Conecte-se conosco

Cinema

‘Viúva Negra’ e uma conversa sobre ética | Crítica

Publicado

em

crítica viúva negra

Tiro, p*rr*da e bomba é basicamente o que se espera de um filme Marvel, não é muito, mas é alguma coisa; surpreendentemente, Viúva Negra apresenta isso e mais um pouco. Scarlett Johansson retorna ao seu papel titular depois do fim da saga em Vingadores: Ultimato. Além dessa estrela já conhecida nos é apresentado vários novos integrantes do MCU, como Florence Pugh, Rachel Weisz, David Harbour, Olga Kurylenko e grande, enorme elenco. O longa mostra o que acontece depois de Capitão América: Guerra Civil; o que para não iniciados pode ser um pouco confuso no começo devido às várias referencias a outros filmes bem como muitos personagens que são de alguma forma mencionados ou relevantes ao plot.

Ainda assim, Viúva Negra consegue ser um filme linear e claro o suficiente para leigos e dá detalhes interessantes, mesmo que sem adicionar muito à trama, para fãs mais ardorosos. A cena pós créditos dita o caminho que a Fase Quatro do MCU pode tomar e não faz sentido quase nenhum para quem não assistiu a uma certa série disponível no Disney+.

Moralidade no mundo dos super heróis

Deixando de lado as tecnicalidades e delongas, Viúva Negra é um dos poucos filmes da Marvel que tem alguma discussão de moralidade. O primeiro Homem de Ferro fala sobre a indústria armamentista e o seu lugar no mundo como uma forma de ganhar dinheiro, o que por si só é interessante, mas falhou em trazer alguma discussão ao mainstream. Capitão América fala aberta e literalmente sobre a luta antifascista, só isso.

Pantera Negra apresentou, na minha tola opinião, o melhor antagonista da década, um personagem que está tão coberto de razão na sua revolta, e que é vilanizado por um filme que não pode dar razão ao “vilão” por motivos econômicos e políticos maiores que essa obra individual. Nesse 2021 pós protestos do Black Lives Matter, Erik Killmonger é mais um líder do que o próprio Pantera Negra; já foi provado que ficar quieto e resignado só leva a mais abusos sistêmicos e morte.

Nesse ponto do texto é necessário explicar que eu, Felipe, não me importo particularmente com filmes de super-heróis. Ou os heróis são usados como símbolos de um mundo ideal que não existe, ou eles são incompreendidos pelos diretores e pela audiência, ao ponto de pessoas cultuarem um bilionário que usa a sua fortuna para bater em criminosos enquanto está vestido de morcego, ao invés de investir em educação, empregos, saúde e lazer, o que diminuiria a criminalidade. O meu ponto é que esses filmes frequentemente falham em apresentar qualquer coisa além de uma Jornada do Herói previsível, e existem apenas como entretenimento barato para a audiência, porém lucrativo para a produtora.

A falta da discussão de ética

Felizmente Viúva Negra foge, mesmo que muito pouco, à essa regra. A ética apresentada brevemente, como um gracejo, na cena do museu em Pantera Negra, volta, também acanhada, na cena do posto de gasolina em Viúva Negra. Enquanto as duas protagonistas conversam sobre o passado distante e não tão distante, Ylena (Pugh) relativisa a realidade em que ambas são assassinas e espiãs, mas Natasha (Johansson) é adorada por menininhas e vista como uma heroína. Nesse ponto, nessa simples cena que mal dura alguns minutos, o filme se paga de forma catártica. Parece que o “girl power” barato acabou, e nuances de personagem finalmente apareceram. Não mais temos uma Viúva Negra unidimensional e estoica, mas sim uma pessoa de verdade com problemas e traumas de verdade.

Esse questionamento felizmente vai deixar alguém mundo afora intrigado e vai criar mais questionamentos e mais conversas sobre a posição dos heróis na sociedade. Além de pessoas poderosas e influentes, o que mais eles são? Destruidores de infraestrutura pública? Ícones do bodybuilding? Assassinos em série? Vingadores? Algumas dessas perguntas são bobas, mas no fim todas elas falam sobre como nós vemos os super heróis. E, além disso, como permitimos que eles criem uma narrativa em que necessitamos de ídolos salvadores que estão acima de qualquer escrutínio. Aparentemente, o filme Eternos, da diretora Chloé Zhao, vai entrar nesses méritos, o que é bem interessante, mas pode acabar mostrando, uma visão bem comercial do problema. Batman vs Superman: A Origem da Justiça tenta entrar nesses méritos, mas acaba se perdendo num mar de referências baratas e ideias adolescentes do que é um herói: um macho musculoso que bate em alguém que merece.

Conclusão

Mesmo que não seja um primor de história, um sentimento positivo fica latente ao sair da sala de exibição. Mesmo que ainda estejamos entorpecidos por toda a violência e piadinhas engraçadas às custas de um trapalhão e dinâmicas familiares previsíveis. Finalmente, Viúva Negra é um filme divertido, que apresenta uma ideia belíssima de forma sutil e que não decepciona como um filme Marvel. Florence Pugh está excelente como uma viúva negra e parece que vai ser mais do que apenas uma substituta loira da sua irmã daqui para a frente.

Ademais, veja mais:

Em Guerra | Filme fica liberado gratuitamente na Supo Mungam Plus neste fim de semana

Crítica | Rua do Medo 1994

Cachaça | Curta na 16ª CineOP instiga pensamento desbravador

Anúncio
9 Comentários

9 Comments

  1. PEDRO ENRIQUE DE CARVALHO SOEIRO

    12 de julho de 2021 at 16:00

    Não verei, parece sem impacto no UCM. Esse filme seria sucesso se saísse na época em que se passa, incluindo a cena pós créditos, que iria explodir cabeças. INFELIZMENTE a cronologia da Marvel faz muita diferença num universo tão compartilhado e uma personagem tão presente no universo tendo suas consequências diminuídas por ter um final já conhecido.

  2. Pingback: Crítica | 'Tempo' de M. Night Shyamalan

  3. Pingback: Crítica | O Homem Água

  4. Pingback: O Esquadrão Suicida | Crítica

  5. Pingback: Crítica | 'Eternos' traz deuses com sentimentos humanos numa Marvel mais adulta

  6. Pingback: Ghostface está de volta | Veja aqui o primeiro featurette do novo 'Pânico'

  7. Pingback: Cinema e ENEM | Conheça três filmes que podem ajudar na prova

  8. Pingback: EXPOCINE 2021 | O futuro do audiovisual após a pandemia é tema de discussões

  9. Pingback: Piticas lança nova linha de produtos de 'Doutor Estranho no Multiverso da Loucura'

Escreve o que achou!

Cinema

Crítica | Transformers: O Despertar das Feras

Sétimo da franquia é mais do mesmo, mas superior a outros

Publicado

em

transformers o despertar das feras

O início de Transformers O Despertar das Feras (Transformers: Rise of the Beasts) é frenético, com uma boa batalha. Em seguida, conhecemos os protagonistas humanos, que são mais cativantes do que de outros filmes. O rapaz latino Noah Diaz (Anthony Ramos) e seu irmão (Dean Scott Vazquez), o qual serve mais como uma metáfora para o espectador. E a divertida Dominique Fishback, como Elena Wallace.

Nessa primeira parte do filme há algumas boas críticas, como o fato de Elena ser uma estagiária e saber muito mais que sua chefe, porém, sem levar nenhum crédito por isso. Enquanto Noah tem dificuldades de arrumar um emprego. Há aqui uma relevante abordagem sobre periferia (Brooklyn) ao vermos alguns dos desafios da familia de Noah, o que o leva a tomar decisões errôneas. A princípio, é um bom destaque essa caracterização dos personagens, em especial, favorece o fato da história se passar em 1994.

Dessa vez, o diretor é Steven Caple Jr., o qual não tem a mesma capacidade de Michael Bay para explosões loucas e sequências de ação. Steven faz sua primeira participação nesse que é o sétimo filme dos robôs gigantes. Ele era fã de Transformers quando criança e procura mostrar os Maximals (Transformers no estilo animal) de uma maneira autêntica.

Aliás, veja um vídeo de bastidores e siga lendo:

O público alvo do longa é o infanto-juvenil, que pode se empolgar com algumas cenas. Contudo, no geral, o roteiro é um ponto fraco. O Transformer com mais destaque aqui é Mirage, que fornece os instantes mais engraçados da história e faz boa dupla com Noah.

Além disso, as cenas no Peru e a mescla de cultura Inca com os robôs alienígenas é válida, com alguma criatividade e algumas sequências tipo Indiana Jones. Há muitas cenas em Machu Picchu e na região peruana que são belíssimas e utilizam bem aquele cenário maravilhoso. Vemos, por exemplo, o famoso festival Inti Raymi em Cusco, antiga capital do Império Inca, o qual o longa usa com alguma inteligência. Pessoalmente, essas partes me trouxeram lembranças pelo fato de que já mochilei por lá (veja abaixo), então aqui o filme ganhou em em relevância pra mim.

O longa se baseia na temporada Beast Wars da animação e traz o vilão Unicron, um Terrorcon capaz de destruir planetas inteiros. Na cabine de imprensa, vimos a versão dublada, a qual ajuda a inserir no contexto dos anos 90 com gírias da época.

Por fim, dentre os filmes dessa franquia que pude ver, esse sétimo está entre os melhores, apesar de ser somente regular, e conta com momentos divertidos. Além disso, a cena pós-crédito (só há uma) promete um crossover com muita nostalgia, Transformers: O Despertar das Feras chega aos cinemas de todo o país na próxima quinta-feira, 8 de junho.

Continue lendo
Anúncio
Anúncio

Cultura

Crítica

Séries

Literatura

Música

Anúncio

Tendências