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Paulinho Moska: ‘A pobreza e o descaso dos governos deixam todos à margem do mínimo necessário para uma união definitiva da América Latina’ | Entrevista exclusiva

Músico fala sobre seus 30 anos de carreira, novo show no Circo Voador, e o futuro

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Entrevista Paulinho Moska para Alvaro Tallarico

Paulinho Moska tem uma carreira de sucesso que abrange três décadas. Ele estreou sua discografia em 1993 com “Vontade” e ao longo dos anos consolidou-se como um talentoso compositor que equilibra letras impactantes com ótimas melodias. Durante sua primeira década de trabalho, suas canções mais conhecidas incluíram “O Último Dia”, “A Seta e o Alvo”, “Um Móbile no Furacão”, “Sem Dizer Adeus”, “Tudo Novo de Novo”, “Pensando em Você” e “A Idade do Céu”. Fez sucesso em diversas trilhas sonoras de novelas da TV Globo.

Moska desenvolveu uma relação íntima com artistas da América Latina, especialmente através de seu álbum “Tudo Novo de Novo” em 2003, que apresentou sua versão de “La Edad del Cielo” de Jorge Drexler. Sua afinidade com artistas latinos culminou no álbum “Locura Total” em 2015, uma colaboração com o argentino Fito Páez. El. Além disso, ele se destacou como compositor requisitado por outros artistas, incluindo Marina Lima, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Ney Matogrosso e Gal Costa.

Na televisão, ele apresentou o programa “Zoombido” no Canal Brasil por várias temporadas, onde entrevistava e fazia duetos com diversos compositores. Além disso, ele concebeu, dirigiu e atuou na série documental “Tu Casa es Mi Casa”, que explora a América Latina contemporânea e suas realizações. Em 26 de agosto de 2023, Moska celebrará seus 30 anos de carreira com um show no Circo Voador, onde apresentará o espetáculo “Beleza e Medo”. Seu filho, Tom Karabachian, fará o show de abertura, tornando o evento ainda mais especial.

Moska conversou com a gente sobre beleza, medo, Circo Voador e a eternidade. Confira:

Alvaro Tallarico: Moska, são muitas passagens suas pelo icônico Circo Voador. Qual a importância desse local na sua vida?

Paulinho Moska: Fui adolescente nos anos 80, quando desde sua inauguração o Circo era celebrado como o espaço para cultura jovem… da música ao teatro, passando por muitas outras atividades culturais. Assisti inúmeros shows das bandas nacionais que começavam suas carreiras naquele palco. A primeira vez que cantei lá foi abrindo um show da dupla Zé Renato e Claudio Nucci. Eu tinha vinte anos e nem existia os Inimigos do Rei, banda de sucesso popular que integrei de 1988 à 1992. Durante minha carreira solo iniciada em 1993 já cantei muitas vezes na lona e foram noites inesquecíveis, o público é sempre uma atração à parte. O Circo é a melhor casa da música carioca.

Alvaro Tallarico: Sim, concordo. O Circo é realmente especial. Agora, outro assunto, no seu mini doc “Beleza e Medo” você coloca tais coisas como uma síntese da jornada humana. Elas resumem também a sua trajetória?

Paulinho Moska: A Beleza e o Medo são síntese da vida de qualquer pessoa. Viver é uma sequência desses dois aspectos que vão se alternando… num mesmo dia sentimos alegria e tristeza, nos deparamos com vitórias e fracassos, às vezes estamos mais otimistas e em outras pessimistas. Afinal, se não sentíssemos medo de nada não celebraríamos tanto as belezas da vida. E se não existisse beleza não teríamos medo de perdê-la.

AV: Quais foram os momentos de maior beleza e de maior medo na sua vivência?

Paulinho Moska: São muitas belezas e muitos medos. Existe a beleza da natureza, das obras de arte, da filosofia, da ciência, da amizade, do amor… e tem o medo da morte, da dor, da doença, da falta de dinheiro, da violência, das tragédias da vida. Acho que um bom exemplo de beleza na minha vida particular foi o nascimento dos meus dois filhos e o maior medo foi na pandemia durante o governo autoritário da extrema direita… os dois infernos ao mesmo tempo me deprimiu. Eu pensei que era o fim de muitas coisas.

AV: Você sugere que transformemos o medo em produção, mas como fazer isso? Como você consegue?

Moska: Nem sempre eu consigo, às vezes a tristeza me congela também, mas penso que o medo é uma energia que está presente em nossa mente e que podemos canalizá-la para uma produção. Se substituirmos o nome “medo” por “força”, “estímulo”, “intranquilidade”, “movimento”, “oportunidade”, “potência”… talvez essa energia se torne criativa. Muitas obras são criadas num momento de dor e de medo… o segredo é se jogar na criação acreditando que aquele mal também pode gerar alguma coisa.

AV: Pessoalmente, sempre sonhei com uma união maior da América Latina, mas, não sei o quanto meu otimismo é utópico. Após realizar a série documental “Tu Casa es Mi Casa”, como você entende o futuro da América Latina?

Moska: Situação difícil, porque o continente inteiro viveu a mesma história trágica: povos originários tiveram suas terras invadidas por piratas europeus que roubaram, mataram e os dominaram para serem donos de tudo. Hoje vivemos uma herança dessa pirataria, em todos países que fui (mais de 12) encontrei o mesmo cenário: democracia frágil com congressos e senados infectados por “bancadas” com interesses específicos (farmácia, armas, religião, terras…). A pobreza e o descaso dos governos deixam todos à margem do mínimo necessário para uma união definitiva da América Latina. Talvez a cultura consiga dar esse abraço, porque não tenho muita esperança com o caminho político.

AV: 56 anos chegando, 30 de carreira, música, teatro, TV, e seu filho Tom Karabachian abrindo esse show especial no Circo Voador. Quais os próximos passos? A calmaria vem aí?

Moska: Eu já estou num ritmo bem mais lento em relação aos primeiros vinte anos de carreira. Eu vivia na estrada, trabalhava muito e tinha muitas atividades paralelas (música, televisão, fotografia…), hoje continuo com meus leques de interesses e curiosidades bem abertos, mas faço menos shows e trabalho uma coisa de cada vez. Esse ano ainda vamos lançar o áudio visual do show que estou fazendo com Zelia Duncan, porque gravamos e filmamos 4 apresentações em janeiro e estamos terminando de finalizar o material. Em seguida devo lançar outro áudio visual, que será esse show no Circo Voador dia 26 de Agosto. Vamos registrar toda a festa com quase 10 câmeras. Já estou pensando na eternidade…

Ademais, em seguida, leia mais e confira um clipe em animação do Kaialas:

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Cinema

Mais Pesado é o Céu: um road movie impressionante de Petrus Cariry

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Mais Pesado que o céu de Petrus Cariry

Na noite da última sexta-feira, 29 de setembro, fomos convidados para a abertura da “Mostra Petrus Cariry: imagem, tempo e poesia” com o filme “Mais Pesado é o Céu”, na CAIXA Cultural Rio de Janeiro, localizada na Rua do Passeio, 38, no Centro da cidade maravilhosa. Foi também a reabertura do espaço de cinema da CAIXA Cultural, fechado desde 2019.

Os presentes, entre eles, Chico Buarque, Walter Lima Júnior, Silvia Buarque e Mônica Monteiro, Vice-Presidente de Logística, Operações e Segurança da Caixa Econômica, puderam ver o inédito, e mais recente longa-metragem de Petrus Cariry, o qual recebeu quatro prêmios no Festival de Gramado deste ano. O filme estrelado por Matheus Nachtergaele e Ana Luiza Rios, em grandes atuações, narra a história de Antônio e Teres. Eles acolhem uma criança abandonada e embarcam em uma jornada pelas estradas cearenses. Enquanto isso, compartilham um passado ligado às memórias de uma cidade submersa no fundo de uma represa.

Crítica de “Mais Pesado é o Céu”

Fiquei extasiado com a beleza da cinematografia do longa. Diversas cenas parecem pinturas e o céu é uma personagem presente quase o tempo todo, mas não de forma necessariamente positiva, apesar da beleza. Há muitas cenas onde o diretor usa divisões claras para simbolizar o distanciamento entre os protagonistas e a misoginia é um tema bem abordado, sem discursos, mas a partir dos acontecimentos e comportamentos dos homens do filme.

Há muitas simbologias religiosas, e nomes que podem remeter a isso, mas não fala sobre fé. O rádio traz recados de uma emissora evangélica, há imagens aqui e acolá, mas a realidade seca e cruel é mais presente do que o sonho e a esperança.

Tem um ar de sobrevivência, fazer o que for preciso, e traça um retrato do Brasil profundo, das estradas, da dureza da vida. Em vários momentos do longa, sorri, enquanto em outros me emocionei, mas também me perturbei. Sim, há momentos perturbadores e um final incisivo. Fiquei sentado até o fim dos créditos, buscando a digestão das cenas finais. Saí ainda pensativo e atordodado. É como deve ser o cinema, e como deve ser um bom road movie, uma experiência que permite viajar, refletir – e sentir.

Inclusive, entrevistamos o diretor, ouve aí:

A Mostra “Petrus Cariry: imagem, tempo e poesia”

A exposição tem início no sábado, 30 de setembro, e termina em 06 de outubro. Durante esse período, serão exibidos todos os sete longas-metragens do diretor cearense, acompanhados por quatro masterclasses. A entrada é gratuita, mas está sujeita à capacidade da sala, e as senhas serão distribuídas uma hora antes de cada sessão. Este evento marca a reabertura do cinema nesse espaço.

Petrus Cariry se destacou na cena cinematográfica brasileira das duas primeiras décadas do século XXI, sendo elogiado por seu rigor técnico e estético, bem como por uma linguagem autoral que destaca os cenários do Nordeste brasileiro.

A programação da Mostra começa no sábado, 30 de setembro, com a masterclass sobre direção cinematográfica ministrada por Petrus Cariry às 14h, seguida pela exibição dos filmes “O Grão” às 16h e “Mãe e Filha” às 18h. No domingo, 1 de outubro, haverá outra masterclass com Cariry, desta vez sobre direção de fotografia para cinema, às 14h, seguida pela exibição do filme “O Barco” às 16h.

Sequência

Na terça-feira, dia 3, a Mostra exibirá três filmes em sequência: “A Jangada de Welles” às 14h, “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois” às 16h, e “A Praia do Fim do Mundo” às 18h. Na quarta-feira, dia 4, haverá uma masterclass sobre produção cinematográfica com a produtora Bárbara Cariry às 14h, seguida pela reexibição dos filmes “A Praia do Fim do Mundo” às 16h e “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois” às 18h.

No penúltimo dia da Mostra, na quinta-feira, dia 5, a atriz Silvia Buarque ministrará uma masterclass sobre atuação no cinema e teatro às 14h, seguida pela reexibição dos filmes “O Barco” às 16h e “O Grão” às 18h. No último dia, sexta-feira, dia 6, “A Jangada de Welles” será reexibido às 14h, seguido por “Mãe e Filha” às 16h. Para encerrar a Mostra, “Mais Pesado é o Céu,” o sétimo longa-metragem de Cariry, será exibido às 18h.

Mais Pesado - Petrus Cariry
divulgação / Primeiro Plano

Petrus Cariry nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 1977. Ele tem uma longa trajetória no mundo do cinema e uma relação profunda com os sets de filmagem, influenciado desde a infância pelo trabalho de seu pai, Rosemberg Cariry. Além de dirigir, ele também assume a direção de fotografia, roteiro e montagem de suas produções, muitas vezes colaborando com pessoas como Firmino Holanda e Bárbara Cariry.

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