Estreia neste fim de semana, o filme de aventura, fantasia e coincidências “O portal secreto”. Ele é uma adaptação do livro homônimo do escritor Tom Holt (que também assina o roteiro), e é o primeiro de uma saga de 7 edições, lançados entre 2003 e 2011.
Trata-se de um filme de aventura e fantasia infanto-juvenil, com uma clássica jornada do herói, momentos divertidos, alguns aspectos reflexivos e uma sensação de que tem mais coisa para vir futuramente. No título original, o portal na verdade é portátil, não secreto. Mas, aparentemente, é bem difícil de ser localizado. Por isso, talvez o secreto na tradução.
Elementos clássicos
O filme traz alguns elementos que já podem ser considerados clássicos de histórias de fantasia infanto-juvenis. Como o protagonista que não tem consciência de seu potencial; uma amizade entre opostos; uma grande salvação de algo que a maioria não percebe; e relações familiares conturbadas.
Na história, o jovem Paul Carpenter (Patrick Gibson) está desesperado por um emprego, pois está devendo o aluguel. Porém devido a uma série de acasos e desfortúnios, ele perde uma entrevista de emprego e acaba indo parar em um lugar estranho para uma outra entrevista um tanto insólita. Trata-se de uma seleção para estágio na empresa J.W. Wells & Co., onde há apenas uma outra candidata: Sophie (Sophie Wilde).
Coincidências movem o mundo?
O filme apresenta um conceito interessante, no qual a empresa seria responsável por comandar os rumos da história da humanidade, por meio de coincidências. Desde acontecimentos em uma esfera micro, como duas pessoas se apaixonarem a um de uma esfera macro, como o primeiro pouso na lua. Embora as coincidências em esfera macro sejam as maiores motivadoras da trama principal, são as de esfera micro que parecem despertar um interesse maior, especialmente pelo envolvimento do próprio casal de protagonistas com o ambiente ao redor e entre eles.
A meu ver, o ponto alto da trama é este propósito da empresa. O controle (ou condução) de acontecimentos por meio de coincidências. A noção de existir ou não um destino. As pessoas que conhecemos e o que acontece a partir desses encontros. São coincidências? Obra do acaso? Essa concepção da narrativa me fez ficar pensando em pessoas e circunstâncias que passaram em minha vida.
Mesmo os mais céticos podem, às vezes, ficar pensando nas possíveis coincidências para tentar conduzir suas vidas ou escolhas da forma como gostariam. Desde um passeio, a expectativa da vitória de seu time favorito, o sucesso numa entrevista de emprego a conhecer a pessoa que pode ser o amor da sua vida.
Fantasia X Modernidade
O filme trabalha a ideia, já clássica, do conflito entre tradição e inovação. O personagem de Waltz, Humphrey Wells, assumiu a direção da empresa, depois do sumiço misterioso de seu pai. Ele representa a vontade de quebrar as tradições em uma empresa que parece por vezes integrar, e por vezes rivalizar a tradição da magia com a frieza das corporações.
Esses aspectos são bem representados pela cenografia do filme. Em especial, o exterior e o interior do prédio da J.W. Wells & Co. que combina de forma interessante e curiosa uma arquitetura clássica com uma pós-moderna. O estranhamento que essa combinação causa é, talvez, proporcional ao mesmo estranhamento que os personagens e a própria lógica da empresa causam no espectador.
Elenco
O elenco é o ponto alto do filme. Com a presença de veteranos como Christoph Waltz e Sam Neill, que está impagável como um chefe extremamente rabugento e cruel com seus estagiários. O casal protagonista Patrick Gibson e Sophie Wilde (em sua estreia no cinema) também apresenta uma boa sintonia e uma habilidade de mostrar mais através do menos.
Ideias interessantes
O filme apresenta algumas ideias interessantes, como por exemplo os perrengues da vida de um estagiário em uma grande corporação. Afinal, Paul e Sophie são tratados com desdém e pouca empatia por seus empregadores. Ao passo que, isso é algo que qualquer um que tenha feito estágio já pode ter passado em algum momento.
Há também um conceito interessante de caracterizar o que seria o lado burocrático da empresa, que lembra, muito levemente, “Brazil – o filme”, clássico de Terry Gilliam sobre a desumanização por meio da burocracia corporativa.
Pontas soltas
Porém, algumas pontas ficam soltas, e partes da trama acabam sendo pouco trabalhadas, como o envolvimento amoroso entre Paul e Sophie, que acaba sendo um pouco apressado e pouco desenvolvido. Inclusive, o mesmo acaba servindo mais como justificativa para a provação do herói.
Contudo, se o filme fosse um pouco mais longo, muitas ideias e sub-plots poderiam ser mais bem desenvolvidos ou não apresentados de forma tão apressada e condensada, como o poder do tal portal “secreto”. Quando o mesmo é descoberto, parece que os protagonistas simplesmente resolvem tirar um “recesso” do filme, para voltar a ele logo depois de um merecido descanso.
Serve para adultos também?
Acaba que por fim, o filme, apesar de misturar muitas ideias, sendo que algumas acabam não sendo bem aproveitadas, pode prender bem seu público alvo infanto-juvenil, e também agradar os adultos, que estejam abertos a se encantar pela magia da trama. Enfim, podem ir sem receio de se aborrecerem. Pensem nas alegrias e calafrios transmitidos pelos livros clássicos de aventura despretensiosa, como por exemplo, os clássicos da série Vaga-lume.
Ou seja, se você reconheceu esse nome, você sabe do que eu estou falando! Por fim, o filme deixa em aberto que poderá ter uma continuação. Ainda mais se pensar que ele é baseado no primeiro de uma série de livros. Portanto, se a saga continuará, só o tempo (e a bilheteria) dirão.
Onde assistir?
O filme foi produzido pela The Jim Henson Company, do saudoso Jim Henson, diretor do clássico “Labirinto – A magia do tempo”.“
Enfim, “O portal secreto” estreia nesta quinta-feira (13/07) nos cinemas. Consulte a rede de cinemas de sua cidade para encontrar sessões disponíveis.