Crítica
Crítica – Teatro – Giz 9 de Carine Klimeck
Publicado
4 anos atrásem

De 5 de julho até 28 de julho de 2019 fica em cartaz no Teatro Rogério Cardoso, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, essa tragicomédia deliciosamente cáustica.
Com texto e atuação de Carine Klimeck e dirigido por Thaís Loureiro, o espetáculo apresenta Zuleika, uma professora de história, no ano de 2064, dando aula. Os alunos são imaginários e, ao mesmo tempo, somos nós, os espectadores.
O cenário é uma mistura de sala de aula com cenário de guerra. A mesa da professora é em cima de sacos de areia, utilizada para se proteger quando surgem os tiros e os perigos. Ao fundo, um quadro negro, e alarmes. Há também um “mapa-múndi”, composto, ironicamente, somente pela Europa. Afinal, é só o que existe e importa, né? Essa Europa rica, cheia de ouro adquirido (cof, cof, roubado) de suas antigas (?) colônias. É, nossas riquezas são saqueadas pelo estrangeiro. Alguém tem dúvida de que o Brasil poderia ser a principal potência mundial?
O espetáculo teatral é uma grande crítica a essa sociedade brasileira em que vivemos, principalmente com relação ao papel do professor e sua desvalorização no país. A reflexão que nos traz, porém, é muito mais ampla.
Professora Zuleika tem como profissão contar as lembranças do mundo e despertar seus alunos para a realidade em que vivem. O estudo da história possibilitaria evitar repetir erros cometidos anteriormente. Carine está ótima, brinca com os trejeitos de professora. Impossível não lembrar de alguma parecida que você tenha tido durante sua vida escolar.
A crítica social do texto é voraz, usando a união de inteligência com humor eficientemente. O risos são inevitáveis, assim como uma tristeza com a situação apresentada. É um perigo existir.
O figurino utilizado por Carine é bem básico. Um roupa de professora com um colete camuflado de guerra por cima, com poucas, mas pontuais, variações.
Fernanda Mantovani trabalha uma iluminação clara, com momentos que variam entre o vermelho e efeitos piscantes. O vermelho vem nas situações de medo, morte e sangue. A opressão está presente.

Durante a apresentação, somos informados sobre diversas estatísticas sobre o Brasil. 800 mil suicídios por ano, em sua maioria homens; primeiro lugar em feminicídio; terceira maior população carcerária do mundo; país que mais mata homossexuais; e outros trágicos fatos.
Entre risos e ironias, refletimos sobre as diferenças entre a maternidade solitária contemporânea e a paternidade. O antagonismo entre uma maternidade romantizada e a real, exaustiva e pesada. Explicação sobre puerpério. Nisso, entra numa critica ao machismo vigente, às discrepâncias de tratamento da sexualidade masculina e feminina; o perigo de ser mulher. Enquanto isso, 92% dos crimes ocorridos no país nem são investigados. “Um cardeal vê espírito em um feto, mas não no marginal”.
Carine Klimeck também representa o professor de Ciências, Jorge, utilizando com maestria de expressão corporal. Faz muito com pouco (a peça inclusive não tem patrocínio). É um dos momentos mais engraçados da peça.
O espetáculo dura aproximadamente 70 minutos, mas parece muito menos. Passa rápido e ficamos querendo aprender mais com essa professora, tão forte e guerreira. Como tantas outras que conhecemos.
SERVIÇO:
Temporada: 05 a 28 de julho
Horários: Sexta-feira e Sábado às 19h / Domingo às 18h
Local: Teatro Rogério Cardoso, Casa de Cultura Laura Alvim, Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema
Tel.: (21) 2332-2015
Ingressos: R$ 40 (inteira) / R$ 20 (meia-entrada)
Duração: 70 minutos
Classificação: 12 anos
FICHA TÉCNICA:
Texto e Atuação: Carine Klimeck
Direção: Thaís Loureiro
Direção de Produção: Damiana Inês
Cenografia: André Sanches
Cenógrafa Assistente: Débora Cancio
Iluminação: Fernanda Mantovani
Figurino: Patricia Muniz
Assistência de Direção: Eder Martins
Assistência de Produção: Renata Frignani
Assistência de Figurino: Letícia Langer
Registro Fotográfico: Gabriela Furlan e Bernardo Martins
Identidade Visual: Guilherme Moura
Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Assessoria – Gisele Machado & Bruno Morais
Produção Executiva: Mariana Pantaleão
Produção: Bloco Pi Produções
Realização: Grupo Assik
Jornalista Cultural. Um ser vivente nesse mundo cheio de mundos. Um realista esperançoso e divulgador da cultura como elemento de elevação na evolução.

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Crítica
Benjamin, o palhaço negro | Uma homenagem ao primeiro palhaço negro do Brasil
Publicado
4 dias atrásem
25 de maio de 2023Por
Livia Brazil
Parece até piada que notícias como a do racismo sofrido pelo jogador de futebol Vini Jr. ou um aplicativo que simula a escravidão tenham saído enquanto “Benjamin, o palhaço negro” está em cartaz. Infelizmente não é. Assim como não é piada e nunca deveria ser considerada como uma as coisas que um certo “humorista” disse no vídeo que, com razão, foi obrigado a ser retirado do ar. Infelizmente, a luta contra o racismo continua, desde a época em que Benjamin de Oliveira viveu, de 1870 a1954. Cem anos e as atitudes dos racistas continuam iguais! É um absurdo!
Mas sabe o que mudou? O combate. Como fica bem óbvio no texto do musical, agora não se sofre mais calado. Agora há luta. Agora há regras, há leis, os racistas não vão fazer o que querem e ficar por isso. As pessoas pretas vão exigir o seu lugar de direito e o respeito de todos. Já está mais do que na hora, né?
Mas estou me adiantando para o final da peça. Vamos voltar ao começo.
Quem foi Benjamin de Oliveira?
Benjamin de Oliveira foi o primeiro palhaço negro do Brasil, em uma época em que pessoas pretas não eram aceitas ou bem-recebidas no mundo do entretenimento (e no mundo como um todo, sejamos sinceros). Além disso, ele foi o idealizador e criador do primeiro circo-teatro. Mas por que, então, não conhecemos a história dele?
Por que vocês acham?
Como os atores dizem no início do musical idealizado por Isaac Belfort, a história do circo foi embranquecida, assim como todas as histórias que aprendemos. A peça vem, portanto, para contar a história verdadeira e colocar luz em cima de quem deveria, desde sempre, ter ganhado os louros de sua invenção. Em um espetáculo intenso, sensível e moderno, o público aprende sobre quem foi Benjamin e, também, a valorizar os artistas negros atuais e da nossa história. Mostrando, assim, pra quem tinha dúvidas, quanta gente preta de talento existe e sempre existiu. Só falta, como disse Viola Davis, oportunidade.
O espetáculo
No palco, cinco atores. Eles se revezam para interpretar Benjamin, uma sacada ótima. Uma sacada que faz todo mundo querer se colocar no lugar daquele personagem. Uma sacada que faz qualquer um não conseguir não se colocar no lugar daquele personagem. E sentir todas as dores que ele sentiu. Para pessoas brancas, como a jornalista que vos fala, que nunca vão saber o que é sofrer o racismo na pele, é um toque certeiro pra empatia. Mesmo que forçada, aos que até hoje tentam ignorar esse mal da nossa sociedade. É necessário.
Outra sacada ótima foram os toques de modernidade ao longo de todo o roteiro, muito bem escrito. Colocar personagens da época de Benjamin agindo como os jovens tiktokeiros e twitteiros de hoje foi primordial pra facilitar a identificação. Mesmo para quem não conseguiria fazer a paridade entre a época outrora e os tempos atuais, o roteiro faz questão de não deixar dúvidas. E fica impossível não reconhecer algumas das personagens mostradas no palco. O espectador vai, na hora, conseguir lembrar de alguém que já conheceu ou viu passar pela internet. Ou vai pensar em si mesmo. E é aí que mora a chave do sucesso da peça: porque o reconhecimento traz a mudança (ou assim se espera).
Um elenco de se tirar o chapéu
Os cinco atores – Caio Nery, Elis Loureiro, Igor Barros, Isaac Belfort e Sara Chaves – sabem muito bem o que estão fazendo. Dão show em cima do palco. Cantam, atuam e se movimentam de forma emocionante. A cenografia ajuda, claro. Assim como a iluminação. E a coreografia. O espetáculo é apresentado em um espaço pequeno, que ajuda ao espectador se sentir dentro da peça. E a força com que cada elemento está em cena – atuação, música, iluminação, cenário – torna difícil não sentir cada cena como se estivesse acontecendo com si mesmo.
Preciso, porém, destacar dois dos atores: Caio Nery e Sara Chaves. Todos em cena estão visivelmente entregando tudo e fazem um espetáculo lindo de se ver. Mas Caio e Sara sobressaem. Destacam-se por ser possível enxergar a emoção por trás dos personagens, e deixarem a peça ainda mais forte e bonita. São dois jovens atores de 20 e poucos anos que, com certeza, ainda vão longe!
Curtíssima temporada
Se você se interessou em assistir “Benjamin, o palhaço negro”, corre! O espetáculo ficará em cartaz somente até o dia 28 de maio, esse domingo. Como mencionado anteriormente, o espaço é pequeno, portanto os ingressos esgotam rápido. Essa não é a primeira vez que o musical fica em cartaz no Rio de Janeiro. Ano passado teve sessão única em novembro e uma curta estadia em São Paulo. Isso porque é uma peça independente. O que resta ao público, além de assistir às sessões do final de semana, é torcer para conseguirem mais patrocínio para seguirem com essa peça tão importante por mais tempo.
Serviço
Benjamin, o palhaço negro
Onde: Espaço Tápias (Av. Armando Lombardi, 175 – 2º andar – Barra da Tijuca).
Quando: 27 e 28 de maio (sábado e domingo), às 20h.
Idealização e produção: Isaac Belfort
Direção geral e músicas: Tauã Delmiro
Direção musical e músicas: Peterson Ferreira
Coreografia: Marcelo Vittória
Design de luz: JP Meirelles
Design de som: Breno Lobo
Direção residente: Manu Hashimoto
Direção de produção: Sami Fellipe
Coprodução: Produtora Alada
Realização: Belfort Produções e Teçá – Arte e Cultura
Crédito da foto: Paulo Henrique Aragon
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