Dirigido por Paul Thomas Anderson, Uma Batalha Após a Outra une ação, drama político e sátira em uma de suas obras mais acessíveis.
Por mais épicos que alguns filmes possam ser, os que permanecem na memória costumam nascer de jornadas simples e diretas, com personagens marcantes e uma base emocional sólida. Aliens: O Resgate (1986, James Cameron) é um exemplo perfeito: por trás da luta espetacular contra os xenomorfos, há apenas a história de duas mães defendendo suas famílias, algo universal, capaz de ressoar muito além da ação. Em essência, é isso que Paul Thomas Anderson constrói em Uma Batalha Após a Outra: um espetáculo tragicômico que, em sua base, se ancora em relações humanas fundamentais, neste caso específico sendo o amor parental.
Conhecido por retratos grandiosos da vida nos Estados Unidos, com Sangue Negro (2008) como marco incontornável, Anderson desta vez entrega sua produção mais acessível. Após flertar com a comédia romântica Licorice Pizza (2021), e o neo-noir, Vício Inerente (2014), o diretor abraça pela primeira vez o gênero da ação em larga escala. O resultado é um híbrido que mistura retrato político, drama intenso, humor pontual e sequências de ação cuidadosamente estendidas até atingirem o clímax máximo, ao invés de cortes rápidos e ágeis.
Nos últimos anos, Leonardo DiCaprio vem deixando para trás a imagem de galã poderoso, encontrando brilho em personagens mais frágeis, inseguros e até covardes, como em Era Uma Vez em… Hollywood (2019, Quentin Tarantino). Em Uma Batalha Após a Outra, ele interpreta Bob, um revolucionário que se vê transformado pela paixão por Perfidia Beverly Hills, uma militante radical com a violência no sangue. A chegada da filha do casal, e o amor intenso que Bob tem por ela, intensifica o conflito central que permeia a produção: até que ponto nossas lutas e traumas se tornam herança inevitável para a próxima geração?

Chase Infiniti em Uma Batalha Após a Outra- Divulgação Warner Bros
Ao longo de quase três horas que passam em ritmo fluido, Anderson articula uma reflexão política que nunca se torna densa demais, na medida que o tom permite um forte uso da comédia satírica, como no momento em que Bob necessita de uma informação para salvar a filha, porém, por não lembrar a senha presente no livro do revolucionário, não a obtém, discutindo como as regras e ideologias acabam sendo mais fortes que ação em si, e trazendo um dos momentos mais cômicos e agonizantes de Uma Batalha Após a Outra.
A narrativa de Anderson sugere paralelos claros com episódios da história recente: a busca por um bode expiatório que legitima invasões militares ecoa justificativas usadas pelos EUA para a guerra no Iraque, e a produção discute diversas vezes a questão da imigração ilegal nos EUA. Essas conexões estão presentes nas entrelinhas, sem nunca transformar o filme em mera uma parábola didática, somando na jornada principal de DiCaprio, porém, nunca tirando o seu foco.
O arco de Bob, inevitavelmente, é o de amadurecimento: de homem inseguro à figura confiante, se abrindo novamente para o mundo. O prazer da jornada está no percurso, sustentado por uma atuação magistral de DiCaprio e pelo elenco de apoio composto por Benicio Del Toro, Teyana Taylor e principalmente Sean Penn, em um de seus melhores papéis, como um antagonista que parece saído diretamente de Dr. Fantástico (1964), um militar supremacista branco de contornos caricatos e perturbadores.
Esteticamente, o filme carrega a marca registrada de Anderson: planos belíssimos, uso quase invisível de planos-sequência e uma montagem que valoriza o tempo da ação em vez da pressa caótica. Nada é gratuito, tendo cada sequência longa sustentada por motivações emocionais ou humanas, como na perseguição final em uma rodovia sinuosa, que transforma o espaço físico em metáfora de uma estrada interminável, porém, que inevitavelmente sempre chega ao fim.

Teyana Taylor e Leonardo DiCaprio em Uma Batalha Após a Outra- Divulgação Warner Bros
Apesar do título e da carga dramática, Uma Batalha Após a Outra oferece um dos finais mais otimistas da filmografia de Anderson. O vilão é derrotado, os protagonistas amadurecem e a narrativa deixa como legado a reflexão central: a violência, se não for interrompida, se perpetua até contaminar novas gerações. Essa tensão é encarnada em Willa, filha de Bob e Perfidia, que quase sucumbe a um universo de sangue, mas encontra a possibilidade de escolher um caminho diferente, não sendo igual aos pais, e sim evoluindo para se tornar a nova face da revolução.
Já apontado como um dos melhores filmes do ano, Uma Batalha Após a Outra surge como forte candidato ao Oscar 2026, com chances claras em categorias como Melhor Filme, Direção, Cinematografia, Roteiro e Ator (DiCaprio), porém, mais que uma aposta de premiação, trata-se de um épico moderno que alia grandiosidade estética a uma narrativa simples, acessível e profundamente humana.
Sendo ao mesmo tempo, um espetáculo de ação, um drama político e uma reflexão sobre herança, paternidade e mudança, Paul Thomas Anderson prova, mais uma vez, que é capaz de unir cinema popular e arte autoral, oferecendo ao público uma experiência intensa, emocionante e inesquecível.
Distribuído pela Warner Bros. Pictures, Uma Batalha Após a Outra estreia em 25 de setembro.
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