“Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio”. É difícil até pensar por onde começar a fazer uma crítica sobre essa peça. No tamanho da arte que oferece. Talvez uma boa forma de iniciar seja dizer que é tudo tão mágico e simbólico como a vida e a obra da personagem-título Helena Blavatsky, a criadora da teosofia, foi.
A princípio, o espetáculo tenta resumir um pouco da longa e produtiva vida da escritora e filósofa russa Helena Blavatsky (1831-1891). O texto profundamente amplo e metafísico é de Lúcia Helena Galvão, famosa pela participação na organização internacional filosófica Nova Acrópole. Ela viralizou muitas vezes com palestras e vídeos pela internet afora, inclusive muitas vezes citando Blavatsky.
É importante ressaltar o bom trabalho de direção de Luiz Antônio Rocha. Na forma como utiliza a principal ferramenta para que o espetáculo ganhe a força que tem. Esse instrumento canalizador é a atriz Beth Zalcman, a qual navega pelo esplendoroso jogo de luzes, que forma diversos desenhos e possibilidades para que ela, literamente até, brilhe. Toda a preocupação com o posicionamento dela em cena e o bom uso do palco até a surpreendente interação com a plateia são bem pensados e no tempo certo. Quando parece que pode vir um cansaço, pois a peça tem uma densidade, a direção traz algo para movimentar o público.
A Luz de Helena Blavatsky
A iluminação é um show que merece elogios específicos. Vemos as luzes como Deus ou como a natureza, dependendo do momento e da necessidade. Temos o escuro que valoriza a chama de uma vela e a voz de Beth. Temos o facho de luz vertical que permite vermos as mãos de Zalcman bailando como pura magia; ou a lótus branca preenchendo todo o palco e homenageando Blavatsky de tal maneira que é difícil não imaginá-la feliz, num outro plano, ou universo, que anteceda esse, seja paralelo, ou venha depois.
O solo com Beth Zalcman nos coloca no último dia de vida de Helena e exalta a importância do sonhar e as mensagens que a escritora se esforçou para passar até seu fim terreno. É tudo como se ela se despedisse, ao mesmo tempo em que demonstra sua imortalidade, trazendo lembranças e compartilhando pérolas de cunho evolutivo. Diria que só senti falta de saber mais sobre o mestre dela, que foi seu guia durante tantos anos, mas é uma escolha de Lúcia Helena Galvão, de focar mais na verdade de Helena Blavatsky, mulher de coragem inegável e obra valiosa, tantas vezes subestimada. Uma buscadora.
Aliás, o espetáculo permite, ao fim, que o público filme uma cena. Confira abaixo a de quando fui, e siga lendo:
Durante a pandemia a peça foi vista por mais de 18 mil espectadores em sessões virtuais até chegar a uma bem-sucedida temporada em São Paulo, com sessões lotadas, e finalmente veio para o Rio de Janeiro pela primeira vez. Admito que esperava ansiosamente para ver ao vivo, e não me decepcionei.
Madame Blavatsky ficou famosa por confrontar as correntes ortodoxas da ciência, da filosofia e da religião. Com suas obras e a criação da sociedade teosófica, influenciou inúmeros artistas e pensadores, entre eles, Gandhi, o qual, aliás, é citado na peça.
Por fim, no dia em que vi o espetáculo, na minha fileira estava o grande ator Carlos Vereza, que disse, durante pandemia, após ver a peça pela primeira vez:
“A arte salva, não é?! Como diria o querido Ferreira Gullar, a vida não basta apenas, se não fosse a arte, seria mais difícil! O bonito no trabalho de vocês, em meio a essa pandemia, é mostrar que a resistência não vem através do radicalismo, mas do valor à vida. E a vida, sobretudo, se manifesta através da arte”
A fala de Vereza resume bastante da principal e relevante base de “Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio”: a valorização da vida e da arte.
Serviço:
ONDE: Teatro Fashion Mall / Shopping Fashion Mall – Estrada da Gávea, 899 – lj 213, São Conrado / RJ
HORÁRIOS: sexta às 21h, sab às 20h e dom às 19h
INGRESSOS: R$ 100,00 e R$ 50,00 (meia)
HORÁRIOS BILHETERIA: 3ª a dom das 14h às 20h
VENDAS: Sympla
DURAÇÃO: 60 min / CLASSIFICAÇÃO: 12 anos / GÊNERO: biográfico e filosófico / CAPACIDADE: 420 lugares / TEMPORADA: até 17 de setembro
Ficha técnica
Texto original: Lúcia Helena Galvão
Interpretação: Beth Zalcman
Encenação: Luiz Antônio Rocha
Cenário e Figurinos: Eduardo Albini
Iluminação: Ricardo Fujji
Assistente de Direção: Ilona Wirth
Visagismo: Mona Magalhães
Fotos: Daniel Castro
Consultoria de movimento (gestos): Toninho Lobo
Operador de luz: Gabriel Oliveira
Marketing Digital: Reação Web
Idealização e Produção: Beth Zalcman e Luiz Antônio Rocha
Parceria: Organização Internacional Nova Acrópole do Brasil
Realização: Teatro em Conserva / Espaço Cênico Produções Artísticas e Mímica em Trânsito Produções Artísticas
Assessoria de imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
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