Dirigido por Wes Anderson, O Esquema Fenício não surpassa seus maiores clássicos, mas, sua comédia aguçada e momentos absurdos, entretém o público
Apesar de cada vez mais se tornar um refém de sua própria estética, Wes Anderson continua sendo um dos cineastas mais interessantes atualmente, todas as suas produções discutem sentimentos e emoções envolvendo família, luto, seguir em frente, aceitação, entre outras questões humanas que vivenciamos em uma escala diária. Apesar de serem transmitidas por meio de personagens estáticos, e muitas vezes não naturalistas, sua sensibilidade para com estes assuntos é transmitida por meio de rápidas interações e diálogos que demonstram a força de seus roteiros, O Esquema Fenício não é exceção.

Tom Hanks, Riz Ahmed, Benicio Del Toro e Bryan Cranston em cena de O Esquema Fenício– Divulgação Universal Pictures
Tirando suas animações, O Esquema Fenício pode ser considerado um dos filmes mais caóticos e absurdos de Wes Anderson, apresentando em sua composição, ao mesmo tempo uma das histórias mais complexas e mais simples de toda a sua carreira, na medida que a produção gira em torno de uma complexa e hermética empreitada financeira, ao mesmo tempo que discute sobre a possibilidade de redenção para um de seus personagens mais horrendos.
Apresentando novamente como protagonista um terrível pai de família, Zsa-Zsa Korda, interpretado por um excelente Benicio Del Toro, a produção retrata a vida deste milionário, enquanto tenta colocar em atividade aquele que seria o esquema mais ousado de sua vida, O Esquema Fenício, ao mesmo tempo que reflete sobre sua própria vida e no processo, se aproxima de sua distante filha.
No momento que compreendemos que O Esquema Fenício em si, pouco importa para o filme, e o mais importante é jornada interna de Korda sobre as atitudes que tomou ao longo de sua vida, a produção fica muito mais interessante.
Apesar de apresentar ao longo do filme algumas de suas melhores sequências cômicas e absurdas, como o jogo de basquete, Wes Anderson mantém a narrativa presa no retorno à humanidade de Korda, transformando um homem terrível em um ser humano digno de empatia, algo transmitido de diversas maneiras na produção, seja por sonhos oníricos ou composições sonoras de dois grandes compositores.
Confira abaixo o trailer de O Esquema Fenício e continue lendo a crítica
Da mesma forma que em seu trailer, O Esquema Fenício se utiliza em peso da música de Igor Stravinsky (1882-1971), compositor russo conhecido por balés como O Pássaro de Fogo e A Sagração da Primavera, obras que revitalizaram a música por conta de suas inovações rítmicas, trazendo um sentimento de grandiosidade, da mesma forma que Zsa-Zsa Korda se vê durante todo o filme, alguém maior do que o mundo, capaz de vencer a própria morte.
Após o seu arco de redenção, O Esquema Fenício se encerra não com uma obra rítmica e forte como a de Stravinsky, mas com Jesus, Alegria dos Homens, xonsiderada uma das mais belas músicas de Johann Sebastian Bach (1685-1750), apelidado de “O Pai da Música”. A música transmite uma calma e uma leveza quase inexistente na composição de Stravinsky, transmitindo o espírito interno de Zsa-Zsa Korda, que finalmente encontrou paz após se unir com sua filha.
Estas sutilezas presentes nas produções de Wes Anderson que tornam toda a experiência válida, seus personagens podem aparentar frios, porém, são cascas para o público conseguir se enxergar, tudo gravado de modo belo por meio de uma estética que já se tornou sua marca registrada.

Mia Threapleton e Benicio Del Toro em cena de O Esquema Fenício- Divulgação Universal Pictures
Apesar da produção apresentar uma minutagem inferior aos seus dois últimos filmes, O Esquema Fenício aparenta ser muito maior do que realmente é. O ritmo é um de seus maiores problemas, sendo composto de cenas com semelhanças narrativas claras, o filme fica cansativo em certos momentos, apesar de reviravoltas muito bem aceitas como a mudança de paradigma para o personagem de Michael Cera, o filme se perde dentro de sua grandiosidade.
Apesar de não ser um de seus melhores trabalhos, O Esquema Fenício demonstra um conhecimento técnico de Wes Anderson tanto técnico, quanto narrativo, e mais do que isso sobre humanidade, porém, acredito que para seus futuros projetos, algo deve mudar, pois, apesar de esteticamente belos e interessantes, estão ficando cada vez mais distantes daquela grandiosidade Andersoniana de seus primeiros projetos.
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