Após um ano acalorado, repleto de manifestações e greves nos EUA, o Globo de Ouro seguiu à frente como a primeira premiação televisionada da chamada Temporada de Premiações. O que não impediu a premiação de ser alvo de observações e críticas após passar por uma grande mudança estrutural.
Em 2021, uma denúncia do jornal Los Angeles Times abalou Hollywood e os pilares da Hollywood Foreign Press Association (HFPA), responsável pela votação, produção e premiação do Globo de Ouro. A denúncia continha informações que endereçavam à Associação (que continha cerca de 85 membros), alegando que votantes-membros teriam feito comentários racistas e sexistas, além de criticar a ausência de membros negros e de outros países.
A denúncia apenas escancarou uma ferida já conhecida por Los Angeles: a “compra” de votos, ou comumente chamada “campanha para votantes”. Nesse método, era comum produtoras gigantescas presentearem os membros da HFPA com viagens e outros mimos, um motivo que explicava a fixa quantidade de, no máximo, 90 membros. O resultado foi uma avalanche de críticas e protestos, sendo o mais significativo o de Tom Cruise, que devolveu seus três troféus vencidos em anos anteriores de volta para a Associação.
Para piorar, de acordo com a Variety, no final de 2021 a Associação não conseguiu nenhum grande nome para apresentar a cerimônia, não teve apoio e nem investimento de grandes produtoras de televisão e percebeu que, com o boicote de artistas hollywoodianos, a cerimônia de 2022 aconteceria sem tapete vermelho, sem convidados e sem ser televisionada.
O contrato com a NBC para televisionar a cerimônia já estava chegando ao fim. Em 2022, a empresa procurou deixar a HFPA “respirar”, impossibilitando a cerimônia daquele ano, e a parceria chegou ao fim após a cerimônia de 2023. Mudar para a CBS não seria a única mudança da Associação. Já em 2022, a HFPA adicionou novos membros, incluindo votantes de outros países, negros, latinos e mais mulheres (chegando perto de 300 membros). Em 2023, o The New York Times anunciou o fim da HFPA, após a venda da Associação e dos direitos da premiação para a Eldridge Industries, uma holding de propriedade do investidor bilionário Todd Boehly, e a Dick Clark Productions, que faz parte da Penske Media. A venda não teve um valor revelado, mas sepultou a, agora extinta, HFPA e deu espaço para o nascimento da Golden Globe Foundation que, felizmente, começou a funcionar efetivamente em 2024.
O PIOR APRESENTADOR DOS ÚLTIMOS TEMPOS
O que a Vanity Fair chamou de “desastre total”, eu chamaria de catastrófico. O comediante não tão conhecido, Jo Koy, foi o responsável por apresentar a premiação do Globo de Ouro, que já teve hosts memoráveis como Tina Fey e Amy Poehler. A dificuldade já se antecipa quando o apresentador é convidado para a cerimônia com apenas 10 dias antes do evento, de acordo com ele.
No entanto, Jo Koy sobe ao palco com orgulho de sua nacionalidade, mas começa a desgastar seus movimentos ao fazer piadas absurdamente fracas, básicas e desconfortáveis. Ele começa a falar de Christopher Nolan e de sua obra, “Oppenheimer”, e como é de longa duração, tema “delicado” atualmente em Hollywood, onde diretores como Scorsese (“Assassino da Lua das Flores”), quanto o próprio Nolan, protestam a favor do cinema completo e de experiências pessoais.
Tudo começa a piorar quando ele fala de “Barbie” como sendo um filme “sobre a boneca mais famosa do mundo com peitos grandes”. Nesses momentos, onde um apresentador fala de uma obra ou conta uma piada, é o momento onde o desconforto aumenta já que a direção do show é obrigada a mover as câmeras para os citados nas piadas. Nolan dá um sorriso amarelo, Scorsese não tem reação (mas os parentes dele na mesa demonstram desgosto) e, claro, o elenco de “Barbie” simplesmente aparenta desespero para saírem daquele momento.
A sensação era de que todos queriam subir no palco para tirar Jo dali, a única saída era simplesmente usar a carta coringa que SEMPRE tem no Globo de Ouro: Meryl Streep e as dezenas de indicações dela (32 no total). Não sobra só para Meryl e sua tentativa de usar sua carisma, que o apresentador utiliza para receber aplausos (obviamente todos aplaudem Meryl Streep), mas também sobra para Robert De Niro, que é elogiado por uns 5 minutos pelo apresentador e não demonstra nenhum tipo de reação a não ser desconforto.
A sensação que deu foi que a CBS simplesmente demorou a voltar dos intervalos, procurando o máximo cortar o apresentador, que ficou pouco tempo, felizmente, nos palcos.
DAS EXPECTATIVAS PARA UM RESULTADO COERENTE NO GLOBO DE OURO
Mesmo com tantas mudanças e desconforto, a premiação apresentou os vencedores de uma maneira coesa. A grande falta que senti, nas categorias de atuação, foram os short-videos, cenas dos atores nos filmes indicados. Contudo, o resultado foi satisfatório para muitos e surpreendeu, com tudo, nas categorias de Comédia ou Musical.
“Barbie” da diretora Greta Gerwig, o filme do ano de 2023, ficou para trás com apenas 2 vitórias (Filme de Melhor Bilheteria e Melhor Canção Original para “What Was I Made For?”). “Pobres Criaturas”, do diretor Yorgos Lanthimos foi o vencedor da categoria de Melhor Filme de Comédia ou Musical e ainda premiou Emma Stone, com o mesmo filme, como Melhor Atriz em Comédia ou Musical.
“Oppenheimer” levou Melhor Direção, Melhor Filme de Drama, Melhor Ator de Drama e Melhor Trilha Sonora. A surpresa foi ver “Anatomia de um Crime”, o filme francês do ano, levando Melhor Roteiro (categoria que mistura roteiros adaptados e originais) e Melhor Filme Internacional. Enquanto a séries, a dramática “Succession” saiu vitoriosa ao lado da cômica “O Urso”. A premiação esse ano faltou em dar os troféus honorários, como o prêmio Cecil B. DeMille que já premiou Oprah Winfrey.
Por fim, a grande questão que fica é como o Globo de Ouro impulsiona para o Oscar de uma maneira indireta, ciente de que nenhum membro da atual Golden Globes Foundation, quanto da extinta HFPA, são votantes no Oscar. Considera-se o Globo de Ouro como uma grande e importante, e clássica, premiação televisionada que serve para fazer das vitórias um “combustível” para as campanhas do Oscar.
Votantes do Oscar e críticos vão receber emails, screeners e posters anunciando que filmes, como “Oppenheimer” saíram vitoriosos do Globo de Ouro ou ainda fortalecer a campanha de Emma Stone para Melhor Atriz. Contudo, é um caso a se observar e ver como a premiação do Globo de Ouro 2024 vai ser lembrada no ano que vem.