Marco Gottinari é um agricultor. E um artista, um músico, um xondaro. Sua arte e a natureza se misturam. suas canções tem sabor de mato. Nesta sexta-feira, 8 de maio, o músico do Sul do Brasil lança seu novo álbum “Xondaro“, já nas redes, que conta com corais de crianças urbanas e indígenas. Talvez seja esse equilíbrio um dos papeis de um xondaro. No álbum, o violão acompanha com graça e as sementes vão se espalhando, de notas que correm como água cristalina. Sai pelo selo Porangareté, com a produção eficiente de Rodrigo Garcia. É MPB, música popular brasileira.
A canção “Flocos de Neve” traz uma cara de anos 70, assim como a maioria das músicas, e ainda conta com um saxofone que complementa com perfeição. Outras parecem que vem dos anos 80. Às vezes, lembrava de Ivan Lins enquanto ouvia. No geral, buscam atemporalidade. Dentro disso, destaco “Tempo”, um samba gostoso onde Marco caminha junto com a bela voz de Marilia Piovesan e um coro de respeito que conta com Fidelis, Gabriel Alyrio, Ivo Vargas, Jhasmyna, Martha Taruma, Tiago Tortora. Sambar? Sambei.
Enquanto “Senhores da Guerra” fornece doses de reflexão e tristeza carregado com um tom de tango. “Assombro dos Sobrados” é fé na escuridão clamando pelo manto da Mãe. Após escutar tudo, talvez você fique um pouco do avesso, e possa sentir ressoar uma mensagem que a vida é flor para quem sabe amar e o coral de crianças embale sua mente numa rede, ao mesmo tempo em que ouve os pássaros cantando. Afinal, confira a conversa que tive com Marco.
Alvaro Tallarico: Você é um xondaro? O que é ser um xondaro?
Marco Gottinari: Sou. Xondaro é ser guardião, cuidador, só despertamos quando dermos movimento, ação que possa beneficiar o todo. Ser Xondaro está nos pequenos gestos , como cuidar da água, do lixo, dos animais. É ser um instrumento afinado, com a sinfonia cósmica.
Alvaro Tallarico: Por que a escolha desse título?
Marco Gottinari: Por sincronicidade. O título não só foi escolhido por traduzir o conceito do disco, mas também por expressar a grande necessidade de sermos Xondaros.
Alvaro Tallarico: E essa ideia de colocar um coral de crianças do projeto Case no seu novo álbum “Xondaro”? E o que é o Case?
Marco Gottinari: O CASE (Centro de Assistência Social Educativa) tem vários apoiadores, entre eles, a prefeitura e a Secretaria de Justiça Social. Trabalha com crianças em vulnerabilidade social. A intenção era que crianças urbanas cantassem com crianças indígenas o mesmo refrão que diz em guarani “a terra chama seus guardiões”. Em outro refrão confirma ” somos todos guardiões”.
AT: Coral de crianças urbanas e outro indígena. É uma busca de, através da música, estimular o equilíbrio e o respeito?
Marco Gottinari: Isso mesmo. A música é porta-voz para dizer que somos parte da mesma tribo e devemos buscar harmonia, viver em cooperação e caminhar juntos para a paz.
AT: Por que ficou cinco anos sem gravar? Quais foram os caminhos da floresta que percorreu nesse meio tempo?
Marco Gottinari: Refazendo as contas foram sete anos e usei esse tempo para uma imersão. Sempre fui agricultor, mas não me sentia integrado com o todo. Queria entender e praticar uma agricultura que seguisse os princípios da natureza. Iniciar do zero e chegar numa floresta altamente produtiva e diversificada. E, movido por intuição e pela sintropia, posso afirmar que entendi, pratiquei e agora quero compartilhar. E assim fizemos no sítio onde moramos, chamado Caminhos da Floresta.
AT: E como é lançar esse novo álbum em meio a uma pandemia mundial?
Marco Gottinari: É sincronicidade. O disco ficou pronto quando iniciou a pandemia e vamos lançar durante. Espero que ele possa nos fazer refletir, pois vem para nos questionar; mas também para nos fazer carinho. O difícil para mim é a adaptação ao mundo digital.
Aliás, enquanto lê a entrevista, confira o álbum completo:
AT: Agricultor-artista. O que é uma serpente galáctica e porque você se descreve dessa forma?
Marco Gottinari: Agricultor-artista é aquele que, quando em harmonia com a terra, respeita e coopera com todos os seres de todos os reinos e sua obra é a abundância. Baseado no Sincronário Maya, todos os dias tem uma frequência vibracional correspondente, que determina nosso propósito e nossos dons. Quando alinhados com o tempo natural tudo conspira a nosso favor. Para que nossas ações sejam para um propósito maior. O dia do meu nascimento vibrava Serpente Galáctica.
AT: Como o xamanismo faz parte da sua vida?
Marco Gottinari: Faz parte dos meus rituais diários de conexão com o todo.
AT: De que forma a humanidade pode se reconectar com Gaia, a Mãe-Terra? O ser humano é a verdadeira peste?
Marco Gottinari: Através de suas escolhas e ações, movidas pela cooperação e amor. Só nos comportamos como peste, quando nos afastamos da lei do amor.
AT: Sua música tem cara de tranquilidade no meio do mato. A ideia é despertar essa sensação?
Marco Gottinari: A ideia é viver esta sensação. Mas verás que as músicas não são só serenidade.
AT: “Para surfar o destino o homem deve virar menino”, você canta. Isso não vai contra o que a sociedade nos obriga?
Marco Gottinari: Nós somos livres quando cumprimos nosso propósito e o que a sociedade nos dita cono regra não vai nos tirar essa liberdade. E é por isso que surfaremos nosso destino. Bem-vindos ao amoroso Reino de Gaia.