O conhecido muralista brasileiro Eduardo Kobra entrega amanhã, terça-feira, 23 de fevereiro, dois painéis, cada um com 1m80 por 1m80, realizados sobre a esperança no desenvolvimento das vacinas. Um painel será entregue ao Instituto Butantã, que amanhã faz 120 anos de existência, e o outro para a “Fiocruz”. “Essas duas telas, produzi no começo do ano passado, quando estávamos ainda no início dessa terrível pandemia.
As obras expressam a esperança na produção de uma vacina. E agora, em 2021, passei a pensar sobre qual destino deveria dar para essas duas obras. Resolvi homenagear todos os cientistas brasileiros e duas grandes entidades que estão lutando dia e noite em prol da vida. Estou me referindo ao Instituto Butantan, que esta semana celebra 120 anos, e a Fiocruz, no Rio de Janeiro, para que fiquem expostos nas sedes das instituições como uma lembrança e homenagem permanente a todos os funcionários e cientistas que trabalham arduamente em prol da vida”, diz o artista.
“Respirar”
Recentemente, Kobra transformou um cilindro de oxigênio, em desuso, de 1m30, em uma obra de arte, exemplar único, chamada “Respirar”. É a primeira ação do recém-criado Instituto Kobra, que tem como base a premissa de que a arte é um instrumento de transformação. Kobra pintou o cilindro como se fosse um recipiente transparente, com uma árvore plantada dentro. Inicialmente o artista colocaria a obra em um leilão e doaria 100% do valor a instituições que estão sofrendo com a falta de oxigênio.
“A mensagem central é a importância da vida. Que o sopro da minha arte ajude a levar um pouco de oxigênio para os hospitais mais necessitados e, ao mesmo tempo, provoque a reflexão sobre a importância de usar máscaras, lavar as mãos constantemente, manter o isolamento social e, claro, de preservar a natureza, que é um patrimônio de toda a humanidade”, diz o artista.
Oxigênio
Através da ONE, do Grupo VG, parceiro para onde Kobra desenvolve todas as peças do Grafite Garden, o movimento UniãoBR tomou conhecimento da iniciativa e resolveu adquirir a obra “Respirar’, unindo cotas de seis famílias. A obra foi adquirida por 700 mil reais. Esse dinheiro será aplicados integralmente na instalação de duas usinas de oxigênio que serão entregues à Secretaria Estadual da Saúde do Amazonas.
Na prática, isso significa que serão 20 leitos de UTI’s beneficiados 24h por dia, numa ação perene, que ficará como legado para a cidade. Em um dia, a usina vai gerar 480 horas de oxigênio. Em um mês, serão 14.400 horas. “A título de comparação, um cilindro abastece um leito de UTI com oxigênio por até 10 horas. Ou seja, para fazer uma entrega equivalente à usina, seriam necessários mais de 1.400 cilindros por mês. Com 700 mil conseguiríamos comprar 350 cilindros, o que equivaleria a 3.500 horas”, conta o muralista.
O cilindro está em exibição em São Paulo no piso térreo do Shopping Iguatemi, até 28 de fevereiro, para que o público possa ver e se engajar. É possível fazer doações através de um QR Code para que novas usinas sigam para a região Norte. Após a exposição, a obra será levada para o Hospital Israelita Albert Einstein, também em São Paulo.
Campanhas em 2020
No ano passado, Kobra utilizou seu talento para uma campanha que ajudava famílias desassistidas, com situação de vulnerabilidade ainda mais agravada pela pandemia do Covid-19. Fez o painel “Coexistência”, onde mostrava crianças de cinco religiões – budismo, cristianismo, islamismo judaísmo e hinduísmo – em oração e vestindo máscaras. Uma Serigrafia da obra foi sorteada entre as pessoas que fizeram doações. Com o valor da arrecadação, R$ 450 mil, saíram 20 mil kits.
Pouco depois, com o leilão da tela “Ao Líbano com Carinho”, Eduardo Kobra conseguiu arrecadar 50 mil dólares para as vítimas da explosão ocorrida na zona portuária de Beirute, capital libanesa. “A obra mostra duas mãos, que simbolizam as mãos da humanidade, levantando o cedro do Líbano, que é um símbolo de paz, de fraternidade, de união e respeito”, disse o artista, que utilizou a bandeira do Líbano como a base para a pintura. “O vermelho representa o sangue derramado pelas pessoas que se feriram ou morreram nas lutas para livrar o país das forças externas; o branco representa a permanente busca pela paz e a beleza das montanhas cobertas pela neve; e o cedro, árvore presente em boa parte do país, é um símbolo de força e eternidade”, explicou Kobra.
Instituto Kobra: a arte como instrumento de transformação social
Nasce agora, em fevereiro de 2021, o Instituto Kobra, entidade que acredita na arte como instrumento de transformação social de adolescentes e jovens em estado de vulnerabilidade no Brasil. Fundada e presidida pelo artista Eduardo Kobra, a instituição parte da própria biografia de seu criador para fundamentar a importância e o papel da cultura como agente transformador de vidas e realidades.
O Instituto Kobra deverá promover ações, prioritariamente em comunidades periféricas, levando manifestações artísticas — não só das artes plásticas e do grafite, mas também da música, do teatro e da literatura — àqueles que costumam ter menos acesso a museus e centros culturais.
Uma experiência embrionária foi o projeto Galeria Circular, realizado em 2019. Transformado em galeria itinerante de arte, um ônibus adaptado percorreu 12 bairros da região metropolitana de São Paulo apresentando 14 obras de Kobra que estiveram ou ainda estão expostas em diversos locais pelo mundo. O artista idealizou e participou de todos os dias do projeto, interagindo muito com o público.
Por fim, Instituto Kobra surge também para funcionar como um espaço para promoção de causas por meio da arte — principalmente aquelas que fazem parte dos princípios do muralista, como a defesa do meio ambiente, o discurso pacifista, a pauta antirracista, o respeito entre os povos e a luta pela liberdade.