Cultura
Entrevista | Maria Pérola lança primeiro EP nesta sexta, 28, e conta detalhes sobre o novo álbum
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2 anos atrásem
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Lana JanotiPernambuco é um celeiro da música popular brasileira, terra de Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Chico Science e Lenine, o que não faltam são boas referências musicais num dos estados mais ricos em cultura do país. Os artistas contemporâneos seguem a tradição e a cantora, compositora e violonista, Maria Pérola, é um dos nomes que devem estar no seu radar. A jovem que deu os primeiros passos na arte, ainda na periferia de Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife, lança amanhã, dia 28, o seu primeiro EP. “Tudo que canto e componho tem um pedaço do meu chão”, declara a artista. Nós tivemos acesso em primeira mão às músicas do novo álbum e podemos garantir que está belíssimo, inclusive daremos alguns spoilers por aqui.
Dia do Compositor Brasileiro
Maria Pérola já havia divulgado a faixa “Tua Hashtag Não é à Prova de Bala”, a música autoral foi lançada no dia 7 de outubro. Justamente na data em que celebramos o dia do compositor brasileiro, o público foi agraciado com um single que está em seu novo álbum. A canção também ganhou um videoclipe no YouTube e nele podemos ver a performance potente da cantora, enquanto faz críticas contra aqueles que não levam o debate contra o racismo, na prática, por exemplo.
Afinal, “no dia a dia” é bem diferente, como ela mesmo diz na letra. Maria Pérola é uma mulher preta, periférica, e nessa música traz um pouco da sua vivência e o que tem percebido ao redor, como ouvimos no trecho: “Como será que é não temer a nada? É assim que fala o alvo tem cor”.
O EP da artista traz muita identidade e diversidade musical. Ele possui 4 faixas, sendo 3 autorais e uma releitura. Entre as autorais, além de “Tua Hashtag Não é a Prova de Bala”, ela também apresenta “Doce Amor” e Galope da Razão”. Já na releitura, a cantora homenageia Caetano Veloso e canta uma versão de “Desde que Samba é Samba”.
Doce, leve e potente
Maria Pérola hoje vive em São Paulo, mas traz a veia nordestina de forma latente em suas composições e nas melodias, ao mesmo tempo que também narra o amor e traz uma tranquilidade na voz que consegue ser doce, leve e potente. É importante que os artistas periféricos ganhem cada vez mais espaço e possam fazer a sua arte chegar a lugares que antes em muito difíceis. Ouvir Maria Pérola também é se sentir num entardecer tranquilo à beira mar. E, certamente, vale o seu play. “Ela é uma das grandes promessas da MPB”, comentou uma seguidora na publicação da artista no Instagram.
É importante lembrar que em 2019, Maria Pérola ganhou o Prêmio Suburbano Convicto ao lado de grandes artistas como Leci Brandão, Thaíde Dj e Criolo com a canção “Música Popular Periférica”. No ano seguinte, foi finalista no Festival Nacional da Canção com “Canção Contraditória” com a qual também ganhou o prêmio de melhor cantora do Festival Prêmio Lollo Terra de MPB 2021. Leia a entrevista completa com a cantora:
LJ: “Tua Hashtag Não É a Prova de Bala” é uma composição autoral, qual a mensagem você deseja passar na canção? Na letra há um pouco da sua própria vivência como uma mulher preta?
MP: A principal mensagem da canção é a necessidade urgente de falarmos sobre a luta antirracista fora das redes sociais. É necessário furar a bolha do conforto para enxergar o que vem reforçando o racismo dentro da nossa sociedade e a importância do nosso papel enquanto cidadão para mudar essa estrutura. Se tratando dessa pauta específica que aborda o racismo, “Tua Hastahg Não É à Prova de Bala” está ligada diretamente com minha vivência enquanto mulher preta e periférica e também entrelaçada com todas as pessoas e coletivos presentes em minha vida e que fazem parte dessa busca por igualdade e justiça racial e social.
LJ: Após o lançamento da faixa, você já conseguiu perceber a boa receptividade do público com a música?
MP: A receptividade do público foi incrível, em menos de 24 horas do dia do lançamento a ela já tinha atingido a marca de mil streamings nas plataformas digitais. Isso me deixa muito esperançosa, pois acredito que a arte em sua diversidade de linguagens consegue ser potente e educativa. Se tem pessoas consumindo a minha música, significa que a mensagem está reverberando na mente desses ouvintes.
LJ: Além de composições suas, no EP há uma releitura de “Desde que o samba é samba”, de Caetano Veloso. Por que escolheu essa música para regravar? Há um valor afetivo nela, você tem vontade de cantar mais sambas?
MP: Caetano Veloso é uma referência de compositor para mim. Conheci a canção através do livro ‘Sobre as Letras’, de Caetano Veloso, em que ele menciona que fez essa música para cantar com Gilberto Gil. Então fui atrás de ouvir, fiquei curiosa. Depois do meu encontro com essa canção entendi o significado da frase “O samba ainda não chegou, o samba ainda vai nascer”, pois Caetano complementa em comentário no livro que “o samba é um projeto de Brasil”.
Uma construção social, a meu ver, enquanto artista, um nascimento! Quando comecei a compor “Tua Hastahg Não É à Prova de Bala” lembrei muito da frase da canção de Caetano que diz “a lágrima clara sobre a pele escura” e até quando essa lágrima continuar rolando nessa construção humanista de Brasil que tanto almejamos.
Como compositora penso muito na minha música como uma base construtiva e escolhi regravar “Desde que o Samba é Samba” por valor afetivo, sim, mas principalmente pela carga poética, atual e construtiva que a composição propõe. O samba é parte fundamental da música brasileira e sempre canto para lembrar o mundo disso. Fiquei muito feliz quando meus produtores Petterson Mello e Fran Carlo me trouxeram a notícia com a gravadora Atração sobre colocarmos no disco essa canção que tanto significa para mim.
LJ: Aliás, você já compôs um samba como canção de protesto contra o veto da Lei Aldir Blanc. Como enxerga o desmonte da cultura popular que vemos atualmente e como acha que podemos combater tudo isso?
MP: Sobre o samba “Decadência” que compus em forma de protesto contra o veto da Lei Aldir Blanc, é uma canção de revolta com o abandono que anda sucateando a nossa cultura. O que enxergo é que existe um projeto de degradação da nossa cultura e a única forma de combater isso tudo é retribuindo com resistência e ainda mais ARTE. Nós vamos lutar em prol da cultura e protestar frente a qualquer desmonte. Foi isso que Aldir Blanc fez e é dessa forma que nós da nova geração devemos fazer.
LJ: Em outubro é celebrado o dia do compositor e dia do nordestino. Nesse mesmo mês você está colocando mais um trabalho no mundo, sendo uma compositora nordestina. Você acha importante trazer cada vez mais a cultura do nordeste para as outras regiões? Hoje você mora em São Paulo, de que forma consegue destacar isso nos seus projetos?
MP: O nordeste é o maior celeiro cultural do Brasil. Acho importante, sim, espalhar toda essa carga pelas diversas regiões não só do nosso país, mas do mundo. Eu nasci na região metropolitana do Recife, na comunidade do Alto da Colina, lugar com grande significado em minha vida, foi nesse lugar de pertencimento que cantei a primeira vez, que escrevi meu primeiro poema e minha primeira canção. Então a forma de destacar o meu povo e lugar em meus projetos musicais é reafirmando a representatividade e diversidade cultural que existe ali. Tudo que canto e componho tem um pedaço do meu chão.
LJ: Como estão as suas expectativas com o lançamento do primeiro EP?
MP: As expectativas estão a mil, um misto de ansiedade e empolgação! Esse EP foi muito sonhado, desejado e planejado… Por outubro ter duas datas tão significativas que é o dia do compositor e o dia do nordestino, não tinha mês mais bonito pro disco nascer e tenho certeza que esse projeto será muito bem acolhido pelo público.
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Publicado
3 horas atrásem
18 de maio de 2024Por
Livia BrazilA exposição “Constituinte do Brasil Possível” é uma ação cultural que propõe uma reimaginação histórica. Nela, a população negra brasileira participaria ativamente dos debates parlamentares do país desde a abolição da escravidão em 13 de maio de 1888. A mostra tem idealização da diretora e produtora executiva Mariana Luiza (“Redenção”), em colaboração com as professoras Ana Flávia Magalhães Pinto (História-UnB e Arquivo Nacional) e Thula Pires (Direito-PUC-Rio).
Por meio de um edital de convocação pública, selecionarão 10 propostas artísticas inéditas, de pessoas com idade a partir de 18 anos, autodeclaradas pretas ou pardas. Artistas de todo o Brasil, com trajetórias mais consolidadas ou estreantes, podem se inscrever. Cada artista vai receber R$4.500,00 para executar sua obra. A previsão é de exibição no Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro em outubro deste ano.
Como se inscrever
A saber, as inscrições são gratuitas por este formulário on-line até o dia 26 de junho de 2024, às 23h59. A divulgação do resultado será no dia 15 de julho de 2024, no site www.linhadecor.com e nas redes sociais do projeto.
No mesmo formulário, os interessados devem enviar um vídeo de 1 a 4 minutos. O vídeo deve responda à pergunta: “Como sua obra pode contribuir para o imaginário de um Brasil possível?”. Além disso, devem enviar um portfólio e uma proposta artística, que podem ser entregues no formato PDF ou vídeo/animação. Todos os detalhes, exigências e demais etapas estão no edital, que está disponível no site Linha de Cor.
Temática das obras
As propostas artísticas devem conter uma descrição minuciosa sobre a linguagem que o candidato pretende adotar. Entre as linguagens estão: pintura (em variados materiais), escultura, impressão 3D, gravura, fotografia, indumentária, artesanato, arte gráfica, xilogravura, poesia visual, arte postal, zine, performance, grafite, lambe-lambe, stencil, colagem, fotoperformance, artes integradas e outras não especificadas anteriormente.
“A exposição propõe um exercício de imaginação histórica para o Brasil que se firmava enquanto nação no século XIX. Convocamos artistas negros (pretos e pardos) a imaginarem projetos para o Brasil a partir de personagens negros invisibilizados pela História oficial. E se no dia seguinte a abolição da escravidão, uma nova Constituinte fosse convocada para o Brasil com a participação ativa de pessoas negras? Partimos de uma Constituinte afro-brasileira desejando inspirar fabulações históricas de todos os excluídos deste projeto de nação branco, patriarcal e eurocêntrico que se construiu e ainda está em curso no Brasil”, explica, assim, Mariana.
A exposição
O objetivo da exposição é criar um debate sobre propostas de um Brasil possível. Nele, pretos e pardos, a maioria da população, são vistos como sujeitos decisivos nos debates e encaminhamentos de projetos políticos, sociais e culturais do país. A data-chave para o projeto é o dia 14 de maio de 1888. Um dia após a abolição da escravatura, em que pessoas negras continuaram a ser marginalizadas pela sociedade.
“No 14 de maio fabulado por nosso time de historiadores, pretendemos discutir um atraso de 66 anos que separa a afirmação da independência e uma não participação equitativa da população negra e indígena na sociedade. Personagens que atuaram na sociedade civil e na política poderão se fazer presentes na Constituinte como alguém que deixou um legado. São alguns deles: Maria Amanda Paranaguá, Tia Ciata, André Rebouças, José do Patrocínio, Machado de Assis, entre outros”, explica a professora de História da UnB, Ana Flávia Magalhães Pinto.
A exposição “Constituinte do Brasil Possível” é integrante do Projeto Linha de Cor. O projeto é uma iniciativa inédita que envolve pesquisa, educação e audiovisual realizados por pessoas negras.
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