Cultura
Afro Gourmet encanta com Moqueca de Banana
Publicado
3 anos atrásem

O restaurante Afro Gourmet fica no bairro do Grajaú, no Rio de Janeiro. Inclusive, para fazer jus ao nome, apresenta uma decoração étnica, com diversos quadros e enfeites de origem africana, comprados nas viagens que a chef Dandara Batista faz em busca dos temperos ancestrais e dos pratos típicos dos muitos países do continente africano.
A saber, a variedade de pratos é grande, fazendo com que o cardápio varie diariamente. Todos os dias são 4 ou 5 diferentes, sendo que, no fim de semana, são até 7 pratos distintos, devido ao grande movimento. Ainda por cima, toda sexta-feira tem show ao vivo, sempre com artistas negros. Entretanto, o Vivente Andante foi em busca de gastronomia gostosa com ancestralidade africana.
Dadinhos de Tapioca com Melado de Cana e a Moqueca Cremosa
O jornalismo cultural engloba a gastronomia, sendo assim, um restaurante que procura realçar a cultura africana é algo que desperta curiosidade. Cheguei ao local e fui atendido com eficiência e simpatia pelo Lúcio. Pedi como entrada os Dadinhos de Tapioca. Qual não foi minha surpresa quando não veio geleia de pimenta acompanhando – algo já bem comum – mas sim melado de cana! Aliás, os dadinhos surpreenderam, não é tão simples acertar o ponto e a massa, em outros locais havia provado uns bem borrachudos. Contudo, vieram crocantes por fora e macios por dentro. Ao molhar no melado, a apetitosidade escorria e o contraste entre doce e salgado causavam uma explosão de sabor na boca.
Como prato principal, pedi a Moqueca de Banana. Era a opção vegana do dia. Mais uma vez, uma grata surpresa, baseada na culinária Afro-Indígena. Vem com farofa de dendê saborosa, aquele toque baiano. No caso, os indígenas, ao invés do dendê, utilizavam urucum, como fazem no Espirito Santo. Além desse prato que pedi, tem dias que sai a Moqueca de Cogumelos; em outros, o Abacate Tahine, uma inspiração na comida árabe com um toque diferenciado.

“Sempre comi moqueca, desde criança. Meu avô é baiano e meu pai sempre fez comida baiana em casa. Experimentei a do Espírito Santo, mas acabo gostando mais da baiana, por causa do dendê. Então, nesse prato, não usamos peixe ou frutos do mar, mas sim a banana-da-terra com azeite de dendê e leite de coco”, disse Dandara Batista, chef do Afro Gourmet.
Referências do Congo: o Ngombe
Ainda por cima, como outras opções veganas, tem um arroz cremoso feito com leite de coco e o Ngombe, que começou a ser feito no Dia da Consciência Negra. A saber, é um nhoque de banana-da-terra frito com molho de tomate e cogumelo, diretamente da culinária do Congo.
As entradas também variam, tem dia que tem sarapatéu, comida típica nordestina; caldo de sururu, puxando da Bahia novamente, e tantas outras. Para beber, escolhi um suco de abacaxi, da fruta mesmo, feito na hora. Dandara explicou que sempre tentam utilizar frutas da época, em especial as nordestinas, como carambola e graviola. Enquanto bebia e me deliciava com a espumosidade, percebi com mais atenção o desenho que tem logo na entrada do restaurante, inspirado em uma foto tirada pela própria chef Dandara Batista quando foi visitar a Angola. É a árvore imbondeiro, essa, especificamente, fica em frente ao Museu da Escravatura. Aliás, é uma árvore típica africana encontrada nas savanas quentes e secas da África subsariana, mas que também aparece em zonas de cultivo e áreas povoadas. Tudo a ver com a proposta do restaurante.

Todavia, não acabei de falar sobre a Moqueca de Banana. A iguaria me presenteou com uma cremosidade advinda do leite de coco que provocava as papilas gustativas. Servida em prato de barro, mantinha o sabor e o calor. Tinha uma leve picância de páprica e uma pimenta biquinho no meio para florear, mantendo o prato bonito e de visual agradável. O arroz branco estava soltinho, cozido no ponto certo com cheiro verde espalhado carinhosamente por cima.
Enfim, o restaurante Afro Gourmet proporciona uma apetitosa viagem gastronômica pelo continente africano, com escala no Brasil – mais precisamente – no Grajaú.
Serviço:
Aberto de terça-feira a sexta-feira de 18h às 23h
Sábado de 12h às 23h
Domingo de 12h às 16h
Endereço: Rua Barão do Bom Retiro, 2316, Grajaú, Rio de Janeiro
https://www.facebook.com/restauranteafrogourmet/
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Jornalista Cultural. Um ser vivente nesse mundo cheio de mundos. Um realista esperançoso e divulgador da cultura como elemento de elevação na evolução.

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Crítica
Benjamin, o palhaço negro | Uma homenagem ao primeiro palhaço negro do Brasil
Publicado
4 dias atrásem
25 de maio de 2023Por
Livia Brazil
Parece até piada que notícias como a do racismo sofrido pelo jogador de futebol Vini Jr. ou um aplicativo que simula a escravidão tenham saído enquanto “Benjamin, o palhaço negro” está em cartaz. Infelizmente não é. Assim como não é piada e nunca deveria ser considerada como uma as coisas que um certo “humorista” disse no vídeo que, com razão, foi obrigado a ser retirado do ar. Infelizmente, a luta contra o racismo continua, desde a época em que Benjamin de Oliveira viveu, de 1870 a1954. Cem anos e as atitudes dos racistas continuam iguais! É um absurdo!
Mas sabe o que mudou? O combate. Como fica bem óbvio no texto do musical, agora não se sofre mais calado. Agora há luta. Agora há regras, há leis, os racistas não vão fazer o que querem e ficar por isso. As pessoas pretas vão exigir o seu lugar de direito e o respeito de todos. Já está mais do que na hora, né?
Mas estou me adiantando para o final da peça. Vamos voltar ao começo.
Quem foi Benjamin de Oliveira?
Benjamin de Oliveira foi o primeiro palhaço negro do Brasil, em uma época em que pessoas pretas não eram aceitas ou bem-recebidas no mundo do entretenimento (e no mundo como um todo, sejamos sinceros). Além disso, ele foi o idealizador e criador do primeiro circo-teatro. Mas por que, então, não conhecemos a história dele?
Por que vocês acham?
Como os atores dizem no início do musical idealizado por Isaac Belfort, a história do circo foi embranquecida, assim como todas as histórias que aprendemos. A peça vem, portanto, para contar a história verdadeira e colocar luz em cima de quem deveria, desde sempre, ter ganhado os louros de sua invenção. Em um espetáculo intenso, sensível e moderno, o público aprende sobre quem foi Benjamin e, também, a valorizar os artistas negros atuais e da nossa história. Mostrando, assim, pra quem tinha dúvidas, quanta gente preta de talento existe e sempre existiu. Só falta, como disse Viola Davis, oportunidade.
O espetáculo
No palco, cinco atores. Eles se revezam para interpretar Benjamin, uma sacada ótima. Uma sacada que faz todo mundo querer se colocar no lugar daquele personagem. Uma sacada que faz qualquer um não conseguir não se colocar no lugar daquele personagem. E sentir todas as dores que ele sentiu. Para pessoas brancas, como a jornalista que vos fala, que nunca vão saber o que é sofrer o racismo na pele, é um toque certeiro pra empatia. Mesmo que forçada, aos que até hoje tentam ignorar esse mal da nossa sociedade. É necessário.
Outra sacada ótima foram os toques de modernidade ao longo de todo o roteiro, muito bem escrito. Colocar personagens da época de Benjamin agindo como os jovens tiktokeiros e twitteiros de hoje foi primordial pra facilitar a identificação. Mesmo para quem não conseguiria fazer a paridade entre a época outrora e os tempos atuais, o roteiro faz questão de não deixar dúvidas. E fica impossível não reconhecer algumas das personagens mostradas no palco. O espectador vai, na hora, conseguir lembrar de alguém que já conheceu ou viu passar pela internet. Ou vai pensar em si mesmo. E é aí que mora a chave do sucesso da peça: porque o reconhecimento traz a mudança (ou assim se espera).
Um elenco de se tirar o chapéu
Os cinco atores – Caio Nery, Elis Loureiro, Igor Barros, Isaac Belfort e Sara Chaves – sabem muito bem o que estão fazendo. Dão show em cima do palco. Cantam, atuam e se movimentam de forma emocionante. A cenografia ajuda, claro. Assim como a iluminação. E a coreografia. O espetáculo é apresentado em um espaço pequeno, que ajuda ao espectador se sentir dentro da peça. E a força com que cada elemento está em cena – atuação, música, iluminação, cenário – torna difícil não sentir cada cena como se estivesse acontecendo com si mesmo.
Preciso, porém, destacar dois dos atores: Caio Nery e Sara Chaves. Todos em cena estão visivelmente entregando tudo e fazem um espetáculo lindo de se ver. Mas Caio e Sara sobressaem. Destacam-se por ser possível enxergar a emoção por trás dos personagens, e deixarem a peça ainda mais forte e bonita. São dois jovens atores de 20 e poucos anos que, com certeza, ainda vão longe!
Curtíssima temporada
Se você se interessou em assistir “Benjamin, o palhaço negro”, corre! O espetáculo ficará em cartaz somente até o dia 28 de maio, esse domingo. Como mencionado anteriormente, o espaço é pequeno, portanto os ingressos esgotam rápido. Essa não é a primeira vez que o musical fica em cartaz no Rio de Janeiro. Ano passado teve sessão única em novembro e uma curta estadia em São Paulo. Isso porque é uma peça independente. O que resta ao público, além de assistir às sessões do final de semana, é torcer para conseguirem mais patrocínio para seguirem com essa peça tão importante por mais tempo.
Serviço
Benjamin, o palhaço negro
Onde: Espaço Tápias (Av. Armando Lombardi, 175 – 2º andar – Barra da Tijuca).
Quando: 27 e 28 de maio (sábado e domingo), às 20h.
Idealização e produção: Isaac Belfort
Direção geral e músicas: Tauã Delmiro
Direção musical e músicas: Peterson Ferreira
Coreografia: Marcelo Vittória
Design de luz: JP Meirelles
Design de som: Breno Lobo
Direção residente: Manu Hashimoto
Direção de produção: Sami Fellipe
Coprodução: Produtora Alada
Realização: Belfort Produções e Teçá – Arte e Cultura
Crédito da foto: Paulo Henrique Aragon
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