Vamos lá. Moneyboys, primeiro longa do cineasta C.B. Yi. Eita filme bom. Diferente, ousado, polêmico, crítico. Por causa de todas essas características, é preciso dizer que não é um filme que agradará a todos. Moneyboys tem seu próprio tempo, uma velocidade diferente do que estamos acostumados a ver nos filmes que fazem mais bilheteria pelo mundo. Contudo, apesar de ter um tempo diferente, com poucos diálogos e que exige uma atenção grande do espectador, não quer dizer que seja um filme em que poucas coisas aconteçam.
Bem, vamos a ele.
Um filme “antigo”
Moneyboys chegou no dia 08 de fevereiro aos cinemas brasileiros. Todavia, é um filme de 2021. Inclusive, ele foi exibido no Festival de Cannes e recebeu três nomeações. “Por que?”, você me pergunta? Bem, muito por causa dos motivos que listei no primeiro parágrafo. Mas antes de falar mais sobre as características do longa, vamos para a sinopse.
Moneyboys narra a vida de Fei, que trabalha como garoto de programa. Ele saiu de sua cidade no interior da China e foi para a cidade grande em busca de dinheiro, para dar uma vida melhor à sua família. Porém, seu mundo desmorona quando percebe que seus familiares aceitam seu dinheiro, mas não o jeito que o ganha. Aceitam menos ainda a sua homossexualidade. A partir de então, Fei luta para recomeçar.
Assim sendo, fique com o trailer:
Uma estreia ousada
É incrível pensar que esse é o primeiro longa de C.B. Yi. Pela facilidade e criatividade com que conduz a narrativa era de se esperar que Moneyboys já fosse seu décimo filme. Pode ser que tal proeza aconteça porque o diretor baseou o filme em sua própria vida. Fazendo isso, fica mais simples criar identificação entre espectador e personagem, pois tudo é tratado de forma muito natural e verdadeira, da visão de alguém que passou por algo parecido. É um filme bastante honesto, que não adorna situações para torná-las mais fáceis de serem digeridas pelo público.
O roteiro é muito bem-escrito e tem bastante fluidez. Não é um roteiro mastigadinho, feito para o público entender rapidamente e tratando-o, até, com certa prepotência. Muito pelo contrário. O roteiro parte do princípio que o público teve experiências de vida e que é inteligente, deixando espaço para o espectador tirar conclusões sozinho. Todavia, isso não significa que o diretor deixa lacunas no filme ou que é uma obra de difícil compreensão.
Outro ponto notável é a habilidade com que C.B. Yi retrata as situações sem precisar utilizar-se de muitos artifícios para isso. O que só demonstra que não é preciso de muitos recursos ou de uma extravagância visual para se contar uma boa história. E fazer isso de forma muito bem-feita. Moneyboys é um belo exemplo de que menos pode ser mais.
Fotografia
Todavia, é interessante perceber as maneiras que o diretor escolhe de mostrar as informações. Além do claro recurso de cenografia e figurino, retratando muito bem as diferenças entre cidade grande e campo (poucos elementos em um – campo –, e muitas cores e maior quantidades de elementos em outro – cidade grande), o cineasta escolhe, também, mostrar uma pasteurização da vida de Fei nas cores do filme.
Enquanto o personagem está triste ou não consegue se aceitar como é – ou, ao menos, se vê infeliz quando percebe que os outros, principalmente sua família, não o aceitam como ele é –, as cores são mais frias e “embaçadas”. Porém, quando ele consegue ser quem quer ser, as cores ao seu redor se tornam mais quentes e fortes. Esse é um recurso bastante comum até, mas é uma forma significativa de demonstrar principalmente a vida interna do personagem além de somente em ação, ação, ação. Ou muito diálogo.
Atuações
Do mais, não há como não destacar a atuação de Kai Ko, que dá vida à Fei. O ator de 32 anos (30, na época em que saiu o filme) entrega uma performance memorável, que deixa difícil o espectador não se identificar com o personagem. Como há poucos diálogos, poucas falas, o ator precisava mostrar somente com seu gestual e suas expressões o que Fei estava sentindo e pensando. E Kai Ko faz isso com facilidade. O mesmo pode ser dito de Yufan Bai, intérprete de Long. As cenas em que os dois têm uma espécie de luta (falo assim para não dar spoilers) mostra uma entrega muito grande dos dois atores.
Além disso, é um filme que reflete muito sobre a questão do preconceito. No caso, a LGBTfobia. Apesar de ser uma questão muito falada nas cidades grandes, sabemos que ainda há muito preconceito. E não há melhor maneira de discutir esse tema do que na arte, pois á mais fácil de atingir uma parcela maior da sociedade. O filme é muito crítica quanto a essa questão, e faz de uma forma muito acertada. Nota 10.
Ficha Técnica
Áustria, França, Bélgica, Taiwan | 2021 | 120min. | Drama
Direção e Roteiro: C.B. Yi
Produção: Gabriele Kranzelbinder, André Logie, Barbara Pichler, Guillaume de la Boulaye
Elenco: Kai Ko, Chloe Maayan, Yufan Bai, J.C. Lin, Qiheng Sun, Yan-Ze Lu, Daphne Low, Mu Chen, Teng-Hui Huang, I-Hsiung Lin
Direção de Fotografia: Jean-Louis Vialard
Trilha Sonora: Yun Xie-Loussignan
Montagem: Dieter Pichler
Classificação Indicativa: 16 anos
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