Cinema
O Rei Nu | Filme apresenta um ensaio sobre revoluções
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4 anos atrásem
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Luciano Bugarin“Podemos ser críticos a uma revolução e mesmo assim continuar fiéis a ela?”. Masoumeh Ebtekar, atual vice-presidente do ministério da família e da mulher no Irã diz essa frase em determinada parte do filme O Rei Nu. Ela está comentando sobre a revolução iraniana ocorrida em 1979 que depôs o xá no Irã. Dentre os acontecimentos desta revolução, houve a invasão da embaixada americana em Teerã, na qual ela atuou como porta-voz, por seu conhecimento mais profundo da língua inglesa.
O filme do diretor suíço Andreas Hoessli analisa dois países (Irã e Polônia) que passavam por momentos de indignação e protestos que levaram a uma revolução praticamente na mesma época. Porém, o documentário tem uma narrativa que foge do convencional.
Sua intenção não é narrar fatos, mas analisá-los a partir do ponto de vista das pessoas envolvidas. Pode-se dizer que o filme de Andreas é um ensaio sobre as revoluções e como elas podem passar de um sonho para um pesadelo tão rapidamente, sem que se perceba ou entenda o que aconteceu.
Personagens comuns
Personagens comuns são os norteadores do documentário, e não personalidades políticas ou líderes ou personalidades públicas. Pessoas que viveram os bastidores ou estiveram diretamente ligados aos acontecimentos apresentados nos dois países. Certamente, o filme foca mais nos sentimentos e memórias das pessoas entrevistadas. Ao apresentar filmagens da época retratada as pessoas envolvidas, cada um reflete sobre suas decisões, histórias e memórias de uma forma particular.
Logicamente, conhecer a história dessas revoluções é importante para entender mais do filme, porém não é primordial. O Rei Nu não se preocupa em aprofundar-se em uma análise histórica, mas entender as motivações que levam pessoas a iniciarem uma revolução para buscar mudanças. As ponderações provavelmente poderiam servir de análise para qualquer outra revolução da história mundial.
Repórter polonês
Na época que o filme toma como tema, o diretor estava na Polônia para estudar. Lá ele conheceu um repórter polonês: Ryszard Kapucscinski, que esteve então no Teerã para cobrir a revolução iraniana. Suas citações e impressões sobre o país e a revolução funcionam como um narrador reflexivo.
A partir de imagens de arquivo e imagens atuais, Andreas busca fazer um balanço sobre o surgimento e crescimento de um espírito revolucionário que leva as pessoas a perderem o medo e enfrentarem o sistema, mesmo que isso possa lhes custar as vidas. Em comum em ambos cenários: totalitarismo, repressão e má administração.
Como iniciar uma revolução
O Rei Nu vai tecendo a partir de depoimentos e citações, teorias sobre como se iniciar uma revolução. Ele afirma que para isso é preciso se libertar do próprio ego. Sair da zona de conforto. A partir de uma pequena reivindicação ou um simples incômodo pode se iniciar uma revolução. Podemos ver isso quando os organizadores de uma greve na Polônia falam a uma equipe de filmagem e reclamam das mentiras do governo (algo, segundo um dos participantes, impensável até então).
No Brasil, em 2013, a partir de uma insatisfação geral com aumentos de passagens de ônibus em 20 centavos em diversas capitais deu início a uma grande onda de manifestações país adentro.
Para Józef Pinior, um dos grevistas poloneses, ele tornou-se um revolucionário ao “saber que é possível viver de outra forma”. Segundo ele, este pensamento mudou sua vida, pois ele teria então algo pelo que protestar, muito embora ele não soubesse se conseguiria ou não. Porém, isto não era importante.
Quando a revolução perde seu espírito
O filme pensa então no que acontece no fim de uma revolução. É tudo muito bonito de se ver. As pessoas unidas por um ideal. Mas o que acontece depois que se alcança a vitória? Quando a revolução chega ao fim, perde-se o sentimento coletivo e cada um retorna ao seu próprio ego.
A revolução polonesa após um sucesso inicial, foi apagada e destruída pelo estado, enquanto que a revolução iraniana sofreu uma usurpação pela liderança religiosa radical. Isso significa que as revoluções falharam? Elas foram um erro? Que legado elas deixaram? Há do que se orgulhar? São perguntas que podem ter colocação em qualquer revolta em qualquer espaço-tempo.
Se o aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus foi impedido em 2013, de lá para cá aconteceram outros aumentos muito acima de 20 centavos, e a situação política só tem descido mais a ladeira. Isso significa o que? O que podemos dizer das pessoas e os ideais de quem protestou?
Reflexão e metáforas
Certamente, as entrevistas não são objetivas como reportagens jornalísticas. Aliás, muitas vezes as pessoas falam através de metáforas e analogias, como a artista Negar Tahsili que fala sobre a inutilidade da burocracia e o poder da repressão ao relatar sua memória de um programa didático que assistia na televisão, ou a comparação da revolução a um trem por um membro da revolução iraniana.
O Rei Nu não dá respostas, nem apresenta uma conclusão final, mas apresenta uma reflexão de porque as revoluções que começam de forma tão vibrante podem acabar sendo suprimidas ou distorcidas de seus ideais originais, transformando-se no que se combatia.
Afinal, as coisas começam a se acabar, quando os revolucionários viram inimigos da própria revolução ou a repressão vira um meio, assim como era pelo poder que foi derrubado. Cenários onde a repressão política, a perseguição e a corrupção imperam são propícios para revoluções, pois eventualmente as pessoas não acreditam mais no sistema.
Onde assistir ao filme?
Professor de artes e cineasta independente. Sou cinéfilo, fã de Simpsons, entusiasta de artes que fogem do óbvio e músicas barulhentas.
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Publicado
12 horas atrásem
24 de abril de 2024Por
Livia BrazilUns anos atrás, mais especificamente em 2019, o Festival do Rio (e outros festivais do Brasil) trazia em sua programação um documentário sobre a Rádio Fluminense. “A Maldita”, de Tetê Mattos, que levava o título da alcunha pela qual a rádio era conhecida, narrava sua história e, além disso, a influência que teve em seus ouvintes. Para muitos, principalmente os que não viveram a época, foi o primeiro contato com a rádio rock fluminense.
Anos depois, no próximo 25 de abril, quinta-feira, estreia “Aumenta que é rock ‘n roll”, longa de Tomás Portella. O longa é baseado no livro “A onda maldita: Como nasceu a Rádio Fluminense”, escrito por Luiz Antônio Mello, criador da rádio. Protagonizado por Johnny Massaro na pele de Luiz Antônio, o filme foca em toda a trajetória do jornalista desde sua primeira transmissão na rádio do colégio, até o primeiro contato com a Rádio Fluminense (por causa de seu amigo e cocriador Samuca) e a luta pra fazer da Fluminense a rádio mais rock ‘n roll do Rio de Janeiro.
Muito rock
Pra começo de conversa, é preciso dizer que o filme é uma bela homenagem ao gênero rock. Além de uma trilha sonora com nomes de peso, como AC/DC, Rita Lee, Blitz e Paralamas do Sucesso, o longa consegue mostrar ao espectador do que o rock é verdadeiramente feito: de muita ousadia e questionamentos. Em uma época em que o gênero vem sendo esquecido, principalmente pelas gerações mais jovens, Tomás Portella consegue relembrar a todos que o rock é sinônimo de controversão e revolução, já que foi criado para questionar os ideais vigentes da época.
Isso fica muito claro nos personagens que compõem a rádio e que a tocam pra frente. A ideologia de fazer diferente fica tão nítida na tela que eu desafio o espectador a não sair do filme com vontade de revolucionar o mundo ao seu redor.
Roteiro
Isso se dá, obviamente, por um texto muito bem escrito e uma trama bem desenvolvida e bem amarrada. O que significa, portanto, que L.G. Bayão fez um ótimo trabalho na adaptação do livro.
Mas, além disso, as atuações dos atores em cena tambémajudam muito. Apesar de a maioria dos atores nem sequer ter vivido a época (no máximo, eram criancinhas nos anos 80), eles personificam a vontade de transformar da época. Principalmente Flora Diegues, que tem uma atuação tão natural que dá até pra pensar que ela pegou uma máquina do tempo lá em 1982 e saltou na época em que o filme foi gravado. Infelizmente, a atriz faleceu em 2019 e uma das dedicatórias do longa é para ela. Merecidissimo, porque Flora realmente se destaca entre os integrantes da rádio rock.
Sintonia fina
George Sauma interpreta o jornalista Samuca, amigo de colégio de Luiz Antonio que cria a rádio com o colega. A escolha dos dois protagonistas não poderia ser melhor, já que Johnny Massaro e George têm uma química que salta da tela. O jogo de dupla cheio de piadas, típico dos filmes de comédia dos anos 1980, funciona muito bem entre os dois. Os dois atores têm um timing ótimo para comédia e, ao mesmo tempo, conseguem emocionar quando o texto cai para o drama. Tanto George quanto Johnny brilham.
Também brilham a cenografia e o figurino do filme. Cláudio Amaral Peixoto, diretor de arte, e Ana Avelar, figurinista, retrataram tão bem a época que parece que estamos mesmo de volta aos anos 1980. A atenção aos detalhes faz o espectador, principalmente o que viveu tudo aquilo, se sentir dentro da rádio rock.
Nostálgico
Para resumir, é um filme redondinho e gostoso de assistir, com atuações incríveis e uma trilha sonora de arrasar. Duvido sair do cinema sem vontade de ouvir uma musiquinha de rock que seja!
Fique, por fim, com o trailer de “Aumenta que é rock ‘n roll”:
Ficha Técnica
AUMENTA QUE É ROCK ‘N ROLL
Brasil | 2023 | Comédia
Direção: Tomás Portella
Roteiro: L.G. Bayão
Elenco: Johnny Massaro, George Sauma, João Vitor Silva, Marina Provenzzano, Orã Figueiredo.
Produção: Luz Mágica
Coprodução: Globo Filmes e Mistika
Distribuição: H2O Films.
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