Quando Um Dia de Chuva em Nova York estreou nos cinemas, a primeira coisa que pensei foi que seria mais uma comédia romântica viral, até ler o nome de Woody Allen no cartaz. Confesso que nunca fui muito fã dos filmes do diretor e roteirista, talvez pela pouca experiência de assistir filmes que possuíssem um auteur cinematográfico.
Para um filme sem divulgação, devido às recentes polêmicas e acusações acerca de Allen, além de sua briga na justiça com a Amazon, o filme teve um público relativamente alto nas duas vezes em que fui assistir (em pleno dia de semana). Se formos dividir o público que estava presente seria de: simpatizantes do diretor e amantes de filmes de romance.
Nova York aos olhos de Gatsby
Dessa vez, sem um filme lançado desde Roda Gigante (2017), Allen traz uma Nova York aos olhos de Gatsby (Timothée Chalamet), um jovem intelectual e apaixonado que leva a namorada Ashleigh (Elle Fanning) para um final de semana na cidade em que nasceu. Ashley é estudante de jornalismo e consegue uma entrevista com Roland Pollard (Liev Shreiber), um famoso diretor de Hollywood.
A jovem acaba se perdendo no mundo Hollywoodiano deixando Gatsby sozinho e melancólico na cidade, enquanto ela tem encontro com astros do cinema e o roteirista Ted Davidoff (Jude Law). Buscando ocupar o tempo, Gatsby visita antigos amigos e acaba reencontrando Shannon (Selena Gomez), irmã de sua ex-namorada, com quem acaba flertando.
Aliás, Allen parece usar a mesma formula de casais em Um Dia de Chuva em Nova York como em Meia noite em Paris (2011). Gatsby e Ashleigh não fazem sentido nenhum como um par e muito menos como amigos. O diretor dá ao seu personagem central o nome de um personagem da literatura de F. Scott Fitzgerald, que não fica claro se é porque a mãe de Gatsby no filme é escritora e ama literatura ou porque Allen quis emitir mais um tom romântico ao personagem. Gatsby parece querer viver uma Nova York fora de sua época ou viver um romance escrito no passado. É quase como se Gatsby fosse criado exatamente para ser um personagem numa história anacrônica.
Destaque para a fotografia de Vittorio Storaro
Com um elenco que enche os olhos de quem dá uma olhada na sinopse do filme, Allen não consegue aproveitar cada um de seus personagens. Chalamet e Law conseguem deixar evidente para o público a personificação do diretor. Porém, Elle Fanning e sua personagem são pouco aproveitadas, assim como Selena Gomez que aparece poucas vezes no longa. Allen coloca Ashleigh como uma figura inocente e infantil, o verdadeiro clichê machista de que toda menina do interior que chega na cidade grande se deixa levar por elogios de homens mais velhos que podem ajudá-la a subir na vida.
Enfim, Um Dia de Chuva em Nova York ganha pela fotografia de Vittorio Storaro, que captura a cidade e o dia chuvoso “perfeito” de Allen. Inclusive, as piadas e algumas referências aos anos 30 também são o ponto alto do filme e arrancam boas risadas. Talvez para os amantes dos filmes de Woody Allen o velho diretor perdeu um pouco a mão para criar filmes com personagens interessantes. Contudo, para um bom espectador de longas românticos, a melancolia apaixonada de Gatsby e sua descoberta de uma nova paixão parecem ser suficientes para agradar.
Olha essas: