O documentário ODE AO CHORO está na mostra competitiva da 12a edição do Arraial Cine Fest, que acontece entre 8 e 12 de fevereiro de forma gratuita e online. No filme, a diretora Cecilia Engels aborda um tema complexo, e nem sempre discutido na sociedade: o luto. Em 2019, ela perdeu sua melhor amiga, Camila (Tatá), no rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG), onde Camila estava para visitar o museu de Inhotim.
Três anos depois, Engels lança esse documentário, no qual narra seu processo de luto pela perda de sua amiga de infância. “Cada pedacinho da minha vida tem uma parte sua”, diz num trecho em homenagem a Tatá. Mas não é apenas a dor de sua perda que está no filme, a obra também serve de alerta à impunidade presente neste que é a maior tragédia sócio ambiental do país”.
“Em 2019 quando rompe a barragem de Brumadinho e morre minha amiga Camila, minha vida vira de ponta cabeça. Eu fui entendendo que a arte seria meu canal de expressão para decantar, assimilar e, quem sabe, curar as feridas que esse luto estava deixando em mim. Foi aí que eu decidi embarcar numa jornada que eu chamei de ritual – ensaio – filme, eram encontros filmados com pessoas que me ajudassem a elaborar todos os sentimentos que eu estava vivenciando”, explica a diretora.
Dificuldades
O filme a acompanha durante o mês de outubro de 2019, quando ainda tinha muita dificuldade de lidar com a situação. Cecilia procurou diversos tipos de terapias que a ajudariam a enfrentar aquele momento. No longa, define seu documentário como “uma maneira de esvaziar a racionalidade” para poder continuar com sua vida.
Desde conversas até aulas de canto, com resgate de sua trajetória e de Tata, ODE AO CHORO é também uma celebração da memória dos que partiram e um valorização da vida. Assim, neste trabalho, a diretora faz uma homenagem à amiga e aos anos de convivência juntas, enquanto tenta encontrar uma maneira de seguir em frente. “O que fazer em caso de tristeza pós-morte?”, pergunta, lembrando-nos de que nunca estamos preparados para nos separar dos que partem.
Reencontrando cartas e fotografias, a cineasta procurou uma maneira própria de expressar sua perda, uma vez que “palavras não encontram o tamanho da dor.” Em busca de contornar tantos sentimentos diversos, a Cecilia cria imagens de uma poesia melancólica. O filme cria empática com aqueles que já passaram por luto e, também, convida para a reflexão de como, enquanto sociedade, lidamos com as perdas e os rituais de morte.
ODE AO CHORO pode, à primeira vista, parecer uma reverência a dor, porém ao longo da travessia sentimos que o filme é uma ode à amizade e à vida!
O filme conta com a participação de: Betina Turner, documentarista e terapeuta paliativista; Bianca Turner, vídeo mapping; Carol Pinzan, ritual relacional e performativo; Felipe Gomes Moreira, preparador vocal e cantor; Gustavo Vinagre, cineasta; e Tânia Piffer, ritual relacional e performativo.
Lançar ODE AO CHORO nesse momento, não deixa de ser também um alerta para lembrar o crime de Brumadinho e a impunidade ao longo desses tempo. “Prestes a completar três anos da tragédia, percebo que já vivemos algumas fases. Logo no começo é o choque da perda, o luto, a busca por coisas que nos estimule a seguir em frente.
Agora o que me desilude é a impunidade.
Passo bastante tempo pensando e conversando sobre ela. A banalização de atos criminais contra a vida e contra o meio ambiente me provoca tamanha indignação! Não se pode explorar o minério a qualquer custo, o estado precisa ser rígido nos critérios de operação desta atividade. Os rompimentos de barragens são o ?auge? das tragédias, além disso no dia a dia, com menos visibilidade, as mineradoras estão contaminando rios, criando disputas de territórios, perseguindo ativistas. O processo judicial sobre o crime da barragem do Córrego do Feijão precisa ter um desfecho pautado na justiça, com os devidos responsáveis sentenciados e as reparações às vítimas e ao meio ambiente condizentes com o tamanho do estrago.”
ODE AO CHORO está disponível em https://www.arraialcinefest.