“O Grande Dia” teve uma nova e curta temporada. Tanto o teatro quanto o cinema são artes capazes de provocar catarse. Vamos esperar de um espetáculo que una as duas artes. “O Grande Dia”, peça filme da Confraria do Impossível, traz o ator Reinaldo Júnior dando vida a vários personagens da história ao longo dos anos. Anônimos e famosos ganham vida como protagonistas das suas narrativas e vivências. O que todos têm em comum? São homens negros, assim como o ator. Um homem negro dando voz e vida a esses personagens.
Com uma dicção impecável e muito desenvoltura em cena, Reinaldo nos apresenta diversos personagens vivos e mortos, cujas vidas passaram pelos mesmos atravessamentos em tempos diferentes na história, além das suas técnicas corporais, uma estrutura que une dois elementos para contar a história.
E assim temos uma peça-filme, tipo de espetáculo que une os efeitos cinematográficos e a poesia do teatro. Aqui esse recurso é muito bem utilizado para contar essas histórias, pois temos a combinação perfeita de tais elementos aliados ao trabalho do ator em cena.
Adversário
O espetáculo tem uma temática extremamente necessária: a luta quotidiana do homem negro por reconhecimento, igualdade, liberdade e claro, contra o maior e mais devastador dos adversários, o racismo. Escancarando os preconceitos em relação a pessoas negras, principalmente homens, que em alguns casos mesmo em posição de prestígio sofrem discriminação por sua cor, com a ajuda de um filme que dialoga diretamente com o ator, temos em cena questões muito debatidas como uma forma de manter vivo a discussão, não para polemizar, mas para iluminar a mente de quem está assistindo, desmistificando certos conceitos estabelecidos na sociedade e demonstrando como eles influenciam de maneira negativa o olhar para o homem negro.
Vale ressaltar o domínio que Reinaldo tem em cena, a sua incrível capacidade de dar vida a personagens tão diferentes, e também a maneira como faz a sua performance em cena. Alia uma dicção impecável com uma voz potente que grita por aqueles que um dia precisaram se calar. O seu corpo expressa cada dor, cada sofrimento, cada experiência das suas personagens. Aliás, que expressão corporal incrível. E que resistência ao atuar, dançar e correr pelo palco. Por fim, não podemos deixar de citar a dramaturgia extremamente tocante e competente.
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