichês e abraçar o fantástico brasileiro de forma autêntica. Com um roteiro mais coeso e um foco maior nas relações humanas, especialmente entre Isabel e sua irmã, a produção poderia ter alcançado um impacto emocional muito maior.
No fim, Recife Assombrado 2 representa o “caminho do meio” de uma provável trilogia: um elo de transição entre o que foi e o que ainda pode vir. Contudo, sem alma e sem foco, ele deixa de assombrar e se torna apenas mais uma sombra do que poderia ter sido.
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