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Dea Lanzaro em cena de Napoli-New York- Copyright 01 Distribution
Cinema e StreamingCrítica

Crítica: ‘Napoli-New York’ traz olhar infantil para o sonho da imigração

Por
André Quental Sanchez
Última Atualização 31 de outubro de 2025
6 Min Leitura
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Dea Lanzaro em cena de Napoli-New York- Copyright 01 Distribution
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Dirigido por Gabriele Salvatores, Napoli-New York se utiliza do olhar infantil para contar retrato da imigração e da crise do sonho americano

Há uma tendência contemporânea de comparar novos filmes a grandes produções do passado, como quando se diz que Interestelar (2014, Christopher Nolan) seria o 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968, Stanley Kubrick) da atual geração. Além de ser impossível repetir algo tão singular quanto a obra de Kubrick, esse tipo de comparação é prejudicial ao próprio cinema, pois limita a liberdade criativa em favor de uma nostalgia constante. Cada cineasta tem seu olhar, sua forma de narrar, e nenhum pode ser verdadeiramente copiado, sendo neste contexto que surge Napoli–New York.

Inspirado em uma história original de Federico Fellini e Tullio Pinelli, o longa acompanha a jornada de duas crianças que embarcam clandestinamente em um navio rumo aos Estados Unidos, fugindo da devastação da Europa pós-Segunda Guerra Mundial. O primeiro passo de qualquer crítica justa é arrancar o curativo de imediato: o filme não é, nem pretende ser, uma obra, ou pastiche, de Fellini. A abordagem de Salvatores é outra, mais contida e emocionalmente direta, sendo um drama clássico de amadurecimento, coming of age.

Antonio Guerra em cena de Napoli-New York- Copyright 01 Distribution

Antonio Guerra em cena de Napoli-New York- Copyright 01 Distribution

Tecnicamente, Salvatores demonstra grande sensibilidade na recriação de uma Nápoles devastada pela guerra. A estética remete ao neorrealismo italiano, com tons terrosos e uma textura quase documental, evocando a dureza da época. Em contraste, a Nova York apresentada mais adiante é carregada de efeitos visuais e brilho, um cenário quase onírico, irreal, que representa tanto o sonho das crianças quanto a visão imaginada de Fellini e Pinelli, que escreveram o argumento antes mesmo de conhecerem a América. Assim, a cidade torna-se a idealização de um mundo que talvez nunca tenha existido, mas não deixa de ser eficiente.

Napoli-New York se ancora em um arquétipo poderoso e eficaz: o das crianças carismáticas, inteligentes e frágeis diante do mundo. Celestina, em especial, é o grande destaque da produção, conduzindo a narrativa com uma ternura que equilibra o tom melancólico. Ao seu lado, o jovem Carmina completa o par com inocência e coragem. A força antagônica, aqui, não se manifesta em um vilão explícito, mas sim em um “sistema”: a estrutura social que oprime, exclui e divide. Isso fica evidente também no arco de Agnes, irmã de Celestina, cuja trajetória beira o utópico, reforçando a mensagem de empatia e resistência diante da xenofobia e do fracasso do sonho americano.

O preconceito contra imigrantes não é suavizado. Pelo contrário: surge em momentos simbólicos, como na sequência a bordo do navio, quando a distância entre as classes sociais é marcada ao som de “Smile”, de Jimmy Durante. Essa justaposição entre miséria e otimismo, reforçada por uma trilha sonora composta de músicas americanas reconfortantes, traduz bem a ironia do chamado American Way of Life, reservado apenas aos “americanos de sangue”.

Pierfrancesco Favino e Anna Ammirati em cena de Napoli-New York- Copyright 01 Distribution

Pierfrancesco Favino e Anna Ammirati em cena de Napoli-New York- Copyright 01 Distribution

Com referências diretas a Era uma Vez na América (1984, Sergio Leone), Napoli–New York é grandioso em escala, se mantendo fiel a uma estrutura narrativa tradicional: demarcando os símbolos comparativos iniciais, como a Madonna, unindo as crianças, as separando separando, e as reunindo novamente por meio do amor e solidariedade. Entre os coadjuvantes, destaca-se Garolafo, vivido por um carismático Pierfrancesco Favino, um personagem que poderia facilmente ser o antagonista, mas acaba se revelando uma das figuras mais humanas e complexas do longa.

Ao final, Napoli–New York é um filme clássico, terno e reconfortante, um “filme conforto” no melhor sentido da expressão. Salvatores opta por um olhar gracioso e infantil para tratar de um tema pesado: a xenofobia e a desilusão diante do sonho americano, resultando em uma obra que, mesmo sem a ousadia felliniana, conquista por sua doçura, honestidade e esperança. Entre o sonho e a realidade, o filme encontra beleza no olhar de quem ainda acredita, mesmo quando o mundo insiste em dizer o contrário, podendo ser considerado utópico demais, mas é por isso que se chama ficção.

Napoli-New York foi o filme escolhido para a abertura da 20º edição do Festival de Cinema Italiano, seguindo até 29 de novembro, com sessões em mais de 90 cidades e programação completa também disponível em streaming. contendo 24 longas, incluindo inéditos e clássicos italianos em retrospectiva, com acesso gratuito tanto nas sessões presenciais quanto online.

Demais informações podem ser encontradas no site oficial do festival: https://festivalcinemaitaliano.com/

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Tags:CinemacríticaDestaque no ViventeGabriele SalvatoresNapoliNapoli-New York
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