“Contos de vinho – Histórias e curiosidades por trás dos rótulos “, é sobre ele que, prazerosamente, vou escrever!
“Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram nada, nem quiseram mais” (Carta de Pero Vaz Caminha)
Será que o vinho era um Pêra-Manca? Ou será que foi por esse o motivo que o presidente Getúlio Vargas baixou um decreto protegendo e fomentando a indústria do vinho nacional?
Tenho um conto para contar. Faz um bom tempo que procuro o livro: A Viúva Clicquot: A história de um império do champanhe, e através dessa busca cheguei a um site. No cabeçalho dele, indicavam livros do mesmo tema, um que já tinha lido, inclusive, emprestei e ele não voltou. Por esse motivo, não mais empresto!
O livro que não voltou para minha estante era o Guerra & Vinho, que contava a história do vinho durante a Segunda Guerra Mundial, um momento difícil, principalmente para a França, quando os franceses foram obrigados a trabalhar e postos em campos de concentração para que produzissem o produto já apreciado no mercado internacional. Hitler, que não era burro, nem um pouco, passou a vender o vinho francês para comprar munição.
O outro livro no cabeçalho era “Contos de Vinho”, que chamou muitíssimo a minha atenção. Lógico!
Uma semana depois, a editora Fábrica de Livros mandou um e-mail sobre outro livro que estava fazendo a assessoria, e respondi, positivamente, o interesse em ler.
A assessora de imprensa, Silvana, me apresentou a editora e os livros que tinham, e o que encontrei? Contos de Vinho, enlouqueci! E ele chegou em minhas mãos!
Tenho uma história interessante com a bebida predileta de baco, deus do vinho e da folia na mitologia grega. Imaginem que há mais de 25 anos, eu bebia aqueles vinhos doces, que só de pensar, fico arrepiada.
Meu ex-marido, uma vez me apresentou um Shiraz, neguei inicialmente, ele tentou mais uma vez. Gostei! E daquele dia em diante, nunca mais voltei ao “velho mundo doce”. Nem mesmo nas sangrias, receita espanhola, sangue del toro, da península ibérica, são bem vindos para mim. Já experimente uns vinhos de mesa internacionais, o que não são tão ruins, mas óbvio que hoje, nem pensar!
Eu, que sou apreciadora da leitura e também do vinho, quando o tema é trazido as folhas de um livro, eu não deixo passar despercebido. Li um livro chamado História do Mundo em 6 Copos, que também levaram! Não empresto mais, não adianta pedir!
Esse contava a histó?ria do vinho, Coca-cola, chá, cerveja, café e destilados, uma maravilha de livro!
É preciso amar
Portanto, senhores, posso afirmar, que é preciso amar, gostar muito de algo para querer escrever sobre, criticar algo! E se tem duas coisas que não abro mão na minha vida, é uma taça de um bom vinho e uma boa peça teatral, e se é sobre meus prazeres, óbvio que as leituras são bem-vindas e meu parecer de alguma forma será registrado. Evoé!
Para a leitura, confesso que sou um pouco chata, pouco não, muito chata. Não consigo ler, nem um parágrafo de temas que não me interessam, principalmente quando são rasos.
Ao ler “Contos de Vinho” fiquei interessada, logo na primeira página, por quê? Tatiana Jung e Rui Marcos, estão muito bem embasados, trazem as histórias dos vinhos e democraticamente, porque são vinhos de todos os lugares.
Achei isso tão elegante da parte dos autores, fugiram da ostentação. Elitizar é ser acessível e se fazer entender, e isso eles mostraram que sabem fazer. Cada conto, eu ia à internet saber valores e encontrei vinhos que cabem em todos os bolsos. Não é incrível isso?
As ilustrações do livro são ótimas, tudo muito bem acolhido. Uma curadoria fotográfica precisa. A capa e o projeto gráfico pertencem a Bruno Drummond e a revisão é assinada por Luciana Barros. Uma diagramação que nos leva a leveza. Nada pesado, sujo, como dizem os profissionais do setor.
A capa é composta por rótulos dos vinhos. Uma graça.
Interessante os contos que os autores nos trouxeram. Eu não sabia que a marca Cartier tinha uma marca de vinho, muito menos que o marido da Beyoncé, ampliava sua comercialização, mulher de sorte ela!
O livro vem recheado de histórias também, é o caso do conto do vinho Almavina que apresenta o desenho indígena em celebração ao MAPUCHE.
O mapuche é um povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina. São conhecidos também como araucanos (nome que os espanhóis lhes deram, mas que eles não reconhecem como próprio e percebido como pejorativo) ou eram também chamados reches antes do século XVIII. Os grupos localizados entre os rios Biobío e o Toltén (atual Chile) conseguiram resistir com êxito aos conquistadores espanhóis na chamada Guerra de Arauco, uma série de batalhas que durou 300 anos, com longos períodos de trégua.
Outro ponto positivo, que penso ser de relevância é o olhar dos autores para as mulheres, eles trazem a nós leitores o trabalho de algumas delas nessa evolução dos vinhos, incrível essa percepção. Nos contos dos vinhos Carmen Gran Reserva Frida Kahlo e o Catena Zapata, temos histórias delas. Sem contar a história dos vinhos californianos, premiados na França, isto devido à interferência das mulheres no setor. Sem falar na argentina Suzana Balbo, o que não vou me estender, penso que os leitores precisam ler. Para entenderem porque entre fados, vinhos, flores e mulher, Portugal também faz vinho!
Que leitura fantástica, praticamente La Piu Belle! Leve e muitíssimo cultural!
Eles foram minuciosos e trouxeram toda contemporaneidade, quando abordam a inclusão trazida ao mundo dos vinhos. Braile, um vinho espanhol que teve a ideia de não só pelo rótulo em braile, como também convidou profissionais com deficiência visual para degustação em sua produção. Jamais imaginaria esse processo em qualquer lugar do mundo! Estou em êxtase com essa leitura. E essa não é a única história, temos o vinho Juan Luz, que também defende essa parte da sociedade. É cada história, que nós degustadores de vinhos, passamos a admirar ainda mais nossas garrafas!
Os autores foram simplesmente façanhosos, quando mencionaram a Casa Valduga. Eu desconhecia o vinho Villa Lobos. Em 2009, quando o artista completou 50 anos de morte, a casa selecionou suas preciosas uvas Cabernet e elaborou um vinho em homenagem ao Heitor. Merecidíssmo, afinal basta ouvir o Trenzinho Caipira para levantar uma taça e brindar ao grande maestro, modernista, que esteve presente no maior movimento artístico do Brasil, a Semana de Arte Moderna. A Casa, simplesmente, levou ao rótulo, a assinatura do maestro e também uma parte das partituras de uma de suas composições…
E isso não foi o suficiente, a Casa Valduga, ganhou prêmios na França e na Espanha, medalhas de ouro!
Eu não conhecia essa história, quanto ao vinho Valduga, uma vez cheguei em Salvador bem animada, após ter degustado algumas tacinhas durante o voo Rio/Bahia! Excelente vinho! Sem contar que em Minas-Gerais temos além do pão de queijo, um bom Syrah, Maria Maria, se Milton Nascimento tem algumas coisa com isso? Leiam!
Um livro com consistência quanto as histórias das uvas, é o caso da Carmenere encontrada no chile, está tudo em suas folhas. A vontade é de comer o livro em um dia!
Posso dizer que “Contos e Vinhos” é uma mistura do velho e novo mundo, seus autores souberam pesquisar os progressos, mas não esqueceram dos dinossauros, reis, Picasso, Miro, Salvador Dali, santos e tupiniquins, este livro não é o que eu esperava, ele vai muito além das minhas expectativas.
O livro nos presenteia com a cultura desse mundo que estamos, muitas vezes, nos desdobramentos de nossas vidas com as taças nas mãos, ainda que sejam diante de momentos bons ou ruins, é na cia dele, do vinho que muitas vezes relaxamos ou nos alegramos, ou compartilhamos as dores de cotovelos como dizem por aí…
Uma leitura para todos, mas principalmente para aqueles que admiram esse néctar do deuses!
Ficha:
Título: Contos de vinho – Histórias e curiosidades por trás dos rótulos
Autor: Taiana Jung e Rui Marcos Editora:
Máquina de Livros Preço: R$ 44,90 (impresso) e R$ 31,90 (e-book)
Páginas: 176 Gênero: Vinho, Gastronomia
Onde comprar: Amazon
Contos de vinho junta clássicos, como Romanée-Conti, Barca Velha e Marqués de Riscal, com outros vinhos menos conhecidos, mas com histórias surpreendentes. Há rótulos produzidos num lendário vale de dinossauros, outros escritos em código morse, em braile, e até um Merlot que passou 14 meses amadurecendo na órbita da Terra. Rui e Taiana garimparam curiosidades e fatos importantes, muitos deles protagonizados por estrelas do mundo do vinho, como Robert Parker, Barão de Rothschild e Nicolás Catena Zapata. (sinopse)