Entrar na pequena cidade histórica de Paraty, já conhecida por suas ruas de paralelepípedos e arquitetura colonial, foi como ser transportada para um mundo onde as palavras ganham vida de maneira única. Foi minha primeira vez na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, e as expectativas se misturaram com a empolgação de descobrir o que estava por vir.
Assim que adentrei os espaços dedicados aos eventos literários, fui envolvida pela atmosfera efervescente de paixão pela literatura. A Flip é mais do que uma simples celebração de livros; é um encontro de mentes criativas, uma dança de ideias que flutua pelos contornos históricos da cidade.
Os autores, de renome nacional e internacional, compartilharam suas experiências e perspectivas, fazendo com que a literatura ganhasse dimensões palpáveis. Ouvir as vozes por trás das palavras que me cativaram foi uma experiência única, uma oportunidade de compreender as motivações e inspirações que deram a vida às suas obras.
Os debates fervilhavam em torno de temas que abraçavam uma diversidade cultural, social e política. A Flip, afinal, não é apenas sobre livros; é sobre diálogo, questionamento e reflexão.
Mas não foram apenas as palavras que me conquistaram, a cidade em si, com sua arquitetura charmosa, nem mesmo a chuva conseguiu apagar o brilho da cidade.
Casa poéticas negras
A programação da Casa Poéticas Negras na Festa Literária Internacional de Paraty foi um verdadeiro destaque, oferecendo uma variedade de eventos que celebraram e amplificaram vozes negras na literatura.
Desde palestras sobre Saúde Mental e subjetividades das mulheres negras e seus enfrentamentos à negrofobia até performances poéticas cativantes. Cada momento foi cuidadosamente planejado para proporcionar uma experiência enriquecedora e educativa. A diversidade de temas envolvidos refletiu a riqueza da cultura afro-brasileira, oferecendo uma visão multifacetada e estimulante.
E, claro, a inclusão da feijoada vegana foi um toque brilhante e exemplificou o compromisso da Casa Poéticas Negras com a diversidade em todos os aspectos. A deliciosa culinária não apenas satisfaz o paladar, mas também destaca a importância de opções alimentares inclusivas, respeitando diferentes estilos de vida e preferências.
A saúde mental das mulheres negras
A saúde mental das mulheres negras é um campo complexo e interseccional, no qual as subjetividades são moldadas por experiências únicas, muitas vezes marcadas por desafios específicos, como o enfrentamento à negrofobia. Este fato, que se manifesta como discriminação racial direcionada às pessoas negras, pode ter um impacto profundo na saúde mental dessas mulheres, influenciando sua autoestima, identidade e bem-estar emocional.
Ao lidarem com a interseccionalidade de gênero e raça, frequentemente enfrentam uma série de pressões sociais, estereótipos e formas de discriminação que podem afetar sua saúde mental. A sociedade muitas vezes impõe padrões inalcançáveis ??de beleza e comportamento, exacerbando as experiências de alienação e isolamento.
O enfrentamento à negrofobia pode se manifestar em diferentes contextos, como no ambiente de trabalho, na educação, nos serviços de saúde e até mesmo nas interações cotidianas. A exposição constante a microagressões e estigmatização pode gerar um estresse adicional, contribuindo para condições de saúde mental, como ansiedade e depressão.
Documentário Corpos Invisíveis
Assistindo a palestra, sobre saúde mental, na casa poéticas, me lembrei do documentário ”Corpos Invisíveis” um documentário que me impactou profundamente que assistir no festival do rio. O filme expõe a invisibilidade social das mulheres negras na sociedade, destacando como suas vozes muitas vezes são silenciadas e suas experiências superadas.
Além disso, o filme oferece uma perspectiva, sobre a construção da identidade das mulheres negras. Ao explorar suas histórias, culturas e resistências, ele destaca a importância da representação positiva e do reconhecimento de suas contribuições para a sociedade.
Este documentário serve como um apelo à ação, instigando mudanças sociais que valorizam e protegem a saúde mental de todas as mulheres, independentemente de sua raça ou origem.
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