Os verdadeiros heróis brasileiros
Um plano infalível. Não tem como dar errado. Uma obsessão: “Delotar a Mônica e ser o dono da lua.” Mas, é isso mesmo que você quer, Cebolinha? Ser dono da rua e pentelhar a Mônica?
Pleno de aventuras e sensibilidade é este aguardado live-action da Turma da Mônica. Será que existe alguém no Brasil que nunca leu nada dessa turma? Difícil, né? Aqui essa galerinha é levada até outro patamar. Tem direito até a emocionantes perseguições. Como quando Mônica vai atrás de Cebolinha e Cascão, girando sua poderosa arma, que ninguém mais pode segurar: o martelo de Thor… não, espera, calma aí, não é isso não, na verdade é o coelhinho de pelúcia mais famoso do país – quiçá do mundo – o Sansão!
Contudo, surge um problema maior, que requer uma união dos maiores heróis da Terra: Os Vingadores! Não, quase. É a Sociedade do Anel passando por pontes, montanhas e perigos! Eita, ops, quer dizer, nada disso, é muito melhor, minha gente: é tupiniquim, é a Turma da Mônica, composta pelos verdadeiros heróis brasileiros. Com coragem e espontaneidade (?) adentram a floresta assustadora, sobem colinas, em busca do cão Floquinho. O fiel cachorro do Cebolinha desapareceu. Em uma sequência de fotografias, percebemos a importância deste cão na vida do garoto, crescendo juntos desde a mais tenra infância. Amigos unidos em prol de tão terna missão conseguirão êxito?
Kevin Vechiatto faz um Cebolinha carismático, cheio de nuances especiais. Mônica ganha vida através da super fofa Giulia Benite, que traz peso ao personagem (não quis dizer nada com isso, Mônica!). A atriz nos brinda com um sorriso lindo, capaz de aquecer qualquer coração gelado. Quando chora, nos traz uma tristeza e vontade de abraçar. Nossa heroína é uma menina sensível e forte, símbolo feminista brasileiro. Tem dúvidas? De quem é a turma, hein? Ainda temos a comilona Magali, vivida por Laura Rauseo, bem engraçada e responsável por alguns dos momentos mais cômicos. Cascão, e seu inseparável guarda-chuva, é feito eficientemente por Gabriel Moreira, fiel escudeiro e principal parceiro nos planos do nosso querido Cebolinha.
No geral, as atuações são muito boas. Os pais do Cebolinha são os adultos que tem maior destaque. Paulo Vilhena como Seu Cebola brinca consigo mesmo na vida real (ele já teve problemas por causa de calvície) e Fafá Rennó vive uma Dona Cebola amorosa e preocupada. Ravel Cabral vive o vilão homem do saco, que só está ali para… ser vilão mesmo, sem profundidade. E nem precisa, não é o foco.
O filme é um biscoito gostoso recheado de sentimento, saboroso como uma suculenta melancia, e, para a felicidade do Cascão, não tem nada de aguado. Pelo contrário, em verdade, é açucarado (mantenha distância, Magali!). Turma da Mônica – Laços é sobre amizade e amor. Passa também por temas como o bullying e superação. Diversão para a família inteira. Todos os personagens principais passam por desafios, precisam se desconstruir e vencer seus medos, ultrapassar fraquezas, em algum momento. A simbologia do laço como um nó, um vínculo, a união que pode impedir que se percam pelos caminhos tortuosos da vida.
A participação de Rodrigo Santoro como o Louco é um show à parte. Um maluco beleza repleto de magia e ensinamentos. Um lunático cativante que traz reflexões. Diz aí, tem coisa mais chata do que ser normal?
Para os fãs, tem vários easter eggs. Dá para perceber referências sobre diversos personagens como Horácio, Jotalhão, a turma do Penadinho, e muitos outros.
O longa, dirigido com competência por Daniel Rezende (do bom Bingo: O Rei das Manhãs), é baseado na bela graphic novel ´Laços´, feita pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, e segue com bastante fidelidade a obra original, porém, a HQ tem muito mais detalhes legais, e é leitura recomendadíssima. A fotografia é bem feita e bonita, principalmente em algumas das cenas dos nossos heróis trilheiros pela exuberante natureza. Pra resumir, o filme faz jus sim aos mais de 50 anos de histórias desses queridos personagens criados pelo Maurício de Sousa. Uma das cenas finais, onde percebemos um olhar cheio de verdade e importância é deliciosamente tocante.
Turma da Mônica é patrimônio nacional, e, prepare-se, porque já tem sequência sendo negociada. Que venha logo!