Dirigido por Alex Garland, Tempo de Guerra não esconde os verdadeiros horrores de um conflito bélico
O primeiro plano de Tempo de Guerra não é um uma bomba explodindo, não é a morte de um companheiro, não é a carnificina que ocorreu, e ocorre, em tantas guerras. Apesar de tudo isto acontecer ao longo da produção, o primeiro plano de Tempo de Guerra é o começo do videoclipe da música Call on Me de Eric Prydz. Apesar da música apresentar um ritmo catártico, liberando altos níveis de dopamina para aqueles que o escutam, o clipe realmente ficou eternizado pela presença de Deanne Berry e outras mulheres, todas usando roupas aeróbicas dos anos 1980 e dançando sexualmente em uma aula.
Podemos dizer que na época de lançamento o clipe foi um estouro, atualmente pode ser considerado fruto de uma época, e no Iraque de 2006 era um alívio para a unidade de elite da marinha dos EUA (SEALS). A primeira cena de Tempo de Guerra mostra diversos soldados, jovens, e homens, dançando ao som desta música, um deles até mesmo fala que o clipe é um lembrete para lembrar pelo que eles lutam. Apesar da fala machista, dentro do contexto da produção, ela é extremamente pontual, afinal, muitos daqueles soldados não tinham mais do que 30 anos, eles foram enviados para um país distante, aonde acreditavam que sairiam vitoriosos pela pátria, somente para a guerra provar o contrário.

Kit Connor em cena de “Tempo de Guerra”- Divulgação A24
Do mesmo modo que Stanley Kubrick com Nascido para Matar (1987, Stanley Kubrick), Alex Garland entende que o espectador já é adulto o suficiente para entender o que é uma guerra, assim, após uma primeira leve e gostosa, o filme apresenta uma ladeira abaixo até sua última cena, com uma tensão constante que suga o espectador, porém, que o impede de tirar os olhos de tudo que acontece na tela, nos aproximando da agonia que estes soldados passaram nestes poucos dias representados na produção.
A Guerra do Iraque foi um conflito que se iniciou em 2003, ela foi vendida pelo presidente norte-americano George W. Bush por meio de uma filosofia que o Iraque apresentava armas de destruição em massa, e que o governo de Saddam Hussein apresentava uma ameaça grave aos estados do Ocidente, assim, a guerra se estendeu por mais de 8 anos e os EUA saíram com muitas baixas e derrotados.
No ano de 2006, as Nações Unidas descreveram a situação no Iraque como algo semelhante a uma Guerra Civil, não por coincidência, o nome do último filme de Alex Garland, antes de Tempo de Guerra. Ambas as produções podem ser tratadas como irmãs, afinal Guerra Civil (2024, Alex Garland) mostra o contexto da Guerra e atua como um ode ao foto-jornalismo, enquanto em Tempo de Guerra, Garland trabalhou em conjunto com o veterano da guerra do Iraque, Ray Mendoza, para construir um filme que funciona em tempo real, e se baseia exclusivamente nas memórias daqueles que viveram para contar a história.
Confira abaixo o trailer de Tempo de Guerra e continue lendo a crítica
A premissa de Tempo de Guerra é simples, uma missão de SEALS no Iraque dá errado, e os soldados devem lutar, dentro de uma zona de guerra, para sairem vivos de lá. O que realmente faz a produção é o apelo técnico e cinematográfico de Alex Garland, auxiliado por Mendoza desde a pré produção, a produção nos coloca sem medo na zona de guerra, demonstrando em primeira mão os horrores e a camaradagem dos soldados que estavam no campo de batalha.

Will Poulter em cena de Tempo de Guerra-Divulgação A24
Atores como Joseph Quinn, Will Poulter e Noah Centineo passaram por um treinamento intensivo para aprenderem a lidar com situações extremas, assim, foram fortalecendo a camaradagem vista ao longo da produção, até mesmo saíram com uma mesma tatuagem específica: a frase “Call On Me”, por conta da música de Erik Prydz.
Sem momentos de suspiro, Tempo de Guerra nos imerge pela estética e mise in scene como se estivéssemos jogando um jogo de tiro como Call Of Duty, assim, auxiliando na agonia e na percepção do campo de batalha, pois, enquanto no videogame sabemos que estamos seguros, na produção de Garland e Mendonza, a qualquer momento uma bomba pode explodir do nosso lado, ocasionando um nível de realismo que suga o espectador.
O objetivo da operação SEAL nunca fica claro, o que só aumenta o desconforto na medida que acompanhamos os soldados sendo derrubados um a um por balas, bombas, e outros traços da guerra, sem sabermos nem mesmo o motivo para eles estarem ali. Esta composição imersiva de Garland e Mendonza, nos leva a uma aproximação do campo de batalha como nunca visto antes em uma produção, ocasionando um turbilhão de emoções naqueles que assistem.
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